Você é estudante de Psicologia e ainda tem dúvidas sobre a prática da Psicoterapia de base Psicanalítica? Então encontrou o texto que vai responder algumas das suas principais dúvidas! Aqui, através de tópicos e subtópicos simples, iremos deixar um pouco de lado a linguagem técnica e densa dos escritos de Sigmund Freud, para entender de uma vez por todas como se dá a prática de um atendimento Psicanalítico, bem como o principal objetivo deste. Então vem comigo!
Componentes
O processo de análise possui 3 componentes essenciais:
•Analista: Psicólogo, ou Psicanalista, que tem o papel de acolher, escutar e analisar o discurso apresentado pelo analisando. Caso tenha dúvida quanto a diferenciação dessas duas profissões, Psicólogo e Psicanalista, estas se diferenciam em suas formações. O Psicólogo cursa uma graduação em ensino superior durante 5 anos e pode trabalhar com qualquer técnica psicológica, enquanto o Psicanalista cursa uma graduação em ensino técnico durante 2 anos e só pode trabalhar com a técnica Psicanalítica.
•Analisando: É o paciente, ou cliente, que está submetendo-se ao processo de análise.
•Setting: É o local físico, geralmente um consultório, utilizado para o próprio processo psicoterapêutico. É no Setting que ocorre o firmamento do contrato terapêutico, documento que apresenta as regras e deveres entre o Analista e o Analisando, e também onde se desdobram a anamnese, as sessões e o processo de alta.
Regras
O processo de análise possui como estrutura 4 regras mínimas, criadas e estudadas por Freud entre os anos de 1912 e 1915:
•Regra da Livre Associação de Ideias: Esta regra explicita o direto que o paciente/cliente tem de verbalizar tudo o que lhe vier a mente, seja isto importante ou não, durante o processo de análise.
•Regra da Atenção Flutuante: Esta regra instrui o Analista a não distrair-se, seja nos estímulos internos de seus próprios pensamentos ou nos estímulos externos do Setting terapêutico, durante o processo de escuta frente ao discurso do Analisando.
•Regra da Abstinência: Esta regra instrui o Analista a abster-se de qualquer relação para com o Analisando que não seja a própria relação analítica, o que acaba por torna-lo uma figura anônima dentro do processo analítico.
•Regra da Neutralidade: Esta regra instrui o Analista a ter neutralidade perante o discurso do analisando, ou seja, o Analista, em hipótese alguma, deve deixar seus valores morais, religiosidade ou quaisquer julgamentos interferirem no processo de análise.
Estruturas
O processo de análise possui alguns conceitos que o estruturam, são esses:
•Aparelho Psíquico: O Aparelho Psíquico humano nada mais é que a junção do Cérebro, que possui um corpo físico/visível, e a Consciência, que possui um corpo não físico/invisível. O Cérebro é dividido a partir de sua morfologia, e é regido por sinapses, já a Consciência é dividida em Consciente e Inconsciente, e é regida por mecanismos de defesa. A Psicanálise acontece a partir da análise da Consciência, em específico o Inconsciente.
•Inconsciente: Local da Consciência onde conteúdos de vida são guardados através de mecanismos de defesa. Geralmente estes conteúdos são traumáticos, advindos de fases do desenvolvimento psíquico infantil. O Analista trabalha a partir do inconsciente do Analisando. Para acessar esse Inconsciente é preciso construir um bom vínculo terapêutico, a partir principalmente da Transferência, pois só assim o paciente se sentirá a vontade para fazer um discurso pautado na Associação Livre, e, esta associação, é que trará o conteúdo do Inconsciente para o Consciente.
•Transferência: Fenômeno em que o Analisando transfere ao Analista conteúdos traumáticos, transformando o profissional na pessoa que lhe causou tais conteúdos. Essa Transferência pode ser positiva ou negativa, a depender do terapeuta. Analistas que seguem ao menos as 4 regras mínimas postuladas por Freud tendem a não gerar Contra Transferência, e, assim, acabam por ter uma Transferência mais positiva para com o Analisando. A contra Transferência é um fenômeno que parte do Analista para com o Analisando, onde o profissional acaba por transferir ao paciente/cliente seus próprios traumas, o que pode dificultar o processo da análise.
•Análise da Psique: Ao final da sessão, o Analista precisa analisar o discurso do analisando, conforme o arcabouço teórico da Psicanálise. Essa analise não deve ser feita durante o percurso do discurso, pois pode comprometer a atenção do Analista para com as falas do Analisando, dificultando assim o processo de Transferência. Aqui, indico a leitura das obras de Freud, bem como aa de outros materiais como livros, artigos científicos e dicionários acerca da Psicanálise, para apreender este arcabouço.
Objetivo
O principal objetivo da análise é a cura através da fala, e, para que o Analisando alcance esta cura, é preciso que o processo analítico seja permeado por um bom Analista, que seja capaz de construir um bom elo terapêutico, pois quanto mais conteúdo Inconsciente o Analisando acessar, mais este terá a chance de poder ressignificá-los, formulando, assim, Insights importantes para cessar sintomas psíquicos e psicossomáticos das mais variadas ordens. O Insight nada mais é que a compreensão súbita de um conteúdo antes incompreendido.
Em relação a Análise, é importante destacar, que este processo terapêutico não tem como figura de destaque o Analista, nem muito menos o Analisando, mas sim o próprio discurso, que emerge, conforme explicou Freud, em Recomendações aos Médicos que Exercem a Psicanálise (1912), através da Transferência entre o Inconsciente do Analisando e o Inconsciente do Analista.
Na prática, o objetivo do processo terapêutico Psicanalítico é a emersão do discurso do Inconsciente puro, de ambos os lados, Analisando e Analista, para o Consciente, sem as interferências da Consciência. Só assim o Analista poderá interferir apenas quando for pertinente, sintetizando e mostrando o sentido das falas expressadas pelo Analisando, através do próprio conteúdo Inconsciente trazido agora ao Consciente, possibilitando uma Análise eficaz frente a sintomatologia psíquica encontrada no Setting.
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Referências
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