A Estratégia de Saúde da Família (ESF), como o próprio nome já diz, foi criada com intuito de cuidar do indivíduo, da família e da comunidade. Conforme a Política Nacional de Atenção Básica- PNAB- (2012), a Atenção Básica visa desenvolver atenção integral à saúde das pessoas.
Para o funcionamento da ESF, são necessários, no mínimo, médico generalista ou especialista em Saúde da Família, enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde (PNAB, 2012).
Partindo desse ponto, já fica visível que o enfermeiro tem extrema importância para o funcionamento dentro da ESF. O enfermeiro executa diversas funções para o adequado funcionamento da ESF, como consultas de enfermagem, realização de procedimentos, planejamento, organização e realização de ações de saúde, educação em saúde, participa do Programa Saúde na Escola (PSE), planeja campanhas de vacinação, organiza os recursos humanos e materiais da unidade, solicitação de exames complementares, entre outras atividades.
O trabalho do enfermeiro em ESF, vai muito além dos atendimentos dentro da unidade, pois o mesmo vai em busca de conhecer melhor a área adscrita, estar próximo a comunidade, mobilização social, identificar carências como falta de alimentos e roupas, realizar encontros em grupos para ouvir a comunidade e construção de políticas públicas (CORRÊA; ACIOLI; TINOCO, 2018).
A ESF, como parte da rede pública do Sistema Único de Saúde (SUS), deve ser fortalecida como bem público, de acesso universal. Com isso, o enfermeiro deve buscar meios de fortalecer o serviço, defender o SUS, proporcionar cuidado com equidade, buscar por aqueles usuários em maior risco de vulnerabilidade social.
O acolhimento e criação de vínculo, facilitam o trabalho do enfermeiro junto à comunidade. A seguir serão discutidas algumas temáticas de trabalho do enfermeiro da ESF.
Comunidade
Como visto anteriormente, para o funcionamento da ESF, também é necessária a presença de Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Esses são responsáveis pela aproximação da ESF com a comunidade. De acordo com a PNAB, cada agente comunitário tem um território definido, podendo ser responsável por visitar até 750 pessoas.
Ao enfermeiro cabe supervisionar, coordenar e realizar atividades de educação permanente dos ACS. Com isso, o enfermeiro da ESF deve ter seu processo de trabalho alinhado junto ao ACS, observando problemáticas, necessidades, potencialidades e realizar educação em saúde (DOS SANTOS; FRANCO; SOUZA, 2020). Além disso, o enfermeiro deve realizar reuniões periódicas com os ACSs, com o objetivo de identificar as problemáticas do território, traçar metas e caminhos para o cuidado, programar visitas domiciliares e se necessário criar um projeto terapêutico singular.
A realização da visita domiciliar pelo enfermeiro, permite maior contato com a comunidade, principalmente com aqueles que não frequentam a unidade. Com isso, o mesmo tem a possibilidade de planejar a atividade, avaliar as condições de saúde da família e propor condutas, desenvolvendo suas ações de modo ampliado. Permite ainda ao enfermeiro conhecer o contexto social e as necessidades de indivíduos e famílias (ACIOLI et al., 2014). Além disso, o enfermeiro realiza a visita domiciliar àqueles pacientes impossibilitados de ir a ESF, assim o enfermeiro, junto a sua equipe de saúde de desloca ao domicilio do usuário para a prestação do cuidado com a realização de procedimentos como curativos, por exemplo.
Programa Saúde na Escola
O programa saúde na escola, resulta do trabalho integrado entre Ministério da Saúde e Ministério da Educação. O programa oportuniza acesso as crianças e adolescentes da rede pública de educação, as ações do programa se dão por avaliação clínica e psicossocial, sendo que podem ser realizadas outras ações de saúde no ambiente escolar, junto a ESF, na promoção a saúde, visto que o ambiente escolar se torna muito rico para essa prática (BRASIL, 2008).
Desta forma, o enfermeiro da ESF, do território da escola, atua no PSE e desenvolve ações em saúde, principalmente voltadas à prevenção de doenças e agravos, sexualidade, saúde reprodutiva, hábitos saudáveis de vida e reabilitação da saúde.
Segundo Diniz et al., (2020), o PSE promove espaços de promoção, prevenção e atenção à saúde, entre crianças e adolescentes. Desta forma, a educação em saúde causa conscientização no ambiente escolar, por meio de palestras, aulas, atividades práticas, estimula o cuidado em saúde. Ainda, orientando para que os estudantes em caso de algum agravo em saúde procurem a unidade de saúde de forma precoce.
Ordenador da Rede
As redes de atenção à saúde (RAS), são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde. As redes têm foco na população de forma integral, por meio do cuidado contínuo e a integralidade da atenção à saúde nos diferentes níveis Atenção Primária, Secundária e Terciária, por meio da Portaria de Consolidação nº 03, de 28 de setembro de 2017 (BRASIL, 2019). A atenção primária tem o papel de ser a ordenadora da rede, sendo assim o enfermeiro contribui para a execução junto a equipe multiprofissional.
Para o adequado funcionamento da rede é necessário conhecimento dos mecanismos da mesma, diálogo entre os profissionais dos diferentes níveis de atenção, comprometimento da atenção primária com papel de ordenador e colocação do usuário com centralidade do cuidado. As RAS, preconizam ainda que a atenção primária seja a porta de entrada do usuário nos serviços de saúde, dessa forma a mesma deve oportunizar acesso aos usuários.
Conforme Ensslin & De Quevedo (2020), a ordenação da rede e coordenação do cuidado por enfermeiros de ESF, contribui para o acesso dos usuários através de uma equipe qualificada e bem relacionada com a comunidade. Mas, existem problemáticas como longo tempo de espera para atendimento na atenção secundária e terciária em saúde, bem como o subfinanciamento público.
COVID-19
Em tempos de pandemia está muito evidente o processo de trabalho do enfermeiro, principalmente aquele que atua em UTI. Mas o enfermeiro de ESF, não é diferente, está na linha de frente da mesma forma, com suas unidades de portas abertas, realizando o diagnóstico precoce da doença, tomando medidas de isolamento e prestando cuidado para que esse usuário não necessite de uma UTI, com isso é fundamental o trabalho do enfermeiro na atenção básica por a mesma ser a porta de entrada aos serviços.
Vale lembrar, que passamos por uma situação de calamidade devido a pandemia, mas os outros usuários continuam a buscar as unidades de saúde, como por exemplo os doentes crônicos que necessitam de acompanhamento rotineiro.
O enfermeiro organiza o trabalho de sua equipe de saúde, visando que as ações em saúde reduzam a contaminação em seu território. Junto a isso, a equipe trabalha voltada à identificação precoce de sinais e sintomas de coronavírus na comunidade. Orientar profissionais e usuários quanto ao controle e agravos que a COVID-19 pode causar, fazer a notificação, monitorar e identificar os casos suspeitos.
Em alguns lugares do Brasil, a vacinação contra a Covid-19 está ocorrendo nas ESFs. Com isso, o papel do enfermeiro se torna fundamental nesse processo, onde receberá as doses da vacina dos órgãos responsáveis, planejará e organizará como vai ocorrer a mesma, em qual local, quais profissionais ficarão responsáveis e como organizará a população.
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REFERÊNCIAS
ACIOLI, S. et al. Práticas de cuidado: o papel do enfermeiro na atenção básica. Rev Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 5, p. 637-642, 2014.
BRASIL. Ministério da Saúde; Ministério da Educação. Programa Saúde na Escola. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2008.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília, 2012.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Serviços estaduais. As Redes de Atenção à Saúde. Brasília, 2019.
CORRÊA, V. A. F.; ACIOLI, S.; TINOCO T. F. Cuidado do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família: práticas e fundamentações teóricas. Rev Bras Enferm [Internet];71(suppl 6):2932-39, Brasília, 2018.
DOS SANTOS, S. G.; FRANCO, D. S. C. S.; SOUZA, L. F. D. A importância da enfermeira na educação permanente do Agente Comunitário de Saúde (ACS) na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Braz. J. of Develop., v.6, n.12, p.98517-98533, Curitiba, 2020.
DINIZ, C. B. C. et al. Acompanhamento nutricional de adolescentes no Programa Saúde na Escola. Journal of Human Growth and Development. v. 30, n. 1, p. 32-39, 2020.
ENSSLIN, R. C. C.; DE QUEVEDO, A. L. A. Coordenação do cuidado e ordenação das redes de atenção à saúde: estudo qualitativo com trabalhadores de nível superior da Estratégia Saúde da Família. Research, Society and Development, v. 9, n.9, e536997609, Vargem Grande Paulista, 2020.