Ideação suicida X Comportamento Suicida
A Ideação suicida se refere aos pensamentos de morte que podem ser acompanhados de planos estruturados ou não. O indivíduo apresenta ideias de morte passageiras, pensamentos de que a vida não vale a pena ser vivida ou mesmo de indagações sobre o sentido da vida. É uma situação que requer intervenção imediata justamente para evitar com que tais pensamentos evoluam para o ato em si.
O comportamento suicida por sua vez, engloba especificamente aspectos como: ideação, planos e o ato em si. Neste sentido, o comportamento suicida inclui o suicídio consumado e a tentativa de suicídio. O Suicídio consumado é um ato intencional de autoagressão que resulta em morte. E a tentativa de suicídio é um ato de autoagressão cuja intenção é a morte, que acaba não ocorrendo. Uma tentativa de suicídio pode ou não resultar em lesão.
Neste aspecto, inicialmente, o que se pode fazer com o paciente que apresenta ideação suicida é:
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Reservar um lugar adequado, onde uma conversa tranquila possa ser mantida com privacidade;
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Reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida necessitam de mais tempo para elaborar a ambivalência de sentimentos;
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Empatia com as emoções;
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Ouça com cordialidade;
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Trate com respeito;
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Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito;
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Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa.
Lembre-se de que a atitude de acolher, ser empático e ouvir o outro sem julgamentos pode ser feito por qualquer profissional de saúde e não necessariamente apenas o Psicólogo. Assim, os demais profissionais podem intervir no acolhimento da demanda e posteriormente encaminhar ao profissional de saúde mental que é capacitado para lidar especificamente com estas situações. Lembre-se: O ser humano é multideterminado e diversas áreas de atuação perpassam a vida do paciente.
Formulação do risco de suicídio
Avaliar o risco de suicídio é buscar entender, conforme o relato do paciente, o grau de pensamentos sobre morte que ele possui e assim, propor estratégias de manejo adequadas conforme as necessidades. Não se trata de prever quem pode ou não se matar. Trata-se de um julgamento clínico que busca avaliar e priorizar as ações direcionadas ao paciente. Neste entendimento, é relevante abordar as 3 gradações de risco de suicídio conforme Botega (2015) aponta:
Risco baixo
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Nunca tentou suicídio;
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Ideias de suicídio são passageiras e perturbadoras;
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Não planeja como se matar;
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Transtorno mental, se presente, com sintomas bem controlados;
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Boa adesão ao tratamento;
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Tem vida e apoio sociais.
O que fazer?
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Oferecer apoio emocional; trabalhar sobre os sentimentos que motivam a autoagressão (por ex., automutilação) e/ou pensamentos suicidas;
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Focalizar nos aspectos positivos;
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Levar a pessoa à autorreflexão;
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Manter encontros regulares;
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Indicar inserção em atividades comunitárias/grupos/oficinas.
Risco moderado
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Tentativa de suicídio prévia;
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Depressão ou transtorno bipolar;
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Ideias persistentes de suicídio vistas como solução;
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Não tem um plano de como se matar;
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Não é uma pessoa impulsiva;
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Não abusa/depende de álcool ou drogas;
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Conta com apoio social.
O que fazer?
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Oferecer apoio emocional;
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Trabalhar sobre os sentimentos que motivam os pensamentos suicidas;
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Focar na ambivalência do desejo e explorar alternativas;
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Chamar um familiar/responsável.
Risco alto
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Tentativa de suicídio prévia;
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Depressão grave, influência de delírio ou alucinação;
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Abuso/ dependência de álcool
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Desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída;
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Plano definido de se matar;
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Tem meios de como fazê-lo;
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Já tomou providências para o ato suicida.
O que fazer?
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Acolher;
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Prestar os primeiros cuidados;
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Chamar um familiar/responsável;
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Não deixar a pessoa sozinha e encaminhar ao serviço de referência de urgência e emergência;
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Manter contato regular;
Diante dos apontamentos supracitados, ressalta-se que a formulação de risco só se torna possível após uma avaliação clínica cuidadosa e sistemática do caso. Portanto, é relevante entender que o suicídio não é um diagnóstico nem transtorno mental. Trata-se de um comportamento caracterizado pela ideação e o ato deliberado de autoaniquilação. É um fenômeno multideterminado e cada caso e contexto merecem uma avaliação e intervenção eficaz por parte do profissional.
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Referências
BOTEGA, Neury, José. Crise Suicida. Avaliação e Manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Organização: Carlos Felipe D’Oliveira e Neury José Botega. Brasília, 2006. Disponível em: < https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1241.pdf>. Acesso em: 4, jun,2020.