Só quero dormir para sempre! O que fazer diante de um paciente com ideação suicida? | Colunista

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Ideação suicida X Comportamento Suicida

A Ideação suicida se refere aos pensamentos de morte que podem ser acompanhados de planos estruturados ou não. O indivíduo apresenta ideias de morte passageiras, pensamentos de que a vida não vale a pena ser vivida ou mesmo de indagações sobre o sentido da vida. É uma situação que requer intervenção imediata justamente para evitar com que tais pensamentos evoluam para o ato em si.

O comportamento suicida por sua vez, engloba especificamente aspectos como: ideação, planos e o ato em si. Neste sentido, o comportamento suicida inclui o suicídio consumado e a tentativa de suicídio. O Suicídio consumado é um ato intencional de autoagressão que resulta em morte. E a tentativa de suicídio é um ato de autoagressão cuja intenção é a morte, que acaba não ocorrendo. Uma tentativa de suicídio pode ou não resultar em lesão.

Neste aspecto, inicialmente, o que se pode fazer com o paciente que apresenta ideação suicida é:

  • Reservar um lugar adequado, onde uma conversa tranquila possa ser mantida com privacidade;

  • Reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida necessitam de mais tempo para elaborar a ambivalência de sentimentos;

  • Empatia com as emoções;

  • Ouça com cordialidade;

  • Trate com respeito;

  • Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito;

  • Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa.

 

Lembre-se de que a atitude de acolher, ser empático e ouvir o outro sem julgamentos pode ser feito por qualquer profissional de saúde e não necessariamente apenas o Psicólogo. Assim, os demais profissionais podem intervir no acolhimento da demanda e posteriormente encaminhar ao profissional de saúde mental que é capacitado para lidar especificamente com estas situações. Lembre-se: O ser humano é multideterminado e diversas áreas de atuação perpassam a vida do paciente.

Formulação do risco de suicídio

Avaliar o risco de suicídio é buscar entender, conforme o relato do paciente, o grau de pensamentos sobre morte que ele possui e assim, propor estratégias de manejo adequadas conforme as necessidades. Não se trata de prever quem pode ou não se matar. Trata-se de um julgamento clínico que busca avaliar e priorizar as ações direcionadas ao paciente. Neste entendimento, é relevante abordar as 3 gradações de risco de suicídio conforme Botega (2015) aponta:

Risco baixo

  • Nunca tentou suicídio;

  • Ideias de suicídio são passageiras e perturbadoras;

  • Não planeja como se matar;

  • Transtorno mental, se presente, com sintomas bem controlados;

  • Boa adesão ao tratamento;

  • Tem vida e apoio sociais.

O que fazer?

  • Oferecer apoio emocional; trabalhar sobre os sentimentos que motivam a autoagressão (por ex., automutilação) e/ou pensamentos suicidas; 

  • Focalizar nos aspectos positivos; 

  • Levar a pessoa à autorreflexão; 

  • Manter encontros regulares; 

  • Indicar inserção em atividades comunitárias/grupos/oficinas.

Risco moderado

  • Tentativa de suicídio prévia;

  • Depressão ou transtorno bipolar;

  • Ideias persistentes de suicídio vistas como solução;

  • Não tem um plano de como se matar;

  • Não é uma pessoa impulsiva;

  • Não abusa/depende de álcool ou drogas;

  • Conta com apoio social.

O que fazer?

  • Oferecer apoio emocional; 

  • Trabalhar sobre os sentimentos que motivam os pensamentos suicidas; 

  • Focar na ambivalência do desejo e explorar alternativas; 

  • Chamar um familiar/responsável. 

Risco alto

  • Tentativa de suicídio prévia;

  • Depressão grave, influência de delírio ou alucinação;

  • Abuso/ dependência de álcool

  • Desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída;

  • Plano definido de se matar;

  • Tem meios de como fazê-lo;

  • Já tomou providências para o ato suicida.

O que fazer?

  • Acolher;

  • Prestar os primeiros cuidados;

  • Chamar um familiar/responsável;

  • Não deixar a pessoa sozinha e encaminhar ao serviço de referência de urgência e emergência; 

  • Manter contato regular;

Diante dos apontamentos supracitados, ressalta-se que a formulação de risco só se torna possível após uma avaliação clínica cuidadosa e sistemática do caso. Portanto, é relevante entender que o suicídio não é um diagnóstico nem transtorno mental. Trata-se de um comportamento caracterizado pela ideação e o ato deliberado de autoaniquilação. É um fenômeno multideterminado e cada caso e contexto merecem uma avaliação e intervenção eficaz por parte do profissional.

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Referências

BOTEGA, Neury, José. Crise Suicida. Avaliação e Manejo. Porto Alegre: Artmed, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Organização: Carlos Felipe D’Oliveira e Neury José Botega. Brasília, 2006. Disponível em: < https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1241.pdf>. Acesso em: 4, jun,2020.