Modelo Cognitivo
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) tem como base três principais preceitos: 1) A cognição afeta o comportamento; 2) Ela pode ser monitorada e alterada e 3) A alteração na cognição levará a mudança no comportamento. A partir disso, é desenvolvido então o Modelo Cognitivo, sendo ele um modelo de trabalho utilizado na TCC que enfatiza a interrelação entre os acontecimentos, pensamentos (cognição), comportamentos, emoções e reações fisiológicas, como representado na figura abaixo:
Além disso, outro aspecto levado em consideração é a existência de níveis de processamento cognitivo, sendo eles: pensamentos automáticos, crenças subjacentes e crenças nucleares, como evidenciado na figura a seguir:
Na hierarquia da cognição, os pensamentos automáticos serão o nível mais superficial. Além disso, são situacionais, podendo ser ativados por eventos externos ou internos, em forma de pensamento ou imagem. Em geral, passam tão rapidamente pela consciência que não são alvo de uma avaliação crítica, sendo então aceito pelo indivíduo (“Ele não atendeu a minha ligação, pois está me traindo”). Os pensamentos automáticos serão os primeiros aspectos abordados em terapia devido a sua facilidade de acesso e de modificação.
As crenças subjacentes serão o nível intermediário dessa hierarquia, são regras ou premissas básicas que guiarão a conduta e as atitudes do sujeito garantindo que ele não entre em contato ou confirme suas crenças nucleares disfuncionais. Podem ser identificadas na forma se-então (“Se eu não relacionar com ninguém, então não me decepcionarei”).
O último nível de processamento serão as crenças nucleares. Estas são as ideias mais enraizadas e rígidas que possuímos de nós mesmos, das pessoas e do mundo. São incondicionais, ou seja, não dependem de uma situação específica para serem ativadas, pois elas são construídas desde muito cedo, ainda na infância e se fortalecem ao longo da vida (“Não sou digna de ser amada”).
A partir do momento em que as crenças nucleares passam a ser ativadas, elas comprometem o processamento de informação, pois este torna-se tendencioso, levando em conta somente informações que afirmem aquela ideia geral e negligenciando evidências que sejam contrárias. No processo de psicoterapia o objetivo final é ter acesso as crenças nucleares, modificando e reestruturando aquelas que são disfuncionais.
Conceitualização cognitiva
Constitui-se como um procedimento crucial para a condução da psicoterapia, pois reúne as principais informações do paciente, auxiliando na escolha das intervenções terapêuticas que seriam mais adequadas para aquele caso. A conceitualização de caso é construída no momento inicial do tratamento e é complementada durante todo o processo com outras informações que forem relevantes.
Através da construção da conceitualização de caso é possível obter uma visão mais ampla sobre o paciente de modo a não focar somente em um conjunto de sintomas. Através dos dados coletados será construída uma hipótese de trabalho, dando um melhor direcionamento ao processo de psicoterapia. Vale ressaltar que assim como a coleta de dados é contínua, a formulação de hipóteses também será, podendo ser modificada e até substituída se necessário, de acordo com a condução do caso.
Em geral, as informações coletas envolverão: dados pessoais, queixas e problemas atuais, histórico do diagnóstico trazido, fatores desencadeantes, estratégias de enfrentamento (atuais e passadas, adaptativas e desadaptativas), história psiquiátrica do paciente e da família (hospitalizações, medicações, tentativas de suicídio), histórico médico, histórico de abuso de substâncias, história do desenvolvimento, histórico social, educacional e religioso. Além disso, é interessante solicitar que o paciente relate um dia típico de sua vida, pois assim o psicólogo conseguirá identificar fatores relacionados as relações interpessoais, as possíveis variações de humor que possam existir e como é o funcionamento em relação a alimentação, sono e socialização.
Na conceitualização de caso também serão adicionadas informações em relação aos pensamentos automáticos, crenças intermediárias e crenças nucleares. Será levado em conta também a percepção que o paciente tem sobre o seu momento atual e quais estratégias que ele tem utilizado para lidar com as queixas trazidas.
Por fim, a partir dessas informações, poderá ficar claro para o psicólogo se ele é o melhor profissional para lidar com aquelas questões apresentadas, bem como qual a periodicidade ideal das sessões e se haverá a necessidade de algum encaminhamento ou indicação de tratamento concomitante.
Principais técnicas
Automonitoramento: Será determinado pelo paciente e pelo terapeuta, de acordo com as queixas trazidas, um comportamento (Ex: beber), pensamento (Ex: autocrítica excessiva) ou emoção (Ex: variações de humor) específicos na qual o indivíduo deverá monitorar naquela semana, observando quantas vezes se engaja em fazer aquilo. Através dessa técnica será possível aumentar a consciência do paciente sobre o que está sendo feito, fazendo com que ele identifique os padrões existentes e possa ter autocontrole;
Treinamento de relaxamento: Pode ser feito na sessão ou ensinado ao paciente para que ele aplique em casa. Serão exercícios que buscam relaxar diferentes grupos musculares em sequência. É possível também incluir exercícios de respiração;
Reatribuição: Utilizada quando o paciente possui dificuldade em ver a responsabilidade de determinada pessoa ou evento sobre algum fator, atribuindo toda a culpa a si mesmo. Essa técnica pode ser executada utilizando uma representação gráfica (técnica da torta) na qual será mensurado o nível de responsabilidade de cada elemento. Ao conseguir fazer essa distribuição, o paciente pode se aliviar de determinada culpa ou raiva;
Ensaio comportamental: Paciente e terapeuta dramatizam determinado comportamento para que o indivíduo saiba como executar fora da terapia (Ex: como dizer de maneira adequada a alguém que não gostei de determinada atitude; como me portar na minha apresentação de monografia estando nervosa);
Registro de pensamentos disfuncionais (RPD): São construídas colunas, podendo ser: situação, o que pensei naquele momento (pensamento automático), evidências que comprovam o meu pensamento, evidências que negam o meu pensamento, o que senti (emoção), o que fiz (comportamento)… Através desse exercício diante das situações, o paciente aprende o que são pensamentos automáticos e como avaliá-los;
Psicoeducação: Fornecer informações ao paciente sobre determinado aspecto em uma linguagem acessível. Pode ser utilizada no entendimento sobre o transtorno que ele possui, por exemplo. É possível ensinar a respeito dos sintomas e apresentar evidências científicas sobre as causas. Essa técnica auxilia corrigir interpretações equivocadas que possam existir;
É importante ressaltar que as técnicas destacadas no presente texto são aquelas que comumente são apresentadas nas principais bibliografias sobre TCC. Além disso, para conhecer um pouco mais sobre essa linha da Psicologia, recomendo a leitura de um dos textos presentes aqui na Sanar que também trata sobre o assunto, você pode encontrar o link aqui. Bons estudos!
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Referências Bibliográficas
BECK, J. S. Introdução à Terapia Cognitivo-Comportamental. ____ Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2013, 2. ed., p. 21-38
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KNAPP, P. Princípios fundamentais da terapia cognitiva. ____ Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 19-41.
WRIGHT, J. H.; BASCO, M. R.; THASE, M. E. Princípios básicos da terapia cognitivo-comportamental. ____ Aprendendo a terapia cognitivo-comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 15-32.