O impacto do uso racional de medicamentos na automedicação | Colunista

Você sabe por que é tão importante seguir a farmacoterapia da maneira prescrita e orientada por profissionais? Sabe como uma simples Aspirina® (ácido acetilsalicílico), se tomada da maneira incorreta, pode acabar se tornando prejudicial? Essas e outras perguntas podem ser respondidas baseadas no uso racional de medicamentos. 

Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) em 2014, em 12 capitais brasileiras, 76,4% da população brasileira toma medicamentos a partir da indicação de familiares e amigos. Sendo que, 32% da população compra medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs) de forma autônoma e 33% compra baseado na orientação de balconistas, sem o auxílio do farmacêutico. Esses dados são relevantes, considerando que eles envolvem a automedicação, prática muito comum que pode causar problemas de saúde maiores, vindos de uma indicação e compra incorreta de medicamentos. 

A automedicação se deve à facilidade na comercialização e a banalização da compra de medicamentos, além da própria cultura da população. É muito prático ir até à farmácia e comprar anti-inflamatórios, analgésicos, calmantes para aliviar algum sintoma ou para dormir melhor, sem pensar nos riscos que essa ação pode ter. 

O ato de comprar medicamentos sem orientação profissional se dá entre outros fatores pela quantidade de informações que tem na internet e a facilidade de comprar medicamentos sem receita nas drogarias. Uma simples busca e as pessoas se auto diagnosticam e compram medicamentos por conta própria, sem qualquer orientação profissional. Os riscos envolvidos nessa prática são muitos, entre eles, pode-se citar: 

  • Intoxicação; 

  • Alergias ao ativo ou outros componentes da fórmula;

  • Interação com outros medicamentos de uso contínuo: pode tanto potencializar quanto anular os seus efeitos; 

  • Esconde a verdadeira causa: alívio imediato de um sintoma que pode estar relacionado com uma doença mais grave. A doença pode piorar com o passar do tempo, já que não foi eliminada a causa real; 

  • Dependência: o risco de dependência pode ser alto se a substância for ingerida em doses incorretas e por um longo tempo; 

  • Resistência: se antibióticos forem tomados incorretamente, alguns microrganismos podem se tornar resistentes ao medicamento e ele não terá o efeito desejado em uma próxima infecção;

  • Tolerância: tomar medicamentos incorretamente por um longo período e de forma desnecessária pode aumentar a chance de tolerância, fenômeno no qual há uma perda de resposta frente a um tratamento progressivo. Ela ocorre por diversos mecanismos e o medicamento passa a não fazer mais efeito, necessitando de doses cada vez maiores. 

Um bom exemplo está num medicamento muito utilizado pela população de maneira corriqueira, a Aspirina®. De venda livre, ela é muito utilizada para dor e febre, mas tem algumas contraindicações e reações adversas importantes que muitas vezes o consumidor não sabe. Sua ingestão pode causar problemas maiores se utilizada sem orientação, principalmente relacionados com a coagulação sanguínea, distúrbios gastrointestinais, alteração da função renal (maior cuidado nos hipertensos) e broncoespamos em pacientes com histórico de resposta alérgica e asmáticos com está pré-disposição. 

Além de todos esses riscos, a automedicação permite o acúmulo de medicamentos em casa, que vencem ou degradam por mau armazenamento, e seu uso pode ocasionar problemas à saúde. Portanto, os riscos da automedicação são reais, mas podem ser evitados pelo uso racional de medicamentos, que envolve a escolha adequada do medicamento, conforme o diagnóstico, contraindicações, interações medicamentosas e minimização de reações adversas. Ao medicamento ser dispensando, o paciente deve ser informado sobre o esquema terapêutico e sobre as possíveis reações adversas do tratamento, aumentando a sua adesão. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso racional de medicamentos ocorre quando “os pacientes recebem medicamentos apropriados para suas condições clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade”. Além da orientação dos profissionais de saúde, o que o próprio paciente pode fazer para auxiliar na escolha do seu tratamento e ajudar na promoção do uso racional? 

A primeira orientação é que não se deve comprar medicamentos indicados por familiares ou amigos, somente sob a orientação médica ou do farmacêutico, evitando a automedicação e, portanto, os problemas que podem vir a ocorrer. Em uma consulta é importante que o paciente diga todos os medicamentos em uso, reações já observadas, conhecimento de alguma alergia, medicamentos que não conseguiu usar e o motivo, doenças na família, se pretende engravidar ou se já está grávida, se faz prática de atividades físicas, fuma ou ingere bebidas alcoólicas. Com essas informações, o profissional poderá fazer a melhor escolha do tratamento. 

Além disso, na farmácia, qualquer dúvida deve ser perguntada ao profissional disponível, como quando tomar o medicamento, se ele interage com alguma outra medicação ou quais cuidados devem ser tomados no armazenamento. Importante também lembrar que na dúvida, comprimidos não devem ser partidos e cápsulas não podem ser abertas. O farmacêutico é o profissional mais qualificado para auxiliar os pacientes e deve ser procurado para que não haja dúvidas quanto ao tratamento. Dessa forma, o uso racional de medicamentos é alcançado por meio da decisão da farmacoterapia adequada e da correta orientação ao paciente, nas quais somente profissionais qualificados tem o conhecimento necessário para dar. 

A promoção do uso racional de medicamentos, entre outras coisas, evita além da automedicação, o uso indiscriminado de medicamentos, que contribui para tratamentos mais seguros. O farmacêutico tem papel essencial na dispensação e orientação do tratamento correto. Sendo o profissional da saúde mais disponível no dia a dia da população, deve-se aumentar cada vez mais o acesso das pessoas à atenção farmacêutica, para que continue a promoção de tratamentos eficazes e de qualidade a um maior número possível de pessoas e também para ensinar quanto à importância do uso consciente de medicamentos. 

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Referências: 

ASPIRINA: a?cido acetilsalici?lico. Dra. Dirce Eiko Mimura. Bitterfeld-Wolfen: Bayer Bitterfeld GmbH, 2020. Bula de remédio.

BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Automedicação. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/255_automedicacao.html. Acesso em: 3 out. 2020.

CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE MATO GROSSO. A Importância do Uso Racional de Medicamentos . Disponível em: http://crfmt.org.br/a-importancia-do-uso-racional-de-medicamentos/. Acesso em: 3 out. 2020.

ICTQ. Uso Irracional de Medicamentos. Disponível em: https://www.ictq.com.br/opiniao/460-uso-irracional-de-medicamentos. Acesso em: 3 out. 2020.

JOÃO, W. D. S. J. Reflexões sobre o Uso Racional de Medicamentos. Pharmacia Brasileira, n. 78, p. 15-16, out./2010. Disponível em: https://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/128/015a016_artigo_dr_walter.pdf. Acesso em: 3 out. 2020.

PFIZER. Os Riscos Da Automedicação. Disponível em: https://www.pfizer.com.br/noticias/ultimas-noticias/os-riscos-da-automedicacao. Acesso em: 3 out. 2020.

MINISTÉRIO DA SAÚDE.  Cartilha para a promoção do uso racional de medicamentos. Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde, Brasília, DF, n. 1, p. 1-28, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_promocao_uso_racional_medicamentos.pdf. Acesso em: 3 out. 2020.