A prática desportiva ocasiona riscos para os traumatismos orofaciais e, para evitá-los, mecanismos preventivos são necessários. O crescimento do número de praticantes nas atividades esportivas mundialmente, trouxe o aumento da incidência de traumatismos de forma substancial. Dados publicados pela National Youth Sports Safety Foundation (2006), relataram que atletas têm 10% de chance de sofrer um evento traumático orofacial em cada temporada de jogos e entre 33% e 56% de chance durante a sua carreira esportiva.
Os principais traumatismos atingem as articulações temporomandibulares (ATM), traumatismos dentários e ósseos, com presença de lacerações bucais e cortes perfuro-contusos acompanhados de escoriações. (FRONZA, HP. 2019)
As causas etiológicas estão relacionadas a forças mecânicas, campeonatos e treinos profissionais e amadores são as que acometem casos de acidentes por traumatismos orofaciais. Os equipamentos esportivos também quando não bem avaliados são uma das causas principais para acidentes, já que fatores cinéticos como a direção, a velocidade e a força de impacto influenciam fortemente, além de características como a massa, o material de fabricação, o tamanho e a resiliência dos equipamentos.
A bola é um agente traumatizante, muito relevante em esportes que utilizam grandes velocidades, quanto menor o comprimento da bola maior será o traumatismo. Os tacos e as raquetes também são equipamentos característicos a modalidade que são capazes de influenciar nos traumas orofaciais. Práticas de boxe e luta livre são os maiores entres os casos de traumatologia e fraturas dos ossos da face.
Segundo Cordeiro, et. al., (2018), as práticas de surf também apresentaram um grande número de acidentes esportivos com prevalência de lesões buco faciais em surfistas profissionais e amadores em Fortaleza, Ceará. Sendo as principais lesões ocorridas: fraturas faciais, avulsão dentária, laceração labial e queimaduras.
O objetivo deste estudo busca apresentar a importância da odontologia do esporte para atletas e amadores, com objetivo de alertar a sociedade sobre os principais traumas ocorridos na prática esportiva, métodos de prevenção e tratamentos realizados pelos odontólogos aos pacientes acometidos por trauma e disfunção temporomandibular.
A metodologia utilizada foi uma busca de dados eletrônicos como Scielo, Lilacs e PUBMED em artigos científicos publicados nos últimos 05 anos utilizando os descritores: Traumatismos em Atletas, Medicina Esportiva, Lesões Esportivas.
Odontologia do esporte
A RESOLUÇÃO CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA – CFO Nº 160 DE 02.10.2015, reconhece a Odontologia do Esporte como especialidades odontológicas. No Art. 4º. a Odontologia do Esporte é a área de atuação do cirurgião-dentista que inclui segmentos teóricos e práticos da Odontologia, com o objetivo de investigar, prevenir, tratar, reabilitar e compreender a influência das doenças da cavidade bucal no desempenho dos atletas profissionais e amadores, com a finalidade de melhorar o rendimento esportivo e prevenir lesões, considerando as particularidades fisiológicas dos atletas, a modalidade que praticam e as regras do esporte.
Em parágrafo único, as áreas de competência do especialista em Odontologia do Esporte incluem:
a) Atuar dentro dos preceitos da Odontologia no paciente atleta, considerando a sua saúde bucal, e, por extensão, sua saúde geral;
b) Prevenir e proteger, por meio de planejamento, a confecção de dispositivos preventivos, protetores e otimizadores, intra e extra oral do desempenho esportivo;
c) Fazer avaliações para a prevenção da saúde bucal do atleta;
d) Atendimento inicial no local do evento e tratamento dos acidentes orofaciais;
e) Correta prescrição de drogas que possam causar o doping positivo;
f) Aplicar metodologia para detecção de doping e estresse pela saliva;
g) Orientar os treinadores, técnicos e dirigentes com informações a respeito de procedimentos de urgência e uso de acessórios de proteção indicados para cada modalidade esportiva;
h) Atuar profissionalmente tanto em treinos como nas competições de diferentes modalidades esportivas; e,
i) Promover campanhas de educação e prevenção de saúde bucal para os atletas.
A odontologia do esporte de alto rendimento é um recurso de saúde individual, mas, sobretudo, uma ferramenta de prevenção em relação a lesões musculares, articulares e de ligamentos, enfim é a medicina que cuida da cavidade bucal do atleta, para as equipes de base e profissionais de qualquer clube, associação, federação e confederações esportivas.
A Medicina Esportiva é uma especialidade médica que apresenta uma forte evidência multidisciplinar, que envolve o atendimento em todas as faixas etárias; da criança ao idoso, tanto da população em geral, quanto de atletas de alto rendimento em jogos competitivos entre clubes, maratonas ou aventura; e até mesmo nas Olimpíadas. (Pastore, et. al., 2017)
Medidas preventivas são essenciais, as quais incluem o uso do cinto de segurança em automóveis e uso de roupas protetoras ao participar de esportes de contato, sendo uma tentativa de reduzir o número de traumatismos à cabeça, à face e aos tecidos orais.
Os capacetes, as máscaras faciais e os protetores bucais são recomendados como meios de reduzir ou impedir as lesões orofaciais, assim como para diminuir significativamente as concussões, hemorragias cerebrais, perda de consciência e outras lesões mais graves relacionadas ao sistema nervoso central, as quais podem levar ao óbito.
Os protetores bucais protegem os dentes, tecidos moles e outras estruturas intra orais, amortecendo e distribuindo o impacto na parte superior, protegendo os tecidos moles e dentes anteriores, e na parte inferior, evitando contusões ou fraturas mandibulares, deslocamentos e traumas na articulação temporomandibular. (BARBERIN, 2002)
Dentro destas características, os protetores bucais podem ser classificados em três tipos:
A. De estoque ou universais (“stock”).
B. Feitos na boca ou pré-fabricados (“mouthformed”).
C. Feitos sob medida ou sob encomenda (“custom-made”)
Fig. 1 – Protetor Bucal
Fonte:http://institutonewtonribeiro.com.br/wp-content/uploads/2015/07/AP-Protetor-Bucal2.jpg
Lesões orofaciais decorrentes da prática desportiva
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre os traumatismos orofaciais, as lesões que mais se destacam em atletas são as lacerações teciduais e o traumatismo dentário, fratura de esmalte; fratura de coroa sem envolvimento pulpar; fratura de coroa com envolvimento pulpar; fratura radicular; fratura corono-radicular; luxação; concussão; subluxação; luxação lateral; luxação com extrusão, luxação com intrusão e avulsão. Por fim, é visto que os incisivos centrais são o grupo de dentes mais susceptíveis ao trauma esportivo.
Alterações bucais em atletas poderão levá-los a uma deficiência tanto na mastigação quanto na digestão e, consequentemente, o não aproveitamento pleno do alimento consumido. eleva-se o risco de lesões articulares e musculares. O atleta, então, pode ter seu sistema imunológico afetado, que fica dividido entre lesões bucais e lesões em outras partes do corpo, dificultando e retardando a sua recuperação, o que é um divisor entre o sucesso e o declínio na vida de um esportista.
Outro problema bucal bem recorrente em atletas é a inclusão ou impactação de dentes terceiros molares dentro dos ossos alveolares da maxila e mandíbula, o que eleva consideravelmente o risco de traumatismos faciais nessas regiões. Essa situação acarreta dificuldade de alimentação, mau posicionamento dos dentes, fonação e mastigação deficientes.
A respiração bucal é o maior vilão contra o desempenho físico dos atletas. Essa condição, de tratamento complexo e multiprofissional, gera um desarranjo no Sistema Estomatognático, compreendido por estruturas musculares, ósseas e nervosas da face, cabeça e pescoço; que pode tornar-se crônico se não corrigido a tempo e de maneira correta. Condições bucais indesejáveis exercem sua parcela de contribuição para o insucesso do desempenho esportivo, a saber: os hábitos parafuncionais de roer as unhas e ranger os dentes tendo como consequência níveis de concentração mais baixos e prejuízo à saúde bucal dos atletas; e desordens na articulação temporomandibular (ATM), que aumentam o risco de traumatismo e geram dor e desconforto nos atletas. (Martins, 2015)
Considerações finais
Conclui-se que a finalidade fundamental da prática esportiva é proporcionar o bem-estar físico e mental, porém, em certas ocasiões, a integridade física do atleta é colocada em risco, assim, o uso correto de equipamentos de proteção irá minimizar certos tipos de lesões orofaciais. Os atletas que não usam protetores bucais, têm maior predisposição a injúrias orofaciais e acidentes em relação aos atletas que usam. A odontologia do esporte é uma nova especialização da odontologia que visa prevenir e cuidar da saúde bucal dos atletas profissionais e recreativos.
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REFERÊNCIAS
BARBERINI, A. F. et al. Incidência de injúrias orofaciais e utilização de protetores bucais em diversos esportes de contato. Rev. Odontol. UNICID, v. 14, n. 1, p. 7-14, jan./abr. 2002.
Conselho Federal De Odontologia (CFO), 2015. Disponível em <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/Resolucao-cfo-160-2015.htm>.
Cordeiro, Jivago Barreto França; Forte, Luceana Barreira; Neri, Jiovanne Rabelo; Santos, Saulo Ellery; Gomes, Fábio de Almeida; Lima, Danilo Lopes Ferreira. Fatores etiológicos e prevalência de lesões bucofaciais em surfistas de Fortaleza. Rev. Bras. Ciênc. Esporte [Internet]. 2020 [cited 2020 Sep 03] ; 42: e2002. http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2018.03.008.
Fronza, Helena Pickler; Perfil de risco para o traumatismo orofacial no esporte: fatores extrínsecos – TCC.Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 11 de outubro de 2019.
Martins, Yuri Victor de Medeiros; Lesões orofaciais decorrentes da prática desportiva. / Yuri Victor de Medeiros Martins. – Mossoró, RN, 2015. 56 p Dissertação (Mestrado em Saúde e Sociedade.). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Faculdade de Enfermagem. Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade 1. Odontologia. 2.Injúria orofacial. 3. Protetor bucal – Esportes de contato. I. Lima, Isabela Pinheiro C. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III. Título. UERN/BC CDD 617.6
Pastore, Giuseppe Umberto; Moreira, Márcia; Robson Bastos; Galotti, Marcelo; Leonard, Mario Francisco de Pasquali. ODONTOLOGIA DO ESPORTE – UMA PROPOSTA INOVADORA Rev Bras Med Esporte – Vol. 23, No 2 – Mar/Abr, 2017.