Segurança do paciente cirúrgico: a importância do checklist |Colunista

Quando falamos em segurança do paciente estamos nos referindo à adoção de práticas seguras para prestar a assistência ao paciente. O intuito é evitar falhas no processo de atendimento que poderão causar danos ao paciente e prejudicar ainda mais sua condição de saúde e de vida atual. 

 A Segurança do Paciente no Brasil é prevista na Portaria Nº 529/2013 que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) e prevê como objetivo geral a contribuição para um cuidado em saúde qualificado em todos os estabelecimentos de saúde do país. E o que isso quer dizer? Que independente da instituição de saúde ser pública ou privada ela deve promover e realizar ações para um cuidado em saúde de qualidade e seguro para o paciente.

Com esta finalidade foram estipuladas seis metas internacionais que englobam:

  • Identificação correta do paciente;

  • Melhoria da comunicação entre profissionais de saúde; 

  • Melhoria na prescrição, uso e administração de medicamentos; 

  • Assegurar cirurgia em local de intervenção, procedimentos e pacientes correto;

  • Higienização das mãos; 

  • Redução e avaliação de risco de quedas e úlceras por pressão.

A cirurgia é um dos pontos apresentados nestas metas de promoção da segurança do paciente. Afinal, ninguém quer ter o procedimento realizado em um local errado ou a cirurgia sendo realizada no paciente errado, correto? Diante disso, surgiram programas voltados para “Cirurgia Segura” propostos pela ANVISA e pela OMS, que buscam diminuir o número de óbitos e procedimentos errados nas cirurgias pelo Brasil e pelo mundo.

10 pontos importantes para cirurgia segura

A OMS (2009) traz dez pontos importantes para atentar quando falamos de cirurgia segura: 

1) Certificar-se de que o paciente está certo e sítio cirúrgico correto; 

2) Proteger o paciente da dor, minimizando os riscos da anestesia; 

3) Ter capacidade para reconhecer dificuldades respiratórias e um plano de ação pronto;

4) Preparar-se para identificar e agir em caso de grande perda sanguínea

5) Evitar induzir reações alérgicas ou à medicação que tragam riscos ao paciente

6) Usar métodos para minimizar o risco de infecções de sítio cirúrgico;

7) Evitar a retenção de compressas ou instrumentos em feridas cirúrgicas;

8) Identificar de maneira precisa todos os espécimes cirúrgicos;

9) Comunicar e trocar informações críticas sobre o paciente

10) Cabe a hospitais e sistemas públicos de saúde estabelecer vigilância de rotina de resultados, volumes e capacidade cirúrgica.

O checklist na cirurgia – promovendo na prática uma cirurgia segura

Neste sentido, para facilitar a identificação de falhas no processo e promover a segurança do paciente nas instituições, surge a ideia de elaborar um checklist. Proposto pela OMS em 2009, através do programa “Cirurgia Segura Salva Vidas”, o checklist, também conhecido como Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica, é uma ferramenta que busca melhorar a segurança nas cirurgias e reduzir óbitos e complicações cirúrgicas desnecessárias. O checklist deve ser preenchido em três momentos da cirurgia (OMS, 2014; ANVISA, 2013).

     No primeiro momento, chamado de “entrada” ou período antes da indução anestésica, serão confirmados:

  • Dados do paciente, 

  • Consentimento da cirurgia

  • Demarcação do sítio cirúrgico, 

  • Se o paciente possui algum tipo de alergia, 

  • Se há risco de aspiração ou complicação respiratória 

  • Se há risco de perda sanguínea 

No segundo momento, chamado de “time out”, pausa, ou período antes da incisão cirúrgica, é necessário que equipe confirme os seguintes pontos: 

  • Apresentação de cada membro da equipe pelo nome e função.

  • Realização da cirurgia correta no paciente correto, no sítio cirúrgico correto.

  • Revisão verbal, uns com os outros, dos elementos críticos de seus planos para a cirurgia;

  • Confirmação da administração da profilaxia antibiótica nos últimos 60 minutos da incisão cirúrgica; 

  • Acessibilidade dos exames de imagens necessários;

  • Identificação e prevenção de possíveis eventos críticos na perspectiva do cirurgião, anestesista e da equipe de enfermagem.

No terceiro momento, chamado de “saída” ou período antes do paciente deixar a sala cirúrgica, a equipe deve:

  • Realizar a contagem das compressas e instrumentais, 

  • Identificar qualquer amostra cirúrgica obtida;

  • Revisar qualquer funcionamento inadequado de equipamentos ou outra questão a ser solucionada

  • Revisar o plano de cuidado e providenciar a abordagem pós operatória e da recuperação pós anestésica antes da remoção do paciente da sala. 

A OMS traz em seu relatório que o uso do checklist tem sido comprovadamente associado a reduções significativas nas taxas de complicações e mortalidade em diversos hospitais e contextos (OMS, 2014).

A enfermagem, a aplicação do checklist e a promoção da cirurgia segura

Como podemos ver o preenchimento do checklist é de responsabilidade multiprofissional. Dentre esses profissionais, temos como responsáveis também a equipe de enfermagem. 

A enfermagem pode desenvolver um papel crucial na identificação e prevenção de possíveis falhas, uma vez que é ela responsável e é quem fica na maior parte do tempo prestando cuidados diretos ao paciente nesse processo cirúrgico, desde quando ele é admitido até a alta hospitalar.

Os enfermeiros também costumam ser responsáveis pelo manejo do prontuário do paciente, assim como seus exames enquanto o paciente se encontra internado na unidade hospitalar. Neste sentido, podem identificar qualquer aspecto relacionado a inconformidade entre paciente e procedimento cirúrgico antes do procedimento.

Um estudo realizado com o intuito de verificar a aplicação do checklist na perspectiva da enfermagem apresentou em seus resultados que a implementação do checklist foi vista como benéfico para promoção da segurança pelos enfermeiros e que é uma forma de melhoria da comunicação e oportunidade de diálogo entre os profissionais pela perspectiva da equipe (TOSTES; GALVÃO, 2019).

 Mas é importante ressaltar que podem existir algumas barreiras para a implementação desse checklist, como: a necessidade de apoio administrativo das chefias, a ausência de um núcleo de segurança do paciente na instituição e a ausência de educação voltada para temática e ao incentivo ao uso do instrumento (TOSTES;GALVÃO, 2019) ou até mesmo a visão do instrumento como mero protocolo pela equipe (TOTI et al.,2020).

Para alcançar resultados eficazes em relação a implementação do instrumento e o alcance das metas do programa de “Cirurgia Segura” é preciso também levar em consideração dois aspectos importantes: a implementação da cultura de segurança na instituição e a capacitação das equipes (TOTI et al.,2020; LOPES et al.,2018). Mas essa temática, já é ponto para outro artigo.

 E você, o que pensa sobre esse assunto? Já parou para refletir como é na sua instituição e como você pode contribuir para a implementação da “Cirurgia segura”?

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REFERÊNCIAS: 

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância em Saúde. Protocolo para Cirurgia Segura. 2013. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/protocolo-de-cirurgia-segura . Último acesso em 11-11-2020.

BRASIL. Portaria Nº 529/2013. Institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). Diário Oficial da União. 2013. Último acesso em Último acesso em 11-11-2020.

LOPES MCR, et al.  Atuação da enfermagem no processo de cirurgia segura. ReTEP [Internet] v.10,n.4, p.:34-39. 2018. Disponível em: http://www.coren-ce.org.br/wp-content/uploads/2020/01/Atua%C3%A7%C3%A3o-da-enfermagem-no-processo-de-cirurgia-segura.pdf . Último acesso em 11-11-2020.

OMS. Organização Mundial de Saúde. Segundo desafio global para a segurança do paciente: Cirurgias seguras salvam vidas.  Rio de Janeiro: Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2009. Último acesso em 11-11-2020.

OMS. Organização Mundial de Saúde. Manual de Implementação: Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica da OMS 2009. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2014. Último acesso em 11-11-2020.

TOSTES, MFP; GALVÃO, CM. Lista de verificação de segurança cirúrgica: benefícios, facilitadores e barreiras na perspectiva da enfermagem. Rev Gaúcha Enferm. v.40(esp):e20180180. 2019. doi: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180180 . Último acesso em 11-11-2020.

TOTI, ICC, et al. Percepções dos profissionais de enfermagem na aplicação do checkist de cirurgia segura. J. nurs. health. v.10,n.1:e20101010. 2020. Último acesso em 11-11-2020.