Ozonioterapia e suas diversas aplicabilidades em odontologia | Colunista

1. Entendendo a história da ozonioterapia

O ozônio é um alótropo do oxigênio (Alotropia é a propriedade que alguns elementos possuem, no qual se apresentam com propriedades físicas e formas diferentes) que tem sido amplamente estudado devido aos seus compostos químicos únicos lhe darem a capacidade de ser utilizado em várias especialidades médicas e odontológicas.

Os primeiros relatos do uso do ozônio como forma terapêutica são da primeira guerra mundial, no qual ulceras foram tratadas através da aplicação direta do gás sobre as mesmas (Sunnen et al., 1988; Jorge et al., 2006). O ozônio foi descoberto por Martins Van Marun em 1785, mas só foi nomeado por Christian Friedrich Schönbein em 1840, que em sua pesquisa observou ao liberar descargas elétricas em uma redoma de vidro em forma de sino (Campânula) contendo oxigênio, houve a formação de um gás com coloração azulada e com um odor muito forte, o qual deu o nome de ozônio (de Oliveira et al., 2016).

Na odontologia o ponto de maior relevância se deu em 1935 quando o cirurgião dentista E. A. Fisch publicou o livro intitulado “O Tratamento com Ozônio na Cirurgia”. Sendo que no mesmo ano outro dentista, chamado de E. Payr, publicou alguns casos clínicos sobre tratamento de gangrena pulpar, com o gás ozônio (Bocci., 2005).

Alguns estudos têm mostrado os diversos usos do ozônio:

  • Cirurgias e tratamentos de infecções (Amin et al, 2018; Matsumoto et al, 2001),

  • Periodontia e implantodontia (Damante et al 2014)

  • Cariologia, endodontia e biossegurança (de Oliveira et al, 2016).

2. Como o ozônio age no nosso organismo?

Dependendo do meio em que é aplicado o ozônio pode agir de diferentes formas em nosso organismo. Fatores como oxigenação e temperatura vão influenciar de forma direta a eficácia do mesmo (Nagayoshi et al., 2004; de Oliveira et al., 2016).

Uma das principais formas de ação do gás ozônio está relacionada a sua capacidade oxidativa, ou seja, tem uma função biocida, acabando com fungos, bactérias, vírus e vermes (Sunnen et al., 1988; López et al., 2003; Cardoso et al., 2008; Péres et al., 2003).

A teoria mais aceita sobre como o ozônio atua contra as bactérias esta relacionada a grande capacidade que esse gás tem de oxidar as cadeias ácido-lipídicas da parede celular, o que causa morte rápida desses micro-organismos (Dähnhardt et al., 2006). Suspeita-se que esse gás ataque primeiramente a parede celular, se difundindo para dentro do micro-organismo oxidando os aminoácidos e ácidos nucleicos, o que faz com organismos menos desenvolvidos como bactérias, fungos e vírus desnaturem e morram (Velano et al., 2001).

Além de ser utilizado como biocida, o ozônio exerce também ações estimulantes nos sistemas:

  • Circulatório (Clavo et al., 2004)

  • Imunológico (Matsumoto et al., 2005)

  • Reparativo (Matsumoto et al., 2005)

  • Neurológico (Clavo et al., 2004)

No estudo realizado por Matsumoto et al., 2005, observou-se ao tratar pacientes com fistulas e feridas recorrentes com óleo ozonizado dos vinte pacientes, dezenove mostraram cura ou remissão dos sinais e sintomas, demonstrando assim o potencial reparador do ozônio.

3. Como o ozônio pode ser administrado na odontologia?

Na odontologia os principais meios de utilização do ozônio são através de água e óleos ozonizados, também podendo ser utilizado através da aplicação do gás diretamente nos tecidos (de Oliveira et al.,2016). A aplicação direta do gás apesar de ser o meio mais antigo para a administração do ozônio, pode ser altamente irritante e perigoso, pois se inalado pode causar sérios danos ao pulmão, devido a toxicidade desse gás, e além disso sendo altamente inflamável e explosivo em altas concentrações.

Apesar dos perigos, hoje em dia tem sido feito diversos tipos de geradores que auxiliam para minimizar as chances de efeitos colaterais desse gás, esses geradores possuem um dispositivo de silicone que impede a inalação acidental do ozônio (Baysan et al., 2006). Na odontologia esses geradores tem sido utilizados principalmente para a eliminação de bactérias em lesões cariosas (Baysan et al., 2006).

Devido o ozônio ser muito facilmente solubilizado em água, o que garante uma facilidade de armazenamento desse gás, faz com que a água ozonizada seja algo de fácil emprego em odontologia, sendo muito utilizada em irrigações tanto em cirurgias, como em canais dentários e bolsas periodontais (Stubinger et al., 2006; Estrela et al., 2007; Brauner et al., 1992). O óleo ozonizado tem se mostrado a melhor forma de administração quando comparado com a aplicação direta do gás e a água ozonizada, pois ele consegue se manter em contato com a superfície muito mais tempo, e não necessita de um gerador, o que auxilia na diminuição do custo desse produto (de Oliveira et al., 2016).

4. Usos do ozônio em Cirurgia e Estomatologia

Como falado anteriormente o ozônio tem propriedades bactericidas bem altas, e ajuda a modular o sistema imunológico e a regeneração tecidual, o que acaba sendo de grande importância para o tratamento infecções orais, proporcionando uma grande melhora dos sinais e sintomas, levando até mesmo a cura (de Oliveira et al., 2016).

A água ozonizada vem sendo muito empregada na odontologia principalmente em exodontias, nas quais utilizamos essa água como agente irrigante, fazendo com que dessa forma diminua muito as chances de infecção pós-cirúrgica (Stubinger et al.,2006).

Já o óleo ozonizado tem sido muito empregado para tratamento de alveolite, como mostra o estudo de Guerra et al., 1997 que mostrou que o grupo tratado com ozônio teve melhores resultados em relação ao grupo controle, mesmo esse grupo controle tendo sido tratado com antibióticos. Outra forma de se usar o óleo ozonizado é para o tratamento de estomatite protética, gengivoestomatite herpética, no qual ele se mostra um potente biocida (López et al., 2003; Goldstein., 1950).

5. Usos do ozônio em Periodontia

Devido a maior parte das doenças periodontais serem causadas por bactérias o ozônio se mostra um grande agente terapêutico nessa especialidade. A principal forma de utilização do ozônio em periodontia é através do uso da água ozonizada.

Essa água tem sido utilizada principalmente para tratamentos de periodontite agressiva, na qual essa água é aplicada nas bolsas periodontais, o que ocasiona uma diminuição dessas bolsas, e consequentemente diminuição da contagem de bactérias no periodonto (Ramzy et al., 2005). 

6.Usos do ozônio em Cariologia

Devido a nova visão da odontologia minimamente invasiva, que visa a preservação do tecido mineralizado do dente, faz com que o ozônio se torne uma das formas terapêuticas mais inteligentes, ele surge como uma alternativa não-invasiva para o tratamento de lesões cariosas principalmente pelo seu potencial bactericida (de Oliveira et al., 2016).  

A principal forma de utilização do ozônio para o tratamento de lesões cariosas é através da aplicação direta do gás na lesão através de um gerador que possibilite o controle da quantidade de gás disperso, para que não ocorra danos ao cirurgião-dentista e ao paciente (Baysan et al., 2004). Apesar de ótimo agente bactericida alguns estudos tem demonstrado que o ozônio não consegue se difundir pela dentina amolecida devido a grande quantidade de substancia amorfa, o que faz com que ele seja eficaz mais em cavitações menores de até 1 milímetro, sendo assim melhor utilizado como tratamento adjuvante a outras formas de tratamento mais consolidadas (Baysan et al., 2004).

7. Usos do ozônio em Endodontia

Em endodontia os benefícios causados pelo uso do ozônio ainda não se mostraram completamente elucidados. A forma mais utilizada em endodontia é através da água ozonizada na irrigação de canais, mas em seu estudo Virtej et al., 2007, mostrou que não houve diferenças estatísticas entre o uso do ozônio em comparação com outros agentes químicos mais utilizados como o hipoclorito de sódio a 3%. Apesar disso o ozônio ainda demonstrou um grande potencial antimicrobiano, o que ocasiona a redução da flora periapical, e auxilia na regeneração óssea apical (Virtej et al., 2007).

8. Usos do ozônio em Biossegurança

Em consultórios odontológicos como uma forma alternativa de esterilização de materiais encontramos o ozônio (Estrela et al., 2006). No estudo de Velano et al., 2001, demonstrou que ao ser utilizada a água ozonizada obteve-se a esterilização completa do meio de cultura em 5 minutos e 25 segundos, mesmo em bactérias muito resistentes.

Essa esterilização efetiva através do ozônio se da devido a desnaturação do biofilme que esse gás causa, ocasionando também a oxidação das bactérias presentes nessas colônias, mostrando também que a água ozonizada possa ser utilizada na rede de distribuição de água dos equipos de forma muito apropriada (Estrela et al., 2006).

9. Conclusão

Como já falado o ozônio tem grandes propriedades biocidas, ações no sistema imunológico e reparador, o que o transforma em um grande adjuvante de diversos tratamentos nas mais diversas áreas da odontologia. Como observado o uso do ozônio pode estar ligado ao cotidiano de qualquer clínica, podendo ser utilizado desde a esterilização dos equipamentos, como nas mais diversas cirurgias. Dessa forma podemos então cada vez mais pensar em incluir esse gás potente em nosso dia a dia.

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