Ao ouvir a palavra odontopediatria, qual o seu primeiro sentimento?
Para muitos estudantes de Odontologia, essa palavra é símbolo de repulsa, de medo em atender pacientes pequenos e frágeis, traquinas e com excessos de gritos… um verdadeiro terror!
Eu muitas vezes, não conseguia entender isso, até porque antes de entrar na faculdade era essa a área que eu conseguia me ver fazendo, achava que todos eram apaixonados… GRANDE ILUSÃO!
Então fui buscar o porquê das pessoas se sentirem assim frente à essa especialidade que sempre me encantou.
Dentre as coisas havia sim a questão do medo de fazer algo ruim para o paciente, como também os gritos, choros, tapas, mordidas… Mas grande parte do que sempre ouvi, foi porque na faculdade a única coisa que se viu foi aplicação de selante e cimento de ionômero de vidro, não vendo muito além disso.
De fato eu concordo e muito com o pensamento dessas pessoas, porque foi o que aconteceu comigo também, mas o que mudou para mim foi a orientação de uma professora que queria mostrar para os alunos muito além, e por isso consegui uma grande oportunidade de estágio na área, onde eu pude estar presente nas mais DIVERSAS problemáticas.
Por isso, acho muito importante tentar trazer bem resumido algumas coisas sobre a odontopediatria preventiva aqui, pegando desde o tratamento com gestantes até o crescimento da criança (sendo este último abordado em um outro momento), isso tudo com o objetivo de ampliar o horizonte de vocês, leitores. Se vocês gostarem desses dois textos, quem sabe pode haver mais abordagem sobre a odontopediatria? Então vamos lá!
Gestação e a odontologia preventiva
Um dos principais pontos para o atendimento de mulheres gestantes, além é claro da atenção à saúde dessas pacientes, é a questão da prevenção e de prestar esclarecimento sobre a saúde bucal futura do bebê e da mesma durante a gravidez.
Tendo em vista que muitas pacientes possuem crenças populares, onde essas, muitas vezes, vão de encontro ao conhecimento científico, cabe ao profissional aproveitar o momento em que as gestantes passam de buscar novas informações e mudanças de hábitos deletérios em prol da saúde da criança. Com isso, o Cirurgião-dentista (melhor ainda sendo um odontopediatra) faz um trabalho pré-natal com essa paciente.
Entrando na atenção à saúde da gestante, primeiramente se deve ter em consideração algo que muitos dentistas têm dúvidas: quando posso realizar um atendimento odontológico seguro? Do primeiro ao terceiro mês, temos o período de desenvolvimento da criança, por isso consultas que podem vir a ser invasivas devem ser realizadas somente quando necessário! Já o último trimestre da gravidez a paciente está passando por um momento de desconforto, e o último lugar que quer estar é na cadeira odontológica. Portanto, entre o quarto e sexto mês é o melhor momento, já que o bebê ainda está se desenvolvendo, mas o período considerado perigoso já passou.
Após essas dúvidas, é importante durante a prevenção falar sobre os seguintes temas:
Suplementação com flúor
Não há estudos com efeitos positivos dessa prática, por isso deve-se passar a informação para a mãe e mostrar a ela que apenas a fluoterapia de ação tópica irá ajudar na manutenção da saúde bucal da mesma, visto que o conceito de flúor prescrito para agir de forma sistêmica e atingir os dentes no processo de odontogênese do bebê já caiu por terra.
Cárie na gestação
Uma coisa não está relacionada com a outra, mas de fato acontece por uma alteração na dieta e um consequente aumento na ingestão de carboidratos, atrelado à uma escovação mais precária por conta dos enjoos gestacionais. Além disso, pode-se associar também à xerostomia que algumas gestantes sentem e que pode deixar a cavidade bucal propícia a manifestações indesejáveis como cárie e infecções.
Como evitar: reforçar a escovação e o uso do fio dental, por mais difícil que possa ser por conta dos enjoos, além de falar sobre a dieta (se possível indicar um nutricionista) e se hidratar bastante.
Alterações periodontais
É sabido que durante a gestação pode ocorrer gengivite nas mulheres. Isso ocorre por conta da alteração hormonal, (como o aumento de estrógeno e progesterona) aumentando do fluxo sanguíneo na região gengival. E quando há placa bacteriana o tecido periodontal pode ficar suscetível a inflamações, podendo ocorrer a gengivite gestacional, com a o surgimento de hiperemias, sangramentos e edemas.
Por isso, reforça ainda mais essa questão da higiene oral e uso de fio dental durante a gravidez, já que há uma relação entre a gengivite, o parto prematuro e nascimento de bebês com baixo peso, visto que a gengivite é uma inflamação como qualquer outra e pode causar esses problemas com a criança.
Ah, e se aparecer uma lesão expansiva, nodular de superfície avermelhada, precisa se desesperar junto com a paciente? Não né? Lembrar que há a ocorrência do granuloma piogênico (que muda o nome para gravídico quando ocorre em gestante).
Essa lesão pode ocorrer devido à traumas no local e higiene oral insatisfatória, e aumenta a ocorrência durante a gravidez, sendo feita apenas a observação quando não há problemas em realizar a higienização ou a fala, e pode regredir após o parto. Caso não haja essa regressão, fazer uma remoção de forma segura.
Medicamentos
Por fim, é de extrema importância que ao precisar prescrever algum medicamento ou tratamento, é necessário que o Cirurgião-dentista estude muito sobre os efeitos nas gestantes e no bebê. Além disso é preciso explicar o procedimento, quais os riscos e benefícios para a paciente e o que fazer caso haja algum problema diante do exposto.
E aí, gostou? Fica de olho porque logo a segunda parte desse texto vai chegar, mostrando o cuidado bucal em uma criança nos primeiros passos e um pouco do que nós dentistas precisamos estar atentos!
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Referências:
1- Vasconcelos, Rodrigo Gadelha, et al. “;Atendimento odontológico a pacientes gestantes: como proceder com segurança.” Revista Brasileira de Odontologia 69.1 (2012): 120.
2-Bastiani, Cristiane, et al. “;Conhecimento das gestantes sobre alterações bucais e tratamento odontológico durante a gravidez”. Odontologia Clínico-Científica (Online) 9.2 (2010): 155-160.
3- Guia de orientação para saúde bucal nos primeiros anos de vida/ Coordenadoras: Leila Maria Cesário Pereira Pinto, Eliane Mara Cesário Pereira Maluf; Autores: Claudette Closs, et al. – 2 ed. – Londrina: UEL, 2018. 32p. Disponível em: http://www.spp.org.br/wp-content/uploads/2018/08/guiacro.pdf
4- Costa, Ana Luísa Moreira, Elsa Paiva, and Luís Pedro Ferreira. “Saúde oral infantil: uma abordagem preventiva.” Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar 22.3 (2006): 337-46.
5-https://www.colgate.com.br/oral-health/life-stages/oral-care-during-pregnancy/pregnancy-prenatal-care-and-oral-health