A percepção do cirurgião-dentista quanto a emergências médicas em consultório odontológico muitas vezes é errônea. Observando na literatura, em estudo realizado por Haese & Cançado (2016) com cirurgiões-dentistas (CD), 52,6% dos profissionais entrevistados disseram não estar capacitados para diagnosticar urgências e emergências médicas, e 72,6% afirmaram não estar aptos a intervenção nestes casos.
O treinamento em Suporte Básico de Vida (SBV) promovido em diversas universidades do Brasil pela American Hearth Association (AHA) deveria ser incentivado, a ponto de tornar o CD apto a identificar, diagnosticar e melhor conduzir cada caso. Abaixo abordaremos condutas perante emergências médicas que podem ocorrer em consultório Odontológico:
REAÇÕES ALÉRGICAS
De acordo com Gaujac et al. (2009) as reações alérgicas podem ser:
Do tipo 1 – reação mediada por anticorpos específicos derivados da imunoglobulina E (IgE), podendo ser locais ou estando limitadas às vias aéreas superiores, pele e trato gastrintestinal. É a denominada imediata ou anafilática.
Do tipo 2 – reação citotóxico anticorpo-dependente, que ocorre quando as células possuem antígenos de superfície nos quais os anticorpos se combinam e causam morte celular por ativação do sistema complemento, sendo exemplos, reações de hipersensibilidade. É a reação denominada citotóxica ou anticorpo-dependente.
Do tipo 3 – reação antígeno-anticorpo, pode ativar o sistema complemento ou fixar-se aos mastócitos, estimulando a liberação de mediadores, dentre o exemplo deste tipo de reação está o lúpus eritematoso. É a mediada por complementos.
Do tipo 4 – envolve proliferação e danos teciduais pela liberação de linfocinas, interação dos antígenos com linfócitos T, sendo exemplo a dermatite de contato.
Sinais e sintomas: reações cutâneas iniciando por eritema, evoluindo para urticaria e prurido, aparecimento de pápulas e a evolução é o broncoespasmo, edema de laringe, hipotensão arterial.
Se ocorrer: manter a calma, parar o que estava sendo realizado, manter o paciente em posição supina em Trendelemburg, administrar epinefrina aquosa (1:1000) via subcutânea, em caso de pressão normal ou intravenosa. Se a houver hipotensão arterial, observar constantemente os sinais vitais, a cada 5 minutos, solicitar serviço móvel de urgência (SAMU, via contato telefônico para 192).
HIPERVENTILAÇÃO
Também denominada alcalose respiratória, quando ocorre decréscimo na concentração de gás carbônico na circulação, a causa mais comum é a hiperventilação psicogênica, ligado à dispneia ou ansiedade, exercícios físicos.
Sinais e sintomas: parestesias em extremidades ou na face, tontura, calafrios, pode levar ao desmaio.
Se ocorrer: manter a calma, acalmar o paciente, se a causa for psicogênica, respirar dentro de um saco vai levar à reversão do quadro, se necessário, administrar diazepam via oral ou intramuscular e solicitar SAMU.
DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA
Pressão parcial do oxigênio é abaixo do valor de 80%, podendo ter sido causada por problemas respiratórios crônicos, disfunção cardiovascular, sincope.
Sinais e sintomas: respiração dificultada, sudorese intensa, irritabilidade, confusão mental, agitação.
Se ocorrer: manter a calma, administrar oxigênio, chamar SAMU.
OBSTRUÇÃO RESPIRATÓRIA POR CORPO ESTRANHO
Fechamento da passagem de ar por um corpo estranho.
Sinais e sintomas: paciente leva as mãos ao pescoço, na tentativa de retirar o que está obstruindo a passagem de ar.
Se ocorrer: manter a calma, pedir para o paciente falar, a tendência é o paciente ter reflexo de tosse, aumentando as chances de expelir o corpo estranho. Caso o paciente não consiga, realizar a manobra de Heimlich, com 5 compressões firmes na região abdominal. Tentar remover o corpo estranho.
CRISE ASMÁTICA
Ocorre pela dificuldade respiratória. Pode ser: extrínseca: ocorre em adolescentes, com história familiar ou condições alérgicas; intrínseca: ocorre em pacientes mais idosos, como forma crônica.
Sinais e sintomas: dificuldade de expiração, ruídos na inspiração.
Se ocorrer: manter a calma, administrar aerossol broncodilatador, oxigênio, e, se o paciente for normotenso, administrar epinefrina 1:1000 subcutâneo, considerar também chamar o SAMU.
CHOQUE HIPOGLICÊMICO
Quadro de hipoglicemia, com a glicose estando abaixo de 60 mg/dL, ocorrem em pacientes que ficaram muito tempo em jejum. Em pacientes diabéticos medir a glicose antes dos procedimentos, se realizar procedimentos muito demorados, considerar utilizar sedação medicamentosa a fim de diminuir o estado de estresse.
Sinais e sintomas: taquicardia, sudorese, calor, tremores, sensação de fome, hipertensão, pupilas dilatadas, perda de concentração, amnésia.
Se ocorrer: manter a calma, em pacientes portadores de DM, sempre realizar diminuição dos estressores, administrar insulina do paciente, ou glicose 50% por via oral.
CHOQUE HIPERGLICÊMICO
Quadro de hiperglicemia, com a glicemia capilar estando acima de 600 mg/dL.
Sinais e sintomas: confusão mental, náuseas, fadiga, hálito cetônico, vômitos, poliúria, glicemia capilar acima de 600 mg/dL.
Se ocorrer: manter a calma, acalmar o paciente, oferecer oxigênio, solicitar SAMU
EPISTAXE
Sangramento nasal.
Sinais e sintomas: história de trauma facial, histórico de ansiedade e estresse, uso de anticoagulantes, história de discrasias sanguíneas.
Se ocorrer: manter cabeça elevada, aplicar compressa gelada no dorso do nariz, observar presença de corpos estranhos em cavidade nasal, compressão digital por 5 a 10 minutos.
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REFERÊNCIAS
BERNOCHE, Claudia et al. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 113, n. 3, p. 449-663, Sept. 2019. Available from.access on 25 May 2020. Epub Oct 10, 201
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos de Intervenção para o SAMU 192 – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
GAUJAC C, Oliveira AN, BARRETO FAM, SALGADO LM, OLIVEIRA MS, GIRÃO RS. Reações alérgicas medicamentosas no consultório odontológico. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2009 set-dez; 21(3): 268-76.
MAYHEW D, MENDONÇA V, MURTHY BVS. A review of ASA physical status – historical perspectives and modern developments. Anaesthesia 2019; 74:373-9
HAESE, Rayane Del Puppo e CANÇADO, Martina Renata Pittella.Urgências e emergências médicas em odontologia: avaliação da capacitação e estrutura dos consultórios de cirurgiões- dentistas. Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac. [online]. 2016, vol.16, n.3, pp. 31-39. ISSN 1808-5210.