Acolhimento x Humanização: qual sua importância no período gestacional? | Colunista

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Sabe-se que assistência à mulher não pode ocorrer de forma fragmentada e desumana, é imprescindível a capacitação de profissionais da saúde que planejem seu atendimento para não estarem apenas lidando com o físico e o biológico, mas com o biopsicossocial do cliente. Assim sendo, o acolhimento vem com o intuito de modificar e reorganizar o profissionalismo nos serviços de atenção à saúde, deixando a ação mecanizada para trás e trazendo a humanização nas atuações da equipe (FRANCO; BUENO; MERHY, 1999).

O acolhimento é agir na recepção do cliente, desde sua vinda, deixando-o estabelecer suas queixas e preocupações. Para tanto, o profissional da saúde é o principal responsável para recepcionar o paciente durante o atendimento, atuando no oferecendo da atenção integralizada para a resolução da continuação da assistência à saúde (BRASIL, 2006).

Ouvir o cliente faz parte do profissional de enfermagem para que este saiba transpor um cuidado adequado embasado na anamnese, exames físicos e exames laboratoriais, porém a técnica necessita ser humanizada para que a prática seja acolhedora, proporcionando assim uma qualidade assistencial.

Ao acolher o cliente, o profissional não deve ser apenas cordial, já que a prática do acolhimento vai desde o momento do contato até o ambiente em que se está inserido. Através disso, a humanização se dá por meio dessa interação profissional-cliente-ambiente, conduzindo ao desenvolvimento de uma assistência integralizada.

Por sua vez, conceitualmente, a humanização vem como uma política para estabelecer esse compromisso dos profissionais em acolher não somente os clientes, mas também os gestores e trabalhadores da saúde, porque assim haverá uma construção de solidariedade com a participação coletiva de todos os componentes no serviço (BRASIL, 2006).

O surgimento, em 2003, da Política Nacional de Humanização (PNH) veio justamente para reforçar as diretrizes do SUS, fortalecendo o vínculo existente entre o profissional de saúde, os gestores e os clientes, permitindo a efetivação e organização multiprofissional (BRASIL, 2014).

As problematizações persistem quanto à funcionalidade do sistema, mas com a colaboração dos componentes do SUS, consegue-se, pouco a pouco, trazer para a sociedade um cuidado mais humanizado e uma saúde com qualidade, porque depende da união dos profissionais envolvidos e sua devida capacitação para desenvolver uma assistência acolhedora.

É perceptível que a prática de humanizar a assistência é essencial para que os profissionais ofereçam a qualidade assistencial, sendo possível através da ampliação do diálogo entre os mesmos e a população, estimulando a diminuição de práticas intervencionistas desnecessárias, fortalecendo o compromisso com os clientes e também entre as equipes de saúde (BRASIL, 2004).

O comprometimento do enfermeiro com a sociedade se faz de suma importância para conseguir trazer o protagonismo do cliente, voltado para seu biopsicossocial tanto na atenção básica, secundária e terciária.

Na sociedade, a mulher e a criança são seres humanos frágeis que ao estarem expostos às complicações físicas e biológicas para o parto, necessitam da humanização e o acolhimento necessário por parte dos profissionais responsáveis para minimizarem o sofrimento, ocasionando, muitas das vezes, a prática cirúrgica (PASCHE; VILELA; MARTINS, 2010).

Os avanços tecnológicos incentivaram para a redução do sofrimento fetal e risco de morte da mãe, ocasionando a elevada incidência de parto cesariano, principalmente no Brasil, mas, ao longo dos anos, essa prática aumentou esporadicamente, continuando o alto índice de cesarianas no país (PEREIRA et al., 2018).

Geralmente, a gestante desconhece até mesmo seu processo de parturição, necessitando assim, que o profissional da saúde demonstre a importância de um pré-natal adequado, com disponibilidade para responder todas as dúvidas, acolhendo de forma humanizada a gestante que deve se mostrar assídua em suas consultas. Essa é uma forma de acolhimento essencial para a Política de Humanização do Parto Natural.

É viável, diante disso, que a equipe de saúde ofereça uma assistência mais acessível e integral, de forma a aumentar a entrada de gestantes acolhidas para a diminuição da morbimortalidade materna e neonatal, com esclarecimentos sobre a nutrição, a regulação da fecundidade, o período gestacional em si, o pós-parto e a puericultura (MORAIS, 1992).

A gestante, dessa forma, pode receber um acompanhamento do profissional de enfermagem, durante o período gestacional, sendo estabelecidos cuidados adequados, principalmente, quanto aos riscos de desnutrição, existência de patologias e descolamentos que podem comprometer a vida tanto da mãe como do feto.

Portanto, ao acolher o cliente, o profissional capacitado traz para a assistência à saúde a qualidade no serviço e melhoria no funcionamento do sistema através desse olhar humanizado. Entretanto, as práticas cirúrgicas empregadas há décadas ocasionam em desequilíbrio para o fator natural da mulher gestante, porque o tornam descontrolado e aumentam cada vez mais na área pública e privada, envolvendo o fator lucrativo.

Embasado nisso, o intuito é que enfermeiro se posicione para intervir e resgatar a essência da humanização, que é acolher o cliente desde sua chegada, com visão holística, para transmitir com orientações a segurança do parto normal que desde a antiguidade é vista como um evento único e especial na vida da mulher.

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Humanização do parto e do nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

_______. Humaniza SUS: documento base para gestores e trabalhadores do SUS. 3. ed. Brasília : Ministério da Saúde, 2006.

_______. Humaniza SUS – a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília: Política Nacional de Humanização; Ministério da Saúde, 2004.

FRANCO, Túlio Batista; BUENO, Wanderlei Silva; MERHY, Emerson Elias. O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o caso de Betim, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, n. 2, v. 15, p. 345-53, 1999.

MORAIS, Edison Nunes de. Temas de Obstetrícia. São Paulo: Roca, 1992.

PASCHE, Dário Frederico; VILELA, Maria Esther de Albuquerque; MARTINS, Cátia Paranhos. Humanização da atenção ao parto e nascimento no Brasil: pressuposto para uma nova ética na gestão e no cuidado. Rev. Tempus Actas Saúde Coletiva, Brasília, n. 4, v. 4, 2010.

PEREIRA, Ricardo Motta et al . Novas práticas de atenção ao parto e os desafios para a humanização da assistência nas regiões sul e sudeste do Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 11, p. 3517-3524, 2018.