Automedicação versus automedicação responsável: a linha tênue | Colunista

A automedicação é definida como o ato de ingerir substâncias de ação medicamentosa sem a orientação e/ou acompanhamento de um profissional da saúde habilitado. Os medicamentos que estão envolvidos na automedicação são, principalmente, os denominados medicamentos isentos de prescrição (MIPs), que são aqueles utilizados, em sua maioria das vezes, para solucionar problemas autolimitados e que estão disponíveis a todos.

A automedicação, quando feita de forma orientada, não é uma coisa ruim, mas pode se tornar maléfica no momento em que é feita de maneira irresponsável e sem acompanhamento de um profissional, sem informações técnicas importantes, podendo assim, se enquadrar como uso irracional de medicamentos. Segundo a OMS, a automedicação responsável, estabelecida quando se tem a utilização de um medicamento correto, na posologia e dose certa, para um problema limitado, se encaixa na pratica do uso racional de medicamentos, e contribui muito no alívio da demanda nos serviços públicos de saúde.

Assim, pensando bem, a prática da automedicação responsável é uma grande aliada ao sistema de saúde. Ora, já imaginou o caos e a superlotação que seriam os hospitais, caso as pessoas tivessem que ir até lá para realizarem uma consulta médica para resolverem uma simples dor de cabeça ou aliviar sintomas leves de resfriado ou ainda, populações que moram em zonas distantes, sem acesso fácil a hospitais, mas que tem próximo a elas uma drogaria ou farmácia, podendo dessa forma, resolver tal problema.

O farmacêutico tem papel fundamental no momento da procura do medicamento pelo paciente. Identificar se o problema é autolimitado, se será solucionado com medicamento ou se é necessário encaminhamento para outro profissional, é fundamental, e o mesmo deve estar preparado para oferecer ao paciente demais informações. E está aqui o principal papel do farmacêutico como profissional do medicamento: Orientar!

Que as pessoas tem acesso fácil a estes medicamentos que estão disponíveis no balcão da farmácia é fato, então, porque não fazer esta automedicação de maneira responsável?! O farmacêutico está envolvido diretamente nesta educação, amenizando problemas relacionados a medicamentos.

Algumas questões que devem ser levadas em consideração no momento da dispensação do medicamento:

  • Os sintomas são muito intensos, que chegam a ser insuportáveis;
  • Possui diagnóstico prévio de alguma comorbidade;
  • Há quanto tempo o paciente sente tal desconforto;
  • A causa não é facilmente identificável;
  • São sintomas recorrentes;

Além destas, existem outras perguntas que também devem ser feitas, e cada caso ser investigado a partir de suas peculiaridades. Mas, a partir destes questionamentos é possível identificar se está se tratando de algum problema autolimitado e se pode ou não ser resolvido com um MIP. Ainda, é importante também saber a idade do paciente, se está em tratamento com outro medicamento, para assim evitar interações medicamentosas indesejadas, se está gestante ou se possui alergia.

Não se trata simplesmente de dispensar o medicamento porque é um problema autolimitado, mas cabe ao profissional educar o paciente sobre possíveis efeitos indesejados ao ingerir tal substância medicamentosa.

“Não há como acabar com a automedicação, talvez pela própria condição humana de testar e arriscar decisões. Há, contudo, meios para minimizá-la”. O farmacêutico é o único profissional que possui conhecimentos de forma integral sobre os medicamentos, dessa forma, é de sua competência poder indicar, mas também desaconselhar em momentos de automedicação desnecessária e insensata, podendo ajudar a tornar uma prática que hoje, é realizada de forma inconsciente, e passar a ser racional e segura, beneficiando o paciente.                                

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REFERÊNCIAS

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