Microscopia operatória: um caminho para o sucesso | Colunista

A afirmação de que o tratamento endodôntico é um dos procedimentos odontológicos mais temidos pelos pacientes não é nenhuma novidade. Além do medo em si de “ir ao dentista”, e o temor do “barulho do motorzinho”, a má fama das intercorrências pré, trans e pós-operatórias costumam assustar algumas pessoas.

Porém, existe ainda o outro lado da moeda: a endodontia também assusta alguns cirurgiões-dentistas e muitos alunos da graduação, estando presente agora o medo de ser o causador de algum acidente durante o tratamento ou até mesmo dos históricos de insucessos. Quem nunca teve medo de fraturar uma lima no canal, não é mesmo?

Sabe-se que a área da endodontia já evoluiu muito nos seus tratamentos e técnicas operatórias e que esse medo ainda persiste pelo fantasma de uma odontologia passada, mas ainda assim, deparar-se com casos mais complexos como canais calcificados, remoção de limas fraturadas, remoção de pinos intrarradiculares, tratamentos de perfurações, diagnóstico de fraturas radiculares, entre outros, pode ser bastante intimidante até mesmo para especialistas.

Os fatores como, redução do campo operatório, difícil luminosidade, dificuldades de acesso e identificação de canais ainda se apresentam como obstáculos adicionais, pois a endodontia muitas vezes recorre da sensibilidade táctil do operador e tendo como auxiliar principal o diagnóstico por imagem, que por sua vez, não é tão preciso, especialmente se for bidimensional. Diante de tais obstáculos, surge a microscopia operatória, tendo como precursor Gary Carr, introduzindo-o na endodontia em 1992, promovendo assim um grande avanço na especialidade.

As vantagens são dadas pela maior iluminação e melhor visualização do campo operatório, através da magnificação, que auxilia na localização de canais calcificados, detectar microfraturas e demais casos da endodontia, onde estas vantagens não são somente um auxílio extra, mas uma necessidade para o tratamento que obterá sucesso posterior. Ainda ressalta-se em algumas pesquisas a melhora da ergonomia como uma vantagem do seu uso.

O grande impacto dessa inovação tecnológica se dá pelo fato de que o microscópio oferece ampliação de até 20 vezes mais, sem falar que suas aplicações vão além da endodontia não-cirúrgica ou cirúrgica: perpassam desde ao diagnóstico, até a educação dos pacientes. Com a ajuda do microscópio, o endodontista checa facilmente todas as faces dentárias, proporcionando um melhor tratamento.

Uma outra vantagem que o microscópio operatório apresenta é extremamente importante: a documentação de casos clínicos. Um melhor detalhamento dos casos clínicos podem ser feitos através do acoplamento de câmeras fotográficas no próprio aparelho, podendo ser utilizados para materiais de ensino, pesquisa, documentação de casos e até mesmo para esclarecer o caso para o paciente, que compreende melhor os procedimentos pelas imagens.

Mas e as desvantagens? Basicamente, elas se dão especialmente por dois fatores: o alto custo do equipamento e um período de treinamento inicial requerido, onde é preconizado iniciar o trabalho em dentes extraídos, buscando se adaptar a trabalhar com o equipamento por cerca de 3 a 4 meses.

Vale ressaltar que o uso do microscópio operatório demanda uma maior necessidade de um trabalho a quatro mãos, onde o auxiliar é peça fundamental.

Porém, o uso do microscópio operatório traz uma maior segurança para o cirurgião-dentista e até mesmo aumenta sua credibilidade com o paciente, que de acordo com Menezes, os pacientes de CDs que utilizavam o microscópio, através de entrevistas, apresentaram ter uma aceitação boa, pois reconhecem o empenho do profissional em realizar um trabalho com excelência.

A maior segurança, previsibilidade, melhora da visualização e feedback positivo dos pacientes categorizam essa tecnologia com vantagens que extrapolam as desvantagens. Em relação ao futuro da microscopia operatória na endodontia, seu crescimento é constante no Brasil, porém, está apenas começando a crescer e ainda tem um longo caminho a percorrer, de acordo com Menezes, mas já é uma realidade, onde esse equipamento se mostra de grande valia na clínica odontológica.

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Referências:

Feix LM, Boijink D, Ferreira R, Wagner MH, Barletta FB. Microscópio operatório na Endodontia: magnificação visual e luminosidade. Rev Sul-Bras Odontol. 2010 Jul-Sep;7(3):340-8.

MENEZES C, Cláudia, et al. Microcirurgia periodontal: uma visão brasileira. RGO – Rev Gaúcha Odontol., Porto Alegre, v.59, n.4, p. 583-589, out./dez., 2011.

Carr GB. Microscopes in endodontics. J Calif Dent Assoc. 1992;20:55-61

Carvalho C. Microscopia em consultório odontológico. Rev Bras Odontol. 2002;59(5): 324-7.

PARDO, Silvio. Tratamento de canal: dentista dá dicas para quem ficar nervoso com o procedimento. Sorrisologia. Disponível em <https://www.sorrisologia.com.br/noticia/tratamento-de-canal-dentista-da-dicas-para-quem-ficar-nervoso-com-o-procedimento_a6594/1>. Acesso em: 06 de agosto de 2020.

5 vantagens do tratamento de canal com microscópio. Fenelon Endodontia. <https://www.fenelonendodontia.com.br/5-vantagens-do-tratamento-de-canal-com-microscopio/> Acesso em: 06 de agosto de 2020.