O lema do soldado: Servir! O papel do farmacêutico na gestão de equipes de saúde | Colunista

“O lema do farmacêutico é o mesmo do soldado: servir. Um serve à pátria; outro serve à humanidade…”.

Monteiro Lobato escreveu estas palavras quando comparou o trabalho de profissionais de saúde ao serviço militar, em especial o profissional farmacêutico. Naquela época, o Brasil vivia um período de Revolução Militar e mudança de regime… que conhecemos hoje como República Velha.

Séculos depois, podemos fazer um paralelo ao contexto vivido na época: observamos o retorno de militares à política e uma crise de saúde pública provocada por uma pandemia… utilizarei desta premissa para uma pergunta: como o Farmacêutico se encaixa na gestão das equipes de saúde?

O profissional Farmacêutico tem inúmeras atividades e áreas de atuação incluindo a dispensação e a promoção do uso racional de medicamentos…. provavelmente você ouviu e estudou sobre essas atribuições durante a graduação.

Entretanto, ainda temos algumas barreiras para transpor no mercado de trabalho. Um dos grandes desafios do profissional Farmacêutico é a sua inserção nas atividades coletivas de saúde, ampliando sua importância para a sociedade e exercendo papel de liderança.

Exemplo: todos sabemos que o Farmacêutico deve estar presente em Farmácia e Drogarias, mas ainda é um enorme desafio ter um profissional farmacêutico nas equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), nos Conselhos de Saúde, em cargos de gestão pública e nas atividades multiprofissionais.

Considerando o texto de Monteiro Lobato e a divisão de uma organização militar, percebemos um conceito de hierarquia, disciplina e missões. Em uma analogia “saúde- militarismo”, o farmacêutico se torna responsável pelo paiol, local da base militar onde estão armazenadas as armas para as práticas, combates e exercícios militares. Não adianta nada ter um inimigo para enfrentar, em nome da defesa e da Pátria, se não há armas e munições
disponíveis.

Falamos muito nesses últimos meses da importância dos profissionais da saúde e de como o trabalho da equipe multiprofissional tem sido fundamental para salvar vidas… médicos, enfermeiros, fisioterapeutas… falamos muito da “linha de frente”, pedimos aplausos e melhores condições de trabalho… mas, por que o Farmacêutico não está a frente das operações e missões? Um profissional farmacêutico pode ser um gestor, coordenador de Atenção Básica, Diretor de Hospital, ou Secretário de Saúde?

Infelizmente, o profissional farmacêutico se afastou do contexto multiprofissional ao se “isolar” dentro das paredes de uma farmácia ou laboratório e perdeu um pouco da interação com outros profissionais.

Do álcool em gel a ivermectina, passando pela azitromicina e toda a polêmica da hidroxicloroquina… além dos testes e a busca pela vacina… vivenciamos tudo isso nos últimos meses e percebemos o quanto o papel do Farmacêutico é importante para a sociedade e para as equipes de saúde. Infelizmente, a população em geral e boa parte dos profissionais, não associa um produto, um medicamento, teste ou vacina ao profissional Farmacêutico… em outras situações, algumas pessoas enxergam o farmacêutico como uma “barreira” para o uso indiscriminado de medicamentos.

Observamos uma pressão comercial muito forte em estabelecimentos Farmacêuticos, colocando o foco sobre a venda do medicamento e não no serviço Farmacêutico, que deveria ser a prioridade no contexto da Saúde Pública. Responda rápido: Quantas vezes você viu uma entrevista com algum farmacêutico durante estes últimos meses? Quantos diretores, pesquisadores, secretários e políticos que você conhece são farmacêuticos?

Felizmente, este cenário vem se alterando com as atividades clínicas e o trabalho de inúmeros profissionais que estão na linha de frente em farmácias, laboratórios e hospitais de todo o país. Soma-se a este fato o crescente quantitativo de farmacêuticos registrados nos últimos anos, permitindo maior vínculo e relações com outros profissionais.

A profissão Farmacêutica tem evoluído muito nos últimos anos, avançando em atividades clínicas, equipes multiprofissionais, comissões e nas atividades de gestão. Porém, ainda precisamos romper algumas barreiras para avançar em nossas batalhas por maior reconhecimento, respeito e valorização profissional… a “linha de frente” terá outra liderança e poderemos avançar muito além do paiol militar.


 

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Referências:

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção, proteção, proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, 20 set. 1990 a, Sec. 1, p. 18055.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 3.916 MS, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. Diário Oficial da União. 10 nov. 1998 a, Sec. 1, p. 18.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 338, de 6 maio de 2004. Aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Diário Oficial da União, 20 maio 2004b, Sec. 1, p. 52.

CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA – CFF. Artigo. Por que eu gosto das pessoas? Disponível em: https://www.cff.org.br/noticia.php?id=321&titulo=ARTIGO+-+Porque+eu+gosto+das+pessoas#:~:text=Disse%20Lobato%3A%20%E2%80%9CO%20lema%20do,%3B%20outro%20serve%20%C3%A0%20humanidade%E2%80%9D. Acesso em 05. Ago. 2020.

MARIN, N.; LUIZA, V.L.; OSORIO-DE-CASTRO, C.G.S.; MACHADO-DOS-SANTOS, S. Assistência Farmacêutica para Gerentes Municipais de Saúde. Rio de Janeiro: OPAS/OMS, 2003. 373p.

MAXIMINO, F. D. Sá. Gestão da Assistência Farmacêutica: Conceitos e Práticas para o Uso Racional de Medicamentos. São Luís, 2018, versão online, E-book.147 fl.

VIEIRA, F. S. Possibilidades de Contribuição do Farmacêutico para a Promoção da Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 12(1):213-220, 2007.

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