O papel do farmacêutico na saúde do idoso | Colunista

Atualmente, no Brasil, observa-se o envelhecimento da população brasileira. Segundo dados do IBGE, estima-se que há cerca de 30,2 milhões de idosos no país. Essa transição demográfica acarreta em mudanças na área da saúde, na qual é observada maior prevalência de doenças crônicas e multimorbidades associadas, tais como diabetes, hipertensão, dislipidemias, entre outras.

Para a faixa de indivíduos acima de 60 anos, observa-se com frequência a polifarmácia e o uso de medicamentos potencialmente inadequados. Além disso, mudanças fisiológicas podem levar a alterações na farmacocinética e farmacodinâmica dos medicamentos gerando assim maior insegurança.

Alterações Farmacocinéticas e Farmacodinâmicas no envelhecimento

Em relação ao processo de absorção, no indivíduo idoso, há um aumento do pH gástrico e diminuição da motilidade gastrointestinal. Com isso, tem-se menor absorção de fármacos, nutrientes, vitaminas e minerais.

Há também diminuição da albumina plasmática. Assim, no processo de distribuição, haverá mais fármacos livres do que ligado a proteína ocasionando maior efeito do fármaco, podendo levar a toxicidade

Além disso, observa-se diminuição do fluxo sanguineo hepatico e da massa hepática. gerando menor taxa de biotransformação. Há menor fluxo sanguíneo renal e taxa de filtração glomerular ocasionando menor eliminação dos fármacos

Em relação às mudanças farmacodinâmicas, tem-se alteração no número e afinidade dos receptores, bem como alteração do nível de transdução do sinal. Tudo isso contribui para que haja maiores efeitos adversos.

Polifarmácia

A polifarmácia, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o uso rotineiro e concomitante de quatro ou mais medicamentos (com ou sem prescrição médica) por um paciente. Tal situação é frequentemente encontrada em pacientes idosos devido a maior prevalência de doenças crônico-degenerativas. Muitas vez a polifarmácia é necessária para o paciente obtenha os resultados terapêuticas esperados. Entretanto, na maioria dos casos, há prescrição desnecessária e/ou automedicação aumentando o risco de ocorrerem reações adversas.

Medicamentos potencialmente inapropriados para Idosos

Os medicamentos potencialmente inapropriados para idosos (MPI) são fármacos que apresentam altos riscos de gerar reações adversas graves aos pacientes da faixa etária em questão.

Vale ressaltar que a prescrição de MPI não apresenta-se como uma contraindicação absoluta para o uso em idosos. Entretanto, para o seu deve ser considerado a relação risco-benefício, a disponibilidade de outras opções terapêuticas, bem como de recursos não farmacológicos.

Após realizar a prescrição de um MPI, o monitoramento do uso desses medicamentos pode evitar que efeitos adversos passem despercebidos ou sejam confundidos com sintomas de novas doenças ou condições clínicas. Tendo em vista que efeitos adversos confundidos com sintomas podem levar a prescrição de mais medicamentos.

Alguns exemplos de MPI são: antiparkinsonianos com forte ação anticolinérgica (Biperideno e Triexifenidil) devido ao risco de toxicidade anticolinérgica; benzodiazepínicos (Alprazolam, Clonazepam, Diazepam), pois aumentam o risco de comprometimento cognitivo, delirium, quedas, fraturas e acidentes automobilísticos; anti-histamínicos de1ª geração (Difenidramina, Prometazina) devido ao risco de sedação e efeitos anticolinérgicos.

Cuidados farmacêuticos

A atuação do profissional farmacêutico na saúde do idoso é muito importante para garantir maior sucesso terapêutico e promover melhor de qualidade de vida. Algumas atividades que podem ser realizadas pelo farmacêutico em diferentes cenários como hospitais, unidades básicas de saúde, farmácia comunitária, instituições de longa permanência são:

  • Realizar o acompanhamento farmacoterapêutico
  • Realizar a revisão da farmacoterapia para avaliar se os medicamentos prescritos são necessários, efetivos e seguros, bem como promover a adesão à terapia.
  • Monitorizar efeitos adversos
  • Realizar rastreamento em saúde, a fim de investigar de problemas de saúde, como diabetes, dislipidemias e hipertensão arterial.
  • Promover atividades de educação em saúde quanto ao uso racional de medicamentos e à prevenção de doenças.
  • Orientações farmacêuticas em geral.

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Referências

OLIVEIRA, Márcio Galvão; AMORIM, Welma Wildes; OLIVEIRA, Caroline Ribeiro Borja; COQUEIRO, Hérica Lima; GUSMÃO, Letícia Cruz; PASSOS, Luiz Carlos. Consenso brasileiro de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos. Geriatrics, Gerontology And Aging, [s.l.], v. 10, n. 4, p. 168-181, dez. 2017. Zeppelini Editorial e Comunicação

STORPIRTIS, Sílvia. Farmácia clínica e atenção farmacêutica. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, c2008. ix, 489 p. (Ciências Farmacêuticas)

BRUNTON, Laurence L. ((org)). As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Rio de Janeiro, RJ: McGraw-Hill, 2012. xxi, 2079 p.