Olá “queridxs”, tudo bem com vocês? Neste espaço realizarei uma breve discussão sobre as mudanças ocorridas na Enfermagem desde o período de Florence Nightingale até a contemporaneidade. Para avançarmos na nossa profissão, faz-se compreender a sua história, os enfrentamentos que foram vividos por nossas precursoras até chegar na fase moderna da Enfermagem, que vivenciamos.
A Enfermagem não foi fundada por Florence Nightingale, no entanto ela foi primordial no processo de reconhecimento da Enfermagem enquanto uma profissão digna, implementando inúmeras ações que são utilizadas ainda hoje, principalmente o seu método de ensino. A atuação de Florence foi algo tão inovador na nossa profissão, que ela é considerada a fundadora da Enfermagem moderna.
Um breve passeio sobre a história do processo do cuidar
Taka Ogusso no Livro Trajetória histórica da Enfermagem, afirma que durante o período do cristianismo não houve tentativa de organizar a Enfermagem, deixando que a prática assistencial fosse realizada através das estratégias estabelecidos pela igreja.
Telma Geovanini no seu livro Tratado de Feridas e Curativos enfoque multiprofissional, aduz sobre a existência dos cuidados de Enfermagem, antes do nascimento de Florence. Na literatura especializada há relatos como o povo Hindu citava a atuação dos enfermeiros e os pré-requisitos para a prática da profissão, exigindo que os profissionais possuíssem conhecimentos científicos, habilidades e elevados princípios morais.
Contudo é com Hipócrates, considerado pai da medicina, que os cuidados ao doente iniciaram o seu processo evolutivo. Através dos seus estudos, Hipócrates desvencilhou o processo de saúde – doença das questões religiosas, inaugurando espaço para uma nova era da medicina, proporcionando percursos e estímulos para o estudo dos processos patológicos.
Florence Nightingale
“Nascida em Florença, na Itália, Florence Nightingale (1820-1910), enfermeira, ambientalista, precursora da Enfermagem moderna, revolucionou a saúde, a reorganização dos hospitais, causando muito impacto nas áreas administrativas e assistenciais.” (GIOVANINI, 2014)
Um dos destaques da importância de Florence para a história da Enfermagem foi a sua atuação durante a Guerra da Criméia (1853 – 1856), onde reduziu o índice de mortalidade de forma muito significativa, implementando princípios próprios como a higiene no tratamento dos feridos, oferta da dieta nutricional adequada e a humanização da assistência, focando na saúde mental dos doentes.
Porém as façanhas de Florence voltados para a Enfermagem iniciaram antes da Guerra da Criméia. Dorothea Lynde Dix (1802-1887), foi uma professora que dedicava como voluntária às pessoas com doenças mentais. Foi indicada pelo Ministro da Guerra Norte-Americana para nortear as voluntárias que atuavam no campo de batalha, formando o primeiro corpo de Enfermeiras do Exército. As regulamentações feitas por Dorothea foram baseadas nas anotações enviadas por Florence (OGUSSO, 2014).
Florence é oriunda de uma família com bom padrão econômico, o que lhe permitiu viajar por inúmeras cidades, conhecer diversas culturas, praticando diversos idiomas. Devido ao seu padrão econômico, Florence estava diante das demais moças da sua época no que tange acesso à educação.
A cada cidade que ela viajava, realizava anotações sobre as condições sociais e os cuidados prestados ao doente, estabelecendo comparações com a Inglaterra (OGUSSO, 2014). Florence sempre quis se envolver mais com o processo saúde-doença na prática, todavia era inibida uma vez que os hospitais não eram considerados um ambiente adequado para ser frequentado por mulheres de “boa família”.
Em 1845, surgiu a oportunidade de cuidar de um familiar doente, por conta dessa experiência, ela identificou que não bastava ter carinho, bondade e paciência para cuidar de um doente, era necessário conhecimentos técnicos-científicos, que poderiam ser alcançados com treinamento adequado. Com 31 anos, Florence conseguiu vencer a resistência familiar e iniciou os estudos na instituição de Kaiserswerth (OGUSSO, 2014).
Florence e a Guerra da Criméia
Florence foi pioneira no tratamento dos feridos durante a Guerra da Crimeia. Ao longo de sua atuação no manejo dos feridos, ela identificou que a falta de higiene e as doenças infectocontagiosas eram “carro chefe” na involução do tratamento dos soldados, sendo o motivo dos altos índices de óbitos.
Para mudar essa realidade, Florence implementou no hospital de batalha princípios de gestão ambiental, arejando o ambiente, removendo os leitos de locais contaminados para locais limpos, higienizou os doentes, fez uso de boa dieta, retirou os focos de infecção e acalentou os soldados em suas visitas noturnas com uma lamparina, ato que a tornou a “Dama da lâmpada”, objeto que tornou-se símbolo da Enfermagem.
Através da oferta da higienização física, estrutural e mental, por conta das atividades lúdicas e o meio de contato com os familiares que foi possibilitado aos soldados, a taxa de mortalidade no hospital de batalha foi reduzida de 42,7% para 2% (GIOVANINI, 2014).
A influência de Florence na Enfermagem atual
Os princípios desenvolvidos por Florence, revolucionaram a Enfermagem! Permitindo com que a profissão saísse do patamar da “arte do cuidar” e desse origem ao processo de se tornar “a ciência do cuidar”. Em 1859 Florence apresentou a teoria ambientalista, que possui como foco o meio ambiente, constatando que todas as condições externas influenciam diretamente na vida do paciente. A teoria ambientalista mudou a roupagem da atenção da saúde pública, desencadeando novos caminhos para o sanitarismo.
Na contemporaneidade com a pandemia do COVID 19, os princípios de higienização estão sendo utilizados com bastante intensidade, auxiliando o profissional da saúde a se prevenir e diminuir a proliferação do vírus no ambiente hospitalar, já que em suas anotações Florence descreveu a importância da lavagem das mãos e do afastamento dos pacientes com doenças infectocontagiosas dos demais doentes.
Na assistência, Florence trouxe a humanização. Durante a Guerra da Criméia, Florence possibilitou aos soldados a comunicação com os seus familiares através das cartas. Durante a pandemia os hospitais estão impedindo que os pacientes fiquem com os seus respectivos acompanhantes, sendo uma atitude preventiva para diminuir a proliferação do COVID 19, com isso os pacientes tendem a se sentirem solitários.
Para amenizar a solidão dos pacientes, vários grupos de enfermeirxs vem seguindo os princípios de Florence, possibilitando a esses pacientes uma forma de se comunicar com seus entes queridos.
No Hospital das Clínicas da UNICAMP, um grupo de enfermeiras criou um espaço onde os familiares podem escrever cartas e depositar em uma caixa, onde as enfermeiras entregam aos pacientes. Em várias regiões do país a equipe de Enfermagem está se desdobrando para ofertar acalento aos seus pacientes, em algumas instituições que após o plantão os profissionais realizam vídeo chamadas entre os pacientes e seus entes queridos, como alternativa de a saúde mental e emocional.
Outro marco significativo de Florence na Enfermagem moderna, é o método Nightingale de ensino. Florence sempre estimulou o pensamento científico das suas alunas, fazendo com que elas deixassem de ser profissionais mecânicas e utilizasse o raciocínio clínico para cuidar dos seus pacientes. É fundamental entendermos a fisiopatologia e o porquê da utilização dos manejos que são estabelecidos para tratar e prevenir os processos patológicos.
O método Nightingale trouxe também a importância de o docente do curso de Enfermagem ser um enfermeiro, pois é o profissional mais habilitado para contextualizar sobre as rotinas da Enfermagem, relacionando as dimensões teórico e prática de forma fidedigna. Este método é utilizado até hoje pelas instituições de Enfermagem.
Por fim, sem pretensão de esgotar essa discussão, ensejo que a literatura deste ensaio os estimule a conhecer e compreender a origem, bem como os enfrentamentos vivenciados pelos nossos precursores até chegarmos ao formato da Enfermagem Contemporânea. Parafraseando Maria Stella Azevedo Santos (1925-2018), enfermeira sanitarista, considerada uma das enfermeiras do século por conta da sua
atuação profissional, “quem pula as etapas, não conclui o processo”. Até breve!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATER, Richard. Florence Nightingale: como ela revolucionou nossos hábitos de higiene. Revista Eletrônica Galileu. 2020. Disponível em:<https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2020/04/florence-nightingale-como-ela-revolucionou-nossos-habitos-de-higiene.html>. Acesso em: 02/07/2020.
BORSON, L.A.M.G; CARDOSO, M.S; GONZAGA, M.F.N. A teoria ambientalista de
Florence Nightingale. Revista Saúde em Foco – Edição nº 10 – Ano: 2018.
GEOVANINI, Telma. Tratado de feridas e curativos: enfoque multiprofissional. São Paulo: Riedel: 2014.
OGUISSO T. Trajetória Histórica da Enfermagem. 1ª. ed. Barueri (SP): Manole; 2014.
SARMENTO, Claudia. Florence Nightingale, pioneira da Enfermagem, tem seus princípios lembrados 200 anos depois graças à crise do coronavírus. O Globo. 2020. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/celina/florence-nightingale-pioneira-da-enfermagem-tem-seus-principios-lembrados-200-anos-depois-gracas-crise-do-coronavirus-24350147> Acesso em: 02/07/2020.
LINKS ÚTEIS
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/05/12/dia-internacional-do- enfermeiro-homenageia-mulher-que-virou-referencia-na-profissao.ghtml
https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2020/06/19/apos-o-plantao-enfermeiro-se- voluntaria-para-fazer-videochamadas-entre-pacientes-com-covid-19-e-familiares.ghtml
Série Tempos de Guerra, disponível na Netflix. A série relata de forma indireta como foi a atuação de Florence durante a Guerra da Criméia.