A construção social de meninos e meninas impacta em diversos âmbitos da sociedade. As relações de trabalho são moldadas de uma forma, as crenças sobre seus lugares nas relações afetivas também. O cuidado com a própria saúde não seria diferente.
O estudo “Um novo olhar para a saúde do homem“, feita pela revista Saúde, pela área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril e pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, com 2.405 brasileiros de todas as regiões do país, mostra como isso reverbera:
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Quase 40% dos homens até 39 anos só vão ao médico quando se sentem mal;
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Percentual cai para 20% quando se trata dos homens com mais de 40 anos;
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33% vão ao médico uma vez ao ano.
Procurar o serviço de saúde apenas em situações emergenciais é uma questão preocupante para a saúde masculina. Isso porque o diagnóstico precoce das doenças faz toda a diferença nas chances de cura.
O estudo realizado pela revista Saúde aponta que boa parte dos homens relatam sintomas urológicos que exigiriam ida ao médico: 30% têm necessidade de ir ao banheiro duas ou mais vezes à noite e 20% relatam problemas de ereção. Muitos não consideram, no entanto, que disfunção erétil é fator de risco cardíaco. Além disso, levantar à noite para urinar afeta a qualidade de vida e aumenta o risco de adoecimento.
Até mesmo profissionais de saúde percebem a dificuldade em estimular homens à mudança de atitude com relação à sua própria saúde. O grande desafio é fazer com que eles realizem ações preventivas, de acordo com cartilha do curso “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem“.
Por que homens buscam menos os serviços de saúde?
Alguns fatores explicam o porquê de os homens buscarem menos os serviços de saúde. A forma como foram socializados pode ser considerado o primeiro deles.
A masculinidade é construída, desde a infância até a vida adulta, de modo que o homem não pode demonstrar qualquer fragilidade, logo, o cuidado consigo mesmo poderia configurar alguma vulnerabilidade. Além disso, hábitos, crenças e valores sobre o “ser homem” implica noções autodestrutivas e que não estimula manifestações de cuidado.
Não à toa, homens são mais incentivados a sair, beber, mas não a fazer exames de rotina periodicamente ou buscar atendimento médico diante de sintomas que porventura surjam. Dessa forma, a barreira cultural imposta entre os gêneros coloca no “lado da mulher” o cuidado com a saúde.
Por outro lado, os homens também são socializados para prover. Nesse sentido, descobrir alguma doença, ter de se tratar e ficar dependente do outro impactam na motivação de buscar atendimento médico. É o medo do adoecimento que incorre na ausência ao trabalho e que podem interferir no sustento da família.
Especialistas consideram ainda que o horário de funcionamento das unidades de saúde dificultam o acesso dos homens, por coincidir com o turno de trabalho.
Como contornar a situação
Na cartilha “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem” são sugeridas iniciativas que podem ser adotadas por profissionais de saúde e sociedade, em geral, para incentivar a mudança no comportamento masculino. Existem fatores que dificultam os cuidados, como condição socioeconômica, acesso ao atendimento básico e baixa escolaridade, mas algumas medidas podem ser possíveis:
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Repassar aos homens que a ideia de cuidado é elemento característico do ser humano, não de um gênero;
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Informar os usuários sobre ações de controle social;
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Educar as crianças sobre a importância do cuidado e estimulá-lo ao longo da vida, para que não seja mantido como atribuição das mulheres;
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Investir em ações de inclusão dos homens em lugares típicos de socialização masculina: atividades de vacinação na indústria, ou palestras em campos de futebol e obras da construção civil, ou ainda distribuir preservativos e orientações sobre prevenções às infecções sexualmente transmissíveis em bares;
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Motivar homens a adotar práticas de cuidado e hábitos de vida saudáveis e desconstruir os padrões e estereótipos de gênero.
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