Odontopediatria e ortodontia: A associação para prevenção da maloclusão | Colunista

INTRODUÇÃO

Muito tem se discutido atualmente sobre a importância de uma inter-relação profissional e multidisciplinar como forma de sanar limitações no tratamento dos pacientes. Nessa perspectiva a Odontopediatria e a Ortodontia são especialidades odontológicas que se complementam na prevenção, diagnóstico e tratamento das alterações do crescimento e desenvolvimento craniofacial.

É muito importante começar a cuidar da saúde bucal das crianças desde o aparecimento dos dentes decíduos. Quanto mais cedo começar o trabalho de prevenção, melhores serão as perspectivas de dentes saudáveis ??e bonitos, com mínima intervenção na vida.

A incidência de maloclusões pode ser efetivamente reduzida se os cirurgiões-dentistas diagnosticarem condições incipientes que influenciem no desenvolvimento normal da oclusão dentária (Salzman, 1943). Dessa forma, é valido salientar que o diagnóstico precoce através da associação da odontopediatria e ortodontia podem prevenir e atenuar o grau de severidade das maloclusões. Grande parte das maloclusões são causadas devido a problemas relacionados ao desequilíbrio entre o tamanho dos dentes e das bases ósseas. 

Durante a evolução da oclusão, até o estabelecimento de uma dentição permanente, ocorre uma série de eventos de maneira ordenada e oportuna, resultando em uma oclusão funcional, estética e estável. No entanto, certos fatores podem afetar negativamente a evolução da oclusão e o crescimento de estruturas ósseas adjacentes.

Por meio da ortodontia preventiva consegue-se preservar a integridade da evolução normal da oclusão (Graber, 1972), evitando-se a instalação de determinadas maloclusões. Bem como os procedimentos compreendidos pela ortodontia interceptiva, que podem restaurar a função normal e corrigir certa deformações nas regiões oral e facial (Howat et al., 1992), criando condições para o desenvolvimento normal da dentição e crescimento facial.

ETIOLOGIA DAS MALOCLUSÕES

Toda maloclusão tem origem multifatorial. Muitas das vezes precisa de mais de um fator para ocasioná-la.

Moyers et al., 1991 afirma que existe uma equação que tem as causas (hereditárias, de origem desconhecida, traumatismo, hábito bucal, má nutrição) que atuam em um determinado período (contínuo ou intermitente) e que pode ser na dentição decídua, mista ou permanente, essas causas agem sobre os tecidos (dentes, ossos, músculos) gerando uma maloclusão ou displasia óssea ou disfunção. Geralmente ocorre seguindo essa ordem.

Os fatores etiológicos são divididos em dois tipos: fatores extrínsecos ou gerais, aqueles que não dependem do ortodontista para tratar (exemplos: acidentes, traumatismos, hereditariedade, meio ambiente, moléstias ou deformidades congênitas); e fatores intrínsecos ou locais, que o ortodontista pode tratar (exemplos: cárie, perda dentária prematura, alterações dentárias e hábitos bucais deletérios).

QUAL A ÉPOCA IDEAL DO TRATAMENTO ORTODÔNTICO?

Entender o normal de uma oclusão, reconhecer, identificar desvio de normalidade, e saber quando intervir é de suma importância para o tratamento multidisciplinar entre odontopediatria e ortodontia.

A época correta para realizar a intervenção é algo bastante controverso na literatura, porém o que se observa é que o tempo correto está relacionado ao tipo de alteração que o paciente apresente. A importância da intervenção precoce é que ela proporciona aos pacientes benefícios funcionais relacionados à mastigação, vocalização e deglutição.

Também existem benefícios estéticos porque, por questões estéticas, muitas crianças e adolescentes reclamam de bullying. Para esses dois problemas são necessário tratamento precoce. Além disso, o dentista deve ser capaz de determinar quando recomendar o tratamento para a dentição mista, porque essas medidas podem reduzir a complexidade e até eliminar a necessidade do segundo estágio do futuro tratamento odontológico.

CLASSIFICAÇÃO DAS MALOCLUSÕES

A classificação mais utilizada na ortodontia para as maloclusões é a de Angle (1899), que a classificou em relação aos primeiros molares permanentes. Ele dividiu-a em três classes, classe I, classe II e classe III. A explicação para escolha do primeiro molar permanente como dente de referência está relacionada aos seguintes aspectos: ser o primeiro dente permanente a erupcionar, não depender da esfoliação de nenhum dente decíduo, localizado em área de grande condensação óssea e ser um dente de grande volume.

CLASSE I (Neutroclusão): Cúspide mésio-vestibular do 1º molar superior oclui no sulco mésio-vestibular do 1º molar inferior.
CLASSE II (Distoclusão): Sulco mésio-vestibular do 1º molar inferior oclui mais posteriormente à cúspide mésio-vestibular do 1º molar superior.

  • SUBDIVISÃO: Quando a distoclusão ocorre apenas de um lado do arco dentário, a unilateralidade é expressa como uma subdivisão da divisão.
    Assim, teríamos:
  • CLASSE II – DIVISÃO 1: Incisivos superiores com lábioversão exagerada.
  • CLASSE II – DIVISÃO 2: Incisivos centrais superiores em retrusão e incisivos laterais superiores apresentando uma inclinação labial e mesial.

CLASSE III (Mésioclusão): Sulco mésio-vestibular do 1º molar inferior oclui anteriormente à cúspide mésio-vestibular do 1º molar superior.

  • SUBDIVISÃO: Quando a mesioclusão ocorre apenas de um lado do arco dentário, a unilateralidade é expressa como uma subdivisão.

POR QUE É IMPORTANTE ENTENDER SOBRE OS HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS?

Hábitos bucais deletérios são fatores que rompem o equilíbrio muscular gerando deformidades oclusais e alterações nos padrões de crescimento facial, podendo alterar até a questão óssea não só de posicionamento dentário.

Entendermos sobre os hábitos bucais deletérios é de suma importância porque eles são um dos fatores etiológicos mais prevalentes das maloclusões. Então estudamos porque se soubermos qual a causa podemos: prevenir o aparecimento da maloclusão, definir um prognóstico do tratamento, auxiliar no estabelecimento do plano de tratamento e viabilizar a estabilidade dos casos tratados.

Segundo Cavalcante (1999), HÁBITO constitui uma prática adquirida por uma repetição frequente do mesmo hábito. Que a princípio se faz de forma consciente, mas depois ele se torna inconsciente.

Todo hábito e o efeito sobre a oclusão dependente: duração, frequência e intensidade; também chamada de Tríade de Graber. Os hábitos bucais deletérios podem ser divididos em três grandes grupos: Nutritivos, não-nutritivos e hábitos funcionais. Nas figuras abaixo estão descrito cada um deles.

hábitos bucais deletérios.png (96 KB)

QUANDO INTERVIR?

Os estudos 2,4,6 na literatura convergem para os seguintes casos de intervenção:

  • Mordida cruzada anterior ou posterior.
  • Mordida aberta.
  • Perda precoce de dente decíduo.
  • Hábitos bucais deletérios.
  • Traumas.

APARELHOS UTILIZADOS NA ORTODONTIA PREVENTIVA E INTERCEPTATIVA

Segundo o autor (Mc Donald, Avery, 1995) a principal técnica da ortodontia preventiva é a manutenção do espaço, quando ocorre a perda precoce do dente decíduo.

Já a ortodontia interceptativa consiste em interceptar uma situação anormal já existente, de modo a devolver a oclusão normal (Lopes-Monteiro S. et. al., 2003).

Abaixo listado os aparelho mais utilizados na odontologia preventiva e interceptativa:

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desse compilado de informações é notório observar a importância de uma intervenção precoce das maloclusões, necessitando que o cirurgião dentista esteja preparado para realizar um diagnóstico e correta abordagem de cada caso individualmente. Nota-se a relevância da interdisciplinaridade para atuação desses casos, tendo em vista que o odontopediatra é na maioria das vezes o primeiro profissional procurado para tratamento de crianças.

Realça-se a importância da correlação Odontopediatria e Ortodontia como forma de intervir no desenvolvimento dessa oclusão precocemente a fim de minimizar as consequências que podem acarretar quando o paciente completar sua dentição permanente, podendo assim até eliminar uma segunda fase (ortodontia corretiva). 

Matérias Relacionadas:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Cavalcanti R. V. A. Más oclusões X alterações oromiofuncionais. 1999. Monografia (especialização). CEFAC.

2- GLEISER, R.; SOUZA, I. P. R. Discussion about the ideal time for orthodontic treatment: a research among Pediatric dentists and Orthodontists from Rio de Janeiro. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê,
Curitiba, v. 6, n. 30, p.111-123, mar./abr. 2003.

3- Graber TM. Orthodontics principles and practice. 3ª ed. Philadelphia: W.B. Saunders; 1972.

4- Howat AP, Capp NJ, Barret NVJ. Coloratlas – oclusión y maloclusión. 1ª ed. England: Wolfe Publishing; 1992.

5- JANSON, Guilherme et al. Introdução à Ortodontia. Editora Artes Médicas Ltda, 2013.

6- Lopes-Monteiro S, Gonçalves M da CN, Nojima LI. Ortodontia preventiva x ortodontia interceptativa: indicações e limitações. J Bras Ortodon Ortop Facial 2003; 8(47):390-7.

7- McDonald RE, Avery DR. Odontopediatria. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1995. 608p.

8- Moyers RE. Ortodontia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1991.

9- TOMITA, N.E.; BIJELLA, V.T.; FRANCO, L.J. Relação entre hábitos bucais e má oclusão em pré-escolares. Rev Saúde Pública, 2000.