Enfermeiro docente: uma realidade possível? | Colunista

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Você se formou como enfermeiro recentemente e deseja ser professor? Vem comigo, que vou te contar um pouco dessa experiência.

Ser professor nos tempos atuais, não é uma tarefa fácil. Agora, ser professor no curso em enfermagem é, sem dúvidas, um desafio ainda maior. Além de ter que dominar a arte do cuidar, é necessário dominar a arte do ensinar. Mas é claro que desafio não é sinônimo de impossibilidade, não é mesmo? Ser professor exige paciência em primeiro lugar, além de dedicação e muito estudo.

E acredite quando falo em muito estudo. Para ensinar é necessário aprender, e mais que isso, se antecipar às possíveis perguntas que podem surgir no desenrolar das aulas. Você precisa ter todo o conhecimento teórico que envolve a formação em enfermagem, além de ter a didática necessária para conseguir transmitir o seu conhecimento.

Além de ter muito conhecimento teórico, é necessário também ter uma boa desenvoltura prática. Afinal, para ensinar a teoria você deve ter ao menos uma ideia do procedimento que está ensinando. Sabemos que muitas vezes a graduação não nos proporciona todas as oportunidades de aprendizagem prática que desejamos.

Boa parte dos profissionais acabam aprendendo certos procedimentos na prática profissional, onde a aprendizagem se dá com outros colegas mais experientes. E vale destacar que a aprendizagem construtivista tem grandes vantagens, pois você entende a aplicabilidade daquilo que está aprendendo.

Mas calma, isso não significa que um recém formado não possa ser professor. Apenas terá um pouco mais de trabalho, pois precisará encontrar formas alternativas de adquirir essa prática, ou ao menos, uma ideia visual dos procedimentos que deverá ensinar.

Por exemplo, como você conseguirá ensinar a realizar um curativo se nunca o fez? Acredite, é muito mais fácil ensinar aquilo que se conhece bem.  Uma maneira eficaz de sanar essa lacuna, é através de cursos de capacitação profissional, em especial, aqueles que oferecem modalidade prática, como oficinas e workshops. Muitas instituições oferecem atividades de extensão em determinados campos de conhecimento, e aí está uma boa oportunidade para aproveitar.

Agora, se você ainda não se formou, mas já tem o desejo de ser professor futuramente, deve aproveitar ao máximo seus estágios curriculares, tenha curiosidade ousadia. A curiosidade nos permite adquirir mais conhecimentos e aprender de forma mais satisfatória, pois atribuímos um significado ao aprendizado.

Mas, se você não tiver a oportunidade de vivenciar determinados procedimentos durante os estágios curriculares na graduação, você pode optar por estágios extracurriculares, que além de lhe proporcionar aprendizagem, também lhe recompensará financeiramente.

Se ainda assim, não for possível desenvolver todas as práticas desejadas, você ainda tem outras opções. Pode se candidatar a um estágio voluntário para adquirir mais experiência, ou, procurar pelos cursos extracurriculares e capacitações que oferecem aulas práticas. Faça uma busca na sua região, para saber quais instituições oferecem tais cursos e capacitações.

O importante mesmo é não desistir, manter o foco e buscar todo o conhecimento possível. Ser professor é ser aluno duas vezes. A prática docente, em especial no contexto da enfermagem, requer competência técnica, política, ética e estética. E aqui lanço mais um questionamento: você conhece inteiramente seu código de ética profissional? Se sua resposta for não, o primeiro passo é correr agora para o site do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e explorar com muita atenção a Resolução 564/2017 que trata do novo código de ética profissional de enfermagem.

As instituições de ensino têm sido cada vez mais exigentes e requerem que os professores estejam apropriados de novos saberes e que sejam capazes de gerenciar as diferentes situações que podem surgir no cotidiano em sala de aula. E para isso, a docência na enfermagem não pode ser encarada como uma atividade secundária. É necessário se dedicar ao máximo para essa atividade, com compromisso e responsabilidade.

Se você tiver apenas a graduação poderá atuar como docente no ensino técnico. Em geral, nesse nível de ensino não é requerido ter a formação em nível de mestrado ou doutorado. Mas quer uma dica? Faça pelo menos uma especialização em docência, para lhe facilitar a vida profissional.

Ser professor no ensino técnico em enfermagem é bastante desafiador, pois é uma formação muito mais prática. O perfil desse profissional requer uma atuação mais técnica, para tanto, é necessário uma boa desenvoltura para a execução prática dos procedimentos de enfermagem. Ao mesmo tempo que é desafiadora é muito gratificante essa experiência, pois, para desenvolver a prática é necessário dominar a teoria para compreender o que se faz.

Torna-se um grande desafio encontrar as ferramentas ideiais para possibilitar a construção do conhecimento necessário para a formação técnica, você precisa envolver seus alunos no processo de construção do conhecimento, recorrendo para isso a aprendizagem baseada em evidências, por meio de estudos de casos. Assim, você precisa ter a desenvoltura necessária para criar esses recursos.

Todavia, se sua pretensão é partir para a docência no ensino superior recomendo que faça pelo menos o mestrado, pois as instituições de ensino têm dado preferência aos docentes com formação em nível de mestrado. Não significa que como especialista seja impossível ser docente no nível superior, apenas será um pouco mais difícil.

Em um estudo realizado em uma faculdade na Bahia, verificou-se que todos os docentes do curso de enfermagem tinha formação em nível de especialização e apenas 18% formação em nível de mestrado (MEDEIROS et al, 2018). Vale destacar que a pesquisa foi realizada em uma instituição privada, o que pode ter contribuído para esses dados. Em geral, as instituições públicas de ensino superior exigem um maior nível de formação de seu corpo docente, tendo no mínimo a formação em nível de mestrado.

Todavia, não se pode afirmar que a maior exigência no nível de formação, significa necessariamente, maior qualidade de ensino. Há muitos docentes sem mestrado que se desenvolvem muito bem no exercício da docência. Para ser um bom professor não basta apenas ter bons títulos acadêmicos, é necessário ter empatia, boa comunicação, compaixão, organização e muito amor pela arte de ensinar.

O estudo de Medeiros et al (2018) também apontou que a formação na graduação em bacharel não prepara os enfermeiros para exercer a docência, pois há uma lacuna de disciplinas em formação pedagógica. Mas não desanimem, pois o mais importante é ter a vontade. Quando se tem vontade é possível! Então, nobres colegas, se desejam seguir para a docência aproveitem todas as oportunidades possíveis e sejam os melhores na arte de ensinar.

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REFERÊNCIA

MEDEIROS, E.S.M.; PRESTES, D.R.M.; PIGNATA, E.K.A.A.; FURTADO, R.M.S. Perfil do enfermeiro docente e sua percepção sobre a formação pedagógica. Rev. Recien, v. 8, n. 24, p. 42-53, 2018.