Feridas: a escolha certa da cobertura

O cuidado de feridas é um processo complexo. Por isso, é importante compreender os processos fisiológicos que envolvem a ferida. Quando compreendemos a ferida de forma ampliada reconhecendo suas características e fases de cicatrização, temos em mãos ferramentas para a seleção da cobertura apropriada.

 A capacidade de realizar uma avaliação com acurácia nos permite desenvolver a aptidão necessária para a escola assertiva da cobertura, e assim, obter sucesso na evolução da cicatrização da ferida.

O primeiro passo para a escolha certa da cobertura, é a avaliação da ferida. Então, vamos logo compreender o passo a passo para avaliar uma ferida e depois te conto como vamos escolher a cobertura certa, ok?

Para começar, quero lembrar você de que vamos aprender a escolher a cobertura mais assertiva para a ferida. Não podemos deixar de lembrar que o paciente com ferida é alguém que passa por algum desequilíbrio de homeostase, ou seja, que possui algum fator maior que causou sua lesão. Além disso, esta pessoa possui aspectos sociais e psicológicos que devem ser levados em consideração, além dos físicos.

Vamos então para o passo-a-passo:

Passo 1: precisamos saber a história do paciente verificando sua queixa principal e os fatores que podem estar relacionados a ocorrência de sua ferida. Devemos dar muita atenção aos fatores que possam interferir no processo de cicatrização:  a patologia de base que traz esta pessoa a desenvolver a lesão, medicamentos que ela esteja utilizando no momento, data de início da lesão ou ferida, se ela é recorrente ou não,  presença de dor local e tratamentos anteriores – sejam eles medicamentosos ou naturais-.

Passo 2:  vamos partir para um exame físico do paciente, levando em consideração principalmente os seguintes aspectos:

  • Medidas antropométricas – peso e altura-, localização da lesão, condições da pele em geral – presença de hiperemias, umidade, áreas com hiperemia não reativa que já indiquem isquemia, descamação, entre outras alterações como calosidades, atrofias musculares, ausência de pêlos, alterações de sensibilidade e sinais de inflamação.
  • É muito importante a avaliação de pulsos, principalmente dos pulsos periféricos para detecção de possíveis alterações de perfusão distal associadas a doenças vasculares, renais e hanseníase.
  • A avaliação neurológica, nos ajuda a compreender e detectar problemas de sensibilidade e mobilidade que possam estar causando fatores de risco para o desenvolvimento a má evolução da cicatrização.

Passo 3:  precisamos compreender fatores psicossociais do paciente, que envolvem ansiedade frente à sua imagem corporal frente a ferida e diagnóstico podendo levar ao doente a um nível de estresse maior, prejudicando seu processo de cicatrização. Com relação aos fatores sociais, é importante compreender se a pessoa já buscava tratamento anterior para a ferida e principalmente se tem costumes sociais e religiosos nas práticas de cura – como por exemplo- aplicação de ervas e emplastos locais.

LEMBRETE: durante o estresse, o corpo aumenta a produção de radicais livres que não colaboram para que na pele o nível de ácido hialurônico da matriz de metaloproteínase –ou seja, o meio úmido ideal para cicatrização –  permaneça adequado, além disso, reduz a presença de fibroblastos – as células da segunda fase da cicatrização, que organizam as fibras de colágeno da pele -, fazendo com que ocorra aumento da fase inflamatória e um verdadeiro “desastre na cicatrização”. (Dealey, 2008)

Passo 4: vamos direto ao assunto: AVALIAÇÃO DA LESÃO para escolha da cobertura ideal!

  • Qual a localização da lesão?
  • Como a lesão se apresenta: Qual a intenção da cicatrização? : 1ª intenção ou primária – a cicatrização primária envolve a reepitelização, na qual a camada externa da pele cresce fechada; 2ª intenção ou secundária – é uma ferida que envolve algum grau de perda de tecido; 3ª intenção ou terciária – ocorre quando intencionalmente a ferida é mantida aberta para permitir a diminuição ou redução de edema ou infecção ou para permitir a remoção.
  • Qual a etiologia da lesão: considerar aqui, fatores de isquemia da pele – vascular, por pressão cisalhamento, dermatite associada a incontinência, falência da pele, infecção, doença autoimune entre outras, ou lesão isquêmica em paciente que esteja em cuidados paliativos.
  • Se a etiologia for causada por pressão e isquemia local considerar: : Grau I – ocorre um comprometimento da epiderme, a pele se encontra íntegra, mas apresenta sinais de hiperemia, descoloração ou endurecimento; Grau II – ocorre a perda parcial de tecido envolvendo a epiderme ou a derme, a ulceração é superficial e se apresenta em forma de escoriação ou bolha; Grau III – existe comprometimento da epiderme, derme e hipoderme (tecido subcutâneo); e Grau IV – comprometimento da epiderme, derme, hipoderme e tecidos mais profundos.
  • Avaliar presença de contaminação ou presença de biofilme – filme de bactérias formando uma microcolônia local que deixa o tecido de granulação opaco -. Avaliar neste caso a presença de dor local, pele ao redor da ferida, borda da ferida leito da ferida, presença de exsudato, odor, profundidade e extensão da ferida.
  • Avaliar o tipo de tecido que se encontra naquele momento, presente na lesão, buscando identificar sua fase de cicatrização, e descrevê-lo preferencialmente em percentual. Por exemplo, presença de tecido necrótico, tecido fibrinoso ou com esfacelos, tecido de granulação ou tecido de epitelização.
  • Avaliar a fase da cicatrização: inflamatória, de regeneração ou epitelização, para realizar a escolha correta da cobertura.

ATENÇÃO! Se a lesão estiver em fase de epitelização e usarmos uma cobertura desbridante, por exemplo, podemos atrapalhar a fase de epitelização destruindo o tecido novo que busca fechar a lesão. Ou até mesmo, provocar aumento da chance de cronicidade da lesão, se não utilizar a cobertura certa no momento certo! Portanto, conheça bem as fases da cicatrização da ferida que pretende tratar ok?

Agora vamos a parte mais esperada por todos vocês: a tomada de decisão pela melhor cobertura da ferida! Bom, depois de seguir os passos acima com muita atenção, segue um quadro de consideração sobre as substâncias mais disponíveis nos serviços de atenção à saúde, com sua ação, indicação e contraindicação, para que vocês possam se divertir no estudo, e tomar a decisão correta no tratamento de feridas!

A tabela 1.png (59 KB)

parte 2.png (50 KB)

parte 3.png (72 KB)

parte 4.png (49 KB)

parte 5.png (66 KB)

parte 6.png (13 KB)

Matérias Relacionadas:

REFERÊNCIAS

DOMANSKY, Rita de Cássia; BORGES, Elaine Lima. Manual para a prevenção de lesão de pele. 2a edição. RUBIO: Rio de Janeiro. 2014. 318p.

YAMADA, Beatriz Farias Alves, GONZÁLEZ, Carol, Viviana Serna. A pele nos extremos da Vida. P.57-64. In: Pele: o manto protetor. ANDREOLI, São Paulo: 2015. 288p.

BORGES, Elaine Lima, CARVALHO, Vilma Daclé. Pele Lesada. P. 41 – 49. In.: Feridas: prevenção, causas e tratamento. 1° Edição. Rio de Janeiro: GEN/SANTOS: 2016. 352p.

GEOVANINI, Telma. Tratado de feridas e curativos: enfoque multiprofissional. São Paulo: Ridel: 2014. 475p.

DEALEY, Carol. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. Atheneu, 2008.

BVS – Biblioteca virtual em saúde. Programa Nacional de Telessaúde. Segunda Opinião Formativa ID: sof-21553. Como acontece a cicatrização de feridas e como orientar usuários e equipe no roteiro de acompanhamento. Nucleo de Telessaúde Sergipe, 2015. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/como-acontece-a-cicatrizacao-de-feridas-e-como-orientar-usuarios-e-equipe-sobre-o-roteiro-de-acompanhamento/