Suporte avançado de vida no trauma e emergências médicas dentro da odontologia

Por: Isabela Miquilini e Mariana Mascarenhas
Orientação: Prof. Me. Antônio Lucindo Sobrinho

O trauma é um evento produzido por agentes físicos, químicos e/ou elétricos, ser intencional ou acidental e provocar perturbações locais ou sistêmicas. É uma lesão variável em extensão, intensidade e gravidade.

No Brasil é a terceira causa de morte; atrás de cardiopatias e cânceres. Antes da 5ª década de vida, é o evento que mais mata no nosso país.

O trauma está relacionado à fatores econômicos que são diretamente relacionados ao alto custo para a recuperação do paciente, uma vez que pode ocasionar graves consequências temporárias ou permanentes, ou até mesmo, o óbito. Desta forma, torna-se essencial o desenvolvimento de um sistema eficaz, multidisciplinar e extremamente organizado que otimize com sucesso o atendimento com qualidade do traumatizado ou politraumatizado, a fim de, inclusive, minimizar
taxas de morbidade e mortalidade.

O tratamento de uma vítima de trauma requer uma avaliação rápida das lesões por ele gerada e instituição de medidas terapêuticas de suporte de vida; sendo o fator TEMPO essencial para um sucesso da assistência.

A Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial (CTBMF) é uma especialidade da Odontologia inserida no contexto dos serviços hospitalares e tem como propósito o diagnóstico e tratamento (cirúrgico ou coadjuvante) das lesões traumáticas da região Bucomaxilofacial. Por isso, é de suma importância o conhecimento do profissional para ação diante de um paciente de trauma.

Avaliação Inicial:

Diante de toda e qualquer vítima é regra estabelecer uma abordagem sistematizada baseada nos seguintes itens:

1. Preparação:

a. Pré-hospitalar: Atendimento no local do trauma e providenciar a transferência do paciente a partir da comunicação com o hospital para que haja adequado preparo da emergência para recebimento da vítima
 trauma.

Nesta fase é de extrema importância enfatizar a manutenção das vias aéreas, ao controle da hemorragia externa e do choque, a imobilização do doente e o transporte imediato ao hospital apropriado. Além de reunir informações a respeito do ocorrido, como história e hora do acidente, informações pessoais e histórico médico da vítima (quando possível).

b. Intra-hospitalar: Preparo, recebimento da vítima, possível intervenção imediata e triagem.

Esse processo envolve algumas etapas:

a) Preparação
b) Triagem
c) Exame primário (A, B, C, D, E)
d) Reanimação, estabilização, medidas auxiliares ao exame primário.
e) Exame secundário (AMPLA)
f) Medidas auxiliares ao exame secundário.
g) Reavaliação e monitorização contínua.
h) Cuidados definitivos.

2. Triagem:

Classificação da vítima de acordo com a gravidade das lesões e o tipo de tratamento adequado necessário.

  • Múltiplas vítimas: Apesar de existir mais de uma vítima, a capacidade de atendimento do hospital não é excedida, portanto, os doentes com risco de vida iminente e com traumatismos multissistêmicos serão atendidos primeiro.
  • Vítimas em massa: A quantidade de vítimas e a gravidade das lesões ultrapassam a capacidade máxima de atendimento naquele local, portanto, os doentes com maior possibilidade de sobrevida e consequentemente menor uso de tempo, equipamentos, recursos e equipe, serão atendidos primeiro.

3. Avaliação Primária:

As funções vitais devem ser avaliadas de maneira rápida e eficiente, a partir do XABCDE do trauma.

O QUE É O XABCDE DO TRAUMA?

É a padronização do atendimento ao politraumatizado, definido a partir das prioridades de abordagem, a fim de tornar fácil memorizar todos os passos que devem ser seguidos, além de reduzir os índices de morbidade e mortalidade. Foi desenvolvido para permitir identificar e intervir rapidamente lesões potencialmente fatais. É aplicável a qualquer vítima e independe do quadro clínico ou idade.

Observação: Antes de qualquer abordagem, averiguar a segurança do local, da equipe e o uso de EPI’s.

  • X = Exsanguinação

Controle rápido do sangramento grave antes mesmo do manejo das vias aéreas. Pois, epidemiologicamente, as hemorragias graves matam mais do que a obstrução de vias aéreas.

  • A = Airways (Vias aéreas e coluna cervical):

Manutenção das vias aéreas e imobilização da coluna cervical a fim de assegurar sua permeabilidade.

Procurar sinais de obstrução, como:

– Coágulos
– Fragmentos ósseos
– Corpos estranhos
­ – Prótese
­ – Fraturas faciais
­ – Fraturas de traquéia/laringe

Estabelecer uma via aérea definida (de forma cirúrgica ou não cirúrgica):

­ – Estabilização da coluna cervical, com o uso de colar cervical e prancha rígida. – devemos considerar lesão na coluna cervical em todo paciente com traumatismos multissistemicos
­ – Elevação do mento – CHIN LIFT
­ – Tração da mandíbula
­ – Uso de cânula naso ou orofaríngea
­ – Máscara laríngea

  • B = Breathing (Respiração)

O tórax deve ser exposto para avaliar a partir de auscultação, inspeção visual e palpação de:

– Frequência respiratória
– Movimentos torácicos
– Cianose
– Musculatura acessória
– Desvio de traqueia

Possíveis complicações encontradas: Pneumotórax simples, hipertensivo, aberto ou hemotórax.

  • C = Circulation (Circulação)

O pulso do paciente deve ser avaliado quanto a condição, frequência e regularidade. Neste passo também é necessário fazer uma pesquisa por hemorragias internas a partir dos parâmetros:
­ – Volume sanguíneo visível ou não visível;

­ – Débito cardíaco;
­ – Hipotensão.
­ – Pele fria e pegajosa
­ – Nível e qualidade de consciência

  • D = Disfunction (Avaliação do estado neurológico)

­ – Tamanho e reação pupilar
­ – Avaliação imediata
­ – Identificar sinais de fratura na base do crânio
                    Otoliquorréia;
                    Rinoliquorréia;
                    Sinal de Battle (equimose retroauricular)
­ – Estabelecer escala de Glasgow

glasglow.png (42 KB)

A nova escala varia de 1 a 15 pontos. Sendo a pontuação da resposta pupilar subtraída do total encontrado.

  • E = Exposure (Exposição e controle térmico)

­ – Despir o paciente e investigar presença e extensão de lesões
­ – Aquecer paciente
­ – Possibilidade de uso de soluções cristalóides aquecidas

4. Reanimação:

A partir da avaliação primária medidas auxiliares podem ser tomadas como a reanimação.

5. Medidas auxiliares para o atendimento primário e ressuscitação

Eletrocardiograma; oxímetro de pulso; gasometria arterial; sondas urinárias e sondas gástricas

6. Avaliar necessidade de transferência das vítimas

Avaliação Secundária

Passada a avaliação inicial será realizado um exame físico mais detalhado e será recolhido o histórico do acidente e realizado uma anamnese mais detalhada onde será pesquisado sobre a condição física do paciente, para isso pode utilizar-se também de uma sigla que auxilia a lembrar os principais pontos que devem ser investigados conhecida como “ AMPLA” onde cada palavra recorda o que deve ser investigado, sendo assim:

A– Alergias (investigar se o paciente apresenta alguma alergia medicamentosa)
M– Medicamento (medicamentos de uso contínuo e sua possível relação com patologias prévias)
P– Passado médico
L– Líquido e alimentos ingeridos (informação importante caso o mesmo tenha que ser submetido a um procedimento cirúrgico)
A– Ambiente e eventos relacionados ao trauma

7. Recursos auxiliares secundários

Tomografia computadorizada; angiografia; ultrassonografia

8.Reavaliação

Em seguida será realizado uma reavaliação com um monitoramento contínuo, onde
será continuamente aferido os sinais vitais, saturação e o débito cardíaco do paciente.
 

escala 2  kj.png (34 KB)

9. Cuidado definitivo

Por fim, será definido o diagnóstico completo e o plano de tratamento do paciente.

Matérias Relacionadas:

post_apoio-atualização_1524x200_lp-atualização.jpg (122 KB)

Referências:

1. Emergências Médicas no Consultório Dentário. Conexão UNNA (2013).

2. Matheus Furtado de Carvalho; Rafael Kahale Ricieri Herrero; Diego Rocha Moreira; Eduardo Stehling Urbano; Peter Reher. Princípios de Atendimento Hospitalar em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo- Fac 5458, 79–84 (2010).

3. FURTADO, M. Princípios de Atendimento Hospitalar em Cirurgia Buco-Maxilo- Facial. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.10, n.4, p. 79-84, out./dez.. 2010

4. COMITÊ DE TRAUMA DO COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES; Advanced Trauma Life Suport (ATLS), 9ª Ed 2014.