Cenário da odontologia em meio a pandemia da Covid 19

Muito tem se falado sobre a Covid-19, a mais nova ameaça à saúde global. Essa pandemia demostrou ser causada por um novo coronavírus, que apresenta tempo de incubação estimada de entre 5 a 6 dias, em média, podendo durar até 14 dias, e que, na sua forma mais severa, pode desenvolver a síndrome respiratória aguda grave.

Esse vírus é caracterizado principalmente por sua alta transmissibilidade, onde cada indivíduo infectado geralmente transmite a infecção para mais duas pessoas, e ele está associado à transmissão direta às vias respiratórias por meio do espirro, tosse e inalação de gotículas ou por contato indireto por meio das membranas das mucosas orais, nasais e oculares. Com isso, aerossóis e gotículas foram considerados as principais rotas de propagação.

De acordo com a Dra. Lusiane Borges, cirurgiã-dentista formada pela UMESP e pós- graduada em Controle de Infecção Hospitalar e Epidemiologia pela UNIFESP, o cirurgião-dentista está no topo da lista entre os profissionais de saúde suscetíveis à contaminação pelo novo Coronavírus.

A doutora afirma que o atendimento odontológico apresenta alto risco de contaminação e disseminação do vírus, pela constante geração de aerossol e proximidade das vias aéreas superiores do paciente. Padrões rígidos de biossegurança devem ser utilizados para todos os pacientes, assumindo que qualquer pessoa está potencialmente infectada.

Com isso, o atendimento odontológico disponibilizará medidas mais rigorosas de biossegurança, objetivando o cuidado e zelo com os profissionais e os pacientes.

Como o cirurgião dentista deve se prevenir?

Pré-consulta: Fazer o questionário de risco na recepção e aferir a temperatura dos pacientes e acompanhantes com termômetro de testa.

O que o Cirurgião-Dentista deve perguntar ao paciente na anamnese detalhada:

  1. Teve febre nos últimos 14 dias?
  2. Teve crises de problemas respiratórios, tais como tosse e dificuldade respiratória nos últimos 14 dias?
  3. Esteve em áreas atingidas pela infecção nos últimos 14 dias?
  4. Esteve em contato com alguém com diagnostico de corona vírus nos últimos 14 dias?
  5. Esteve em contato com alguém que estava em áreas de risco, ou alguém com sintomas nos últimos 14 dias? 
  6. Participou recentemente de algum encontro, reuniões ou teve contato próximo com muitas pessoas desconhecidas?
  7. Você é portador de Diabetes, Hipertensão Arterial, Doença Pulmonar, Doença do Coração, Obesidade ou alguma Doença Autoimune?
  8. Você tem mais de 60 anos?

Se o paciente respondeu sim a uma grande parte dessas perguntas e ao aferir a temperatura, apresentou menor que 37,3º, o Cirurgião-Dentista pode adiar o tratamento por 14 dias e instruir o paciente a ficar em quarentena em casa. Se o paciente respondeu sim para muitas dessas questões e a temperatura corporal está acima de 37,3º, o paciente não será atendido e deve imediatamente ser colocado em quarentena e o Cirurgião-Dentista deve encaminhá-lo para o serviço de saúde.

Se o paciente respondeu não para todas as questões e sua temperatura corporal está abaixo de 37,3º, o Cirurgião-Dentista pode realizar o tratamento com medidas extras de proteção. Respondeu não, porém apresentou temperatura acima de 37,3º, o paciente não será atendido e será instruído a procurar o serviço de saúde para cuidados médicos adicionais. Pacientes que apresentarem sintomas de infecção respiratória só deverão ser tratados se houver alguma emergência.

Consultas e recepção dos pacientes

  • Consultórios odontológicos funcionando com hora marcada, sendo necessário fazer o agendamento.
  • Orientar que o paciente use máscara até o consultório
  • O paciente deve ser orientado a ir até o consultório sozinho, ou que, se precisar de acompanhante, seja uma pessoa só. Evitando aglomeração de pacientes e acompanhantes na sala de espera, devendo manter distância de pelo menos 1 metro entre as pessoas.
  • O número de atendimentos por dia em uma clínica ou consultório odontológico vai diminuir, para que evite acúmulo de pessoas em sala de espera, para que dê tempo que o ambiente seja devidamente higienizado entre um paciente e outro, para dificultar a transmissão do vírus.
  • O cirurgião dentista não deve cumprimentar o paciente com aperto de mãos.
  • Ao entrar no consultório, o paciente deve vestir os propés que serão descartados na saída.
  • Antes de entrar na sala de atendimento, a temperatura do paciente deve ser aferida com um termômetro infravermelho, sem contato. Se ele se apresentar com mais de 37ºC, deve ser remarcado para depois de 21 dias.

Na sala de espera, deve-se evitar a aglomeração e, se algum paciente apresentar tosse ou outro sintoma, orientá-lo sobre a necessidade de utilizar máscara. Na recepção, deve ser disponibilizado o álcool 70% em gel, e orientações devem ser dadas quanto à higiene das mãos e quanto ao uso de equipamento de proteção individual (EPI).

O dentista e sua equipe devem chegar antes do horário marcado para preparo da sala de atendimento. As consultas deverão ser as mais espaçadas possíveis. O intervalo sugerido é de 20 minutos entre um paciente e outro e de 2 horas se o dentista utilizar aerossol (ultrassom, caneta de alta rotação ou utilizar os dois botões da seringa tríplice).

Higiene das mãos

Realizar higiene de mãos frequentemente, preferencialmente com a lavagem rigorosa das mãos e fricção com Álcool a 70% em gel. Lavar as mãos antes e depois da retirada das luvas. Secar as mãos com papel toalha.

Limpeza do ambiente clínico

Outro ponto importante durante a consulta é desinfetar todas as superfícies do consultório, pois existem relatos de sobrevivência do COVID-19 por 2 a 9 dias nessas superfícies. Dessa maneira, deve ser realizada limpeza e desinfecção rigorosa dos equipamentos, maçanetas, cadeiras, banheiros, pisos e paredes, com hipoclorito de sódio a 0,1% ou peróxido de hidrogênio a 0,5% e álcool a 70%.

Utilizar barreiras de proteção e trocá-las a cada consulta é um procedimento que também deve ser preconizado. Para a limpeza do biofilme das mangueiras de ar e água prefira utilizar ácido paracético para desinfecção de alto nível e as peças de mão deverão ser autoclavadas para cada paciente e deverão ter válvulas anti-refluxo. É válido lembrar que tudo que for utilizado no atendimento deverá ser limpo, desinfetado e/ou esterilizado para o atendimento de outro paciente.

Para o paciente

Antes de iniciar o procedimento odontológico, é recomendado que o paciente realizasse bochechos com peróxido de hidrogênio a 1% (o Covid-19 é vulnerável à oxidação) ou Iodopovidona a 0,2%, pois esses compostos são capazes de reduzir a carga viral na saliva. Esse bochecho prévio também diminui a contaminação do aerossol.

Minimizar a produção de aerossol

Muitos procedimentos odontológicos produzem aerosóis e gotículas (alta rotação, seringa tríplice, ultrassom, entre outros) que podem estar contaminadas com vírus. Os dispositivos dentários usam ar em alta velocidade para conduzir a turbina e trabalham com água, ou seja, quando esses dispositivos trabalham na cavidade oral do paciente, uma grande quantidade de aerossol e gotículas misturadas com a saliva do paciente ou sangue serão gerados.

Essas partículas podem permanecer no ar por um longo período antes de se depositarem em superfícies do ambiente ou entrarem no trato respiratório de outro individuo. Portanto a propagação aérea é uma preocupação de grande importância em clínicas odontológicas e hospitais, e para minimizar a produção de aerossol é preciso:

  • Usar sugadores potentes, tais como os do tipo bomba a vácuo
  • Evitar RX intra-orais que estimulam salivação e tosse, prefira RX panorâmico ou TC.
  • Evitar utilizar seringa tríplice na sua forma de névoa (spray); Prefira secar com algodão.
  • O aerossol emitido por uma caneta de alta rotação atinge um raio de até 2 metros. É fundamental atenção em locais que precisam ser frequentemente desinfetados.
  • É aconselhável um atendimento de urgência por dia se esse for com geração de aerossol, pois o vírus pode permanecer em superfícies inamimadas por até 9 dias.

Paramentação

  • Luvas de procedimentos não cirúrgicos devem ser utilizadas quando houver contato das mãos do profissional com pessoas que forem suspeitas de estarem contagiadas pelo COVID-19 ou confirmadas.
  • Uso de máscara cirúrgica para toda equipe durante atendimento ao paciente com suspeita ou confirmado para Covid-19. A máscara cirúrgica não deve ser de tecido. Tem que possuir uma camada interna, uma camada externa e um elemento filtrante de partículas.
  • Em procedimentos que geram aerossóis, a máscara que oferece melhor proteção é a N95 ou PFF2. As máscaras deverão ser trocadas a cada paciente e utilizadas com uso complementar do protetor facial.
  • Uso de jaleco/avental descartáveis e impermeáveis com fechamento traseiro. No final do atendimento realizar o descarte.
  • Óculos e protetores faciais devem ser utilizados nos atendimentos a pessoas com síndrome gripal e durante o contato direto com o paciente. Após o uso, deve ser limpo e desinfetado com álcool 70%.
  • Uso de gorro descartável, sendo trocado após cada atendimento.
  • Os calçados, devem ser fechados e com solado antiderrapante.

Retirada dos EPI’s (desparamentação)

Muitas vezes o contágio do profissional acontece nessa fase. Inicie removendo as luvas. Em seguida remova a proteção facial de trás para frente. Remova o jaleco/avental puxando pela região dos ombros. Logo depois, remova gorro e máscara em movimento único de trás para frente.

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Referências

1. RODOLFO, Luiz. COVID-19: o que mudou no consultório? 2020. Disponível em: https://blog.dentalcremer.com.br/covid-19-o-que-mudou-no-consultorio/.

2. BORGES, Lusiane. Pandemia COVID-19 Novo Coronavírus e a Odontologia. 2020. Disponível em: https://www.abo.org.br/uploads/files/2020/04/jornal-abo-edicao-171.pdf.

3. Recomendações AMIB/CFO para enfrentamento da COVID-19 na Odontologia. 2020. Disponível em: http://website.cfo.org.br/wp-content/uploads/2020/03/AMIB_CFO-Recomendac%CC%A7o%CC%83es.pdf.

4. THOMÉ, Geninho; BERNARDES, Sérgio Rocha; GUANDALINI, Sérgio; GUIMARÃES, Maria Claudia Vieira. MANUAL DE BOAS PRÁTICAS EM BIOSSEGURANÇA PARA AMBIENTES ODONTOLÓGICOS. 2020. Disponível em: http://website.cfo.org.br/wp-content/uploads/2020/04/cfo-lanc%CC%A7a-Manual-de-Boas-Pra%CC%81ticas-em-
Biosseguranc%CC%A7a-para-Ambientes-Odontologicos.pdf.

5. MEDRADO, Alena Ribeiro Alves Peixoto; DANTAS, Juliana Borges de Lima; REIS, Júlia Vianna Néri Andrade; LIMA, Nahida Sarhan de. Como evitar a COVID-19 na prática odontológica? 2020. Disponível em: https://www.isaude.com.br/noticias/detalhe/noticia/como-evitar-o-covid-19-na-
pratica-odontologica/.