A pandemia do novo coronavírus tem afetado a todos, de diferentes maneiras. Minorias sociais e comunidades marginalizadas na sociedade, em particular, têm o sofrimento potencializado. Além do risco de contaminação, outras vulnerabilidades se sobressaem devido a condições que existiam antes mesmo de a crise sanitária se instalar.
É o caso da comunidade LGBTI+. O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) e a iniciativa global para a saúde e os direitos de homens gays MPact manifestaram diversas preocupações com o impacto da pandemia nesse grupo social. Por exemplo, o risco de a comunidade ser apontada, buscada e estigmatizada como vetor de doenças durante a pandemia.
Preocupa também a forma como governos podem usar tecnologias para monitorar os movimentos de pessoas nesse período de distanciamento social, já que pessoas gays ou com incongruência de gênero tendem a ser alvos e mais impactados pelo policiamento e pela vigilância. E esse alerta encontra sustentação na realidade, infelizmente. A MPact já tem registro de invasão de casas de pessoas LGBTI+, agressão física, prisões e ameaças de deportações, em países como Uganda e Filipinas.
Nem mesmo a própria casa é um ambiente seguro. A violência doméstica também é um fator de risco para a comunidade LGBTI+, seja por familiares que não os aceitam, seja pela violência dos parceiros. Pesquisa encomendada pela Thompson Reuters Foundation à rede social Hornet ilustra isso: 30% dos gays e bissexuais relatam sentimento de vulnerabilidade em casa durante a pandemia de Covid-19. Foram ouvidas cerca de 3,5 mil pessoas.
Cartilhas orientam
Diante de todo o cenário, os cuidados com a comunidade LGBTI+ durante a pandemia vai além da higienização frequente das mãos, do uso do álcool em gel e do distanciamento social. O cuidado com a saúde mental é um ponto importante, e consta em cartilhas produzidas pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e pela Secretaria Nacional de Proteção Global (SNPG).
Evitar excesso de informações e discussões na internet é um caminho para preservar a saúde mental. Conversar com amigos e amigas, pela internet mesmo, e se manter em contato com a rede de apoio podem ajudar a atravessar esse momento. A atenção é maior para pessoas que já possuem condições pré-existentes, como ansiedade, depressão e ideação suicida.
Ficar em casa sempre que possível é considerada a recomendação básica. Evite ir a bares, academia, boates, festas, saunas, clubes de swing. Se precisar trabalhar, tente oferecer algum tipo de serviço online.
No caso das travestis e transexuais, em que 90% desse grupo tem na prostituição sua fonte de renda, a Antra recomenda buscar sites e plataformas que paguem por stripe tease e exibição online ao vivo. Se não tiver jeito e precisar do encontro presencial, algumas dicas são importantes:
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Evite receber clientes em casa, para não contaminar seu ambiente pessoal;
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Dê preferência a clientes conhecidos ou corriqueiros;
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Evite ficar próxima de outras meninas;
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Leve lenços descartáveis e álcool em gel na bolsa;
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Use máscaras, luvas e evite contato com fluidos corporais;
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Prefira motéis. E tome banho completo ao terminar e ao chegar em casa. use preservativo;
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Se for beber, prefiro caipirinha de limão – com mais limão do que o normal;
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Não compartilhe itens como cigarros, copos, cachimbo;
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Lave as mãos e passe álcool em gel sempre que encostar em alguém.
Cuidados com a saúde
A cartilha desenvolvida pela Secretaria Nacional de Proteção Global (SNPG) alerta também para pessoas diagnosticadas com HIV ou outras infecções sexualmente transmissíveis. O cuidado precisa ser redobrado, já que doenças crônicas são fatores de risco para a Covid-19.
E o mais importante: é preciso manter o tratamento, conforme recomendação do seu médico. Se apresentar qualquer sintoma da Covid-19 – febre, tosse, dificuldade de respirar -, o ideal é procurar atendimento em uma unidade de saúde.
Quem não tiver condições de risco para a Covid-19 deve buscar suporte médico se perceber que os sintomas estão se agravando.