Como agir frente a uma emergência médica no consultório odontológico

 

Condutas aplicadas as ocorrências mais comuns.

Na atuação do Cirurgião-Dentista (CD) o mesmo pode se deparar com diversas intercorrências relacionadas a saúde sistêmica dos seus pacientes, dentre elas estão as emergências médicas que, embora, ocorram com pouca frequência podem gerar dano potencial a vida (ANDRADE et al., 2011).

Emergências são condições clínicas que caso não haja uma intervenção imediata podem levar o indivíduo a óbito ou acarretar sequelas severas. Com o aumento da prevalência de doenças crônicas na população, sobretudo, em adultos e idosos, também ocorre um aumento nos números de intercorrências graves nesses grupos e que podem acontecer durante o atendimento odontológico (MALAMED et al., 2018).

As principais emergências médicas ocorridas no consultório odontológico são: a lipotimia, hipoglicemia, hipotensão ortostática e a síncope. Estas condições ocorrem principalmente no contexto do atendimento cirúrgico e endodôntico, entretanto, são passiveis de ocorrer com outras especialidades (HAESE e CANÇADO, 2016).

Cabe ao Cirurgião-Dentista manejar pacientes em situações de urgência e emergência ocorridas durante o atendimento, promovendo suporte básico de vida (SBV), manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e outras condutas de manutenção da vida até a chegada do serviço móvel de urgência (SAMU) e ou instituição de tratamento especializado em âmbito hospitalar se necessário (QUEIROGA et al., 2012).

No entanto, o que os estudos sugerem que quando questionados, os profissionais da odontologia em sua maioria classificam-se como não aptos a realizar o manejo dos pacientes na ocorrência de urgências e emergências médicas. Outros estudos apontam que grande parte dos consultórios e clínicas odontológicas não dispõem de materiais e equipamentos de suporte básico de vidas e primeiros socorros (HAESE e CANÇADO, 2016).

Conduzir de forma adequada os pacientes em uma intercorrência sistêmica grave no âmbito da prática odontológica, exige do profissional conhecimento técnico, insumos e equipamentos adequados, bem como, a organização e treinamento de sua equipe para executar um trabalho conjunto e eficaz (PIMENTEL et al., 2014).

A principal estratégia para atuar diante de emergências médicas na odontologia, são o estabelecimento de medidas de prevenção e adoção de condutas seguras para minimizar danos e agravos, isso deve partir de uma anamnese ampliada, voltada para avaliação oral e sistêmica integrada dos pacientes.

A avaliação dos sinais vitais, exames complementares, pareceres e recomendações médicas quando indicadas também constituem uma etapa importante (PINTO et al., 2012). O objetivo deste trabalho e abordar as principais medidas de manejo e prevenção das principais emergências médicas no consultório odontológico.

Manejo e prevenção de emergências médicas no consultório odontológico

Situações de emergência médica são desencadeadas na maioria das vezes por, ansiedade, estresse e condições sistêmicas descompensadas ou complicações das mesmas. Estas condições podem ocorrer em qualquer período ou horário, bem como acometer o indivíduo em qualquer idade, também podem ocorrer durante o atendimento odontológico independentemente
do procedimento, nesse contexto o CD deve estar preparado para intervir e prestar a adequada
assistência nesses casos (MALAMED et al., 2018).

Uma anamnese aprofundada, exame clinico minucioso, avaliação de exames complementares, investigação da história médica e odontológica pregressa, doenças de base, alergias e uso de medicações, podem modificar a conduta terapêutica e o tratamento aplicado, evitando ou pelo menos minimizando as chances de um evento de urgência e ou emergência no momento da atuação odontológica (ANDRADE et al., 2011).

Diversas medidas devem ser adotadas antes dos procedimentos clínicos ou cirúrgicos no intuito de diminuir as chances de ocorrência desses eventos, tais como:

  1. Anamnese, avaliação de exames complementares, uso de medicações e alergias.
  2. Avaliação de sinais vitais (PA, FC, FR e T), glicemia capilar em pacientes diabéticos.
  3. Solicitação de parecer do especialista médico, se o paciente apresentar comorbidades sistêmicas descompensadas ou outras complicações avaliadas na anamnese.
  4. Explicar e orientar os pacientes a respeito do tratamento proposto (pré-operatórias e pós-operatórias).
  5. Solicitar exames complementares (hematológicos e de imagem) quando indicados e individualizados para cada caso.
  6. Adotar protocolos de redução de ansiedade frente a pacientes com fobia odontológica e a pacientes não colaborativos em virtude de síndromes e outras condições em que haja comprometimento da cognição, quando indicados e discutido com o médico assistente.
  7. Postergar tratamento odontológico quando o paciente se encontrar sem condições clínicas em relação a doença de base de conhecimento prévio e ou identificada pelo CD e encaminhar para avaliação médica.

Condutas e medidas que devem ser adotadas no trans-cirúrgico:

  1. Comunicar-se com o paciente durante anestesia e outros procedimentos invasivos.
  2. Evitar movimentos bruscos, barulhos extremos e manter instrumentais no campo de visão do paciente.
  3. Manter o paciente em posição confortável e avisá-lo quando for mudar a posição da cadeira.
  4. Fazer pausas em procedimentos longos ou quando necessário.
  5. Promover anestesia eficiente.
  6. Em paciente sob sedação consciente (medicamentosa ou por óxido nitroso), manter monitorização de saturação e sinais vitais.
  7. Evitar manter o foco da cadeira sobre os olhos do paciente.

Condutas diante de emergências médicas no consultório odontológico. Discutiremos as condições mais prevalentes.

Síncope e lipotimia:

A lipotimia pode ser identificada como a sensação iminente de desmaio sem perda da consciência. Já a síncope, estado de perturbação emocional, em virtude de uma hipoperfusão sanguínea no cérebro ou até mesmo uma reação vasovagal, podendo gerar perda da consciência, astenia, visão turva, vertigem, pele fria e sudorese, palidez intensa, cianose, náuseas, êmese.

  1. Interromper o procedimento e comunicar-se com o paciente.
  2. Remover instrumento e matérias da boca do paciente.
  3. Manter vias aéreas pérvias e avaliar sinais vitais.
  4. Manter o paciente em decúbito dorsal com a cabeça lateralizada para evitar broncoaspiração se houver conteúdo de êmese, elevar o membro inferiores.
  5. Oferecer oxigênio suplementar de 3 a 5 litros/min, por meio de máscaras ou cateter nasal.

Hipotensão postural:

É definida como queda abrupta da pressão arterial no momento em que o paciente levanta-se rapidamente após um longo período em decúbito dorsal, podendo acarretar em um episódio de síncope, em função da ação gravitacional sobre o retorno venoso, fazendo com que o sangue permaneça nos membro inferiores, impedindo o retorno ao coração, e reduzindo a PA (MALAMED et al., 2018).

01 – Comunicar-se com o paciente, se o mesmo estiver hiporresponsivo, mantê-lo em posição de Trendelemburg.
02 – Aferir sinais vitais.
03 – Fornecer oxigênio suplementar de 3 a 5 litros/minuto e manter vias aéreas pérvias.

Crise hipoglicêmica:

Condição em que os níveis plasmáticos de glicose encontram-se abaixo de 60mg/dl (miligramas por decilitro), pode ocorrer tanto em pacientes diabéticos quanto em pacientes normossistêmicos, representando risco potencial de vida. Uso de insulina, jejum, prática de esportes sem alimentação prévia, interações medicamentosas, consumo abusivo de álcool, estresse e ansiedade podem gerar hipoglicemia (MALAMED et al., 2018).

  1. Interromper o procedimento, manter o paciente em posição confortável e comunicar-se com o mesmo.
  2. Aferir sinais vitais, mensurar glicemia capilar.
  3. Se consciente pedir que o mesmo faça a ingestão de mel, açúcar, balas ou sucos adoçados a cada 5 minutos e manter observação por 30 minutos.
  4. Se inconsciente administrar glicose a 50% (4 ampolas) ou solução glicosada a 5%(500 ml) por via endovenosa.

Todas as condições aqui citadas podem gerar perda de consciência importante, nas situações em que não houver manutenção do nível de consciência com as manobras apresentadas, nestes casos deve-se acionar o serviço móvel de urgência e encaminha o paciente para atendimento especializado o mais rápido possível.

Conclusão

Com o aumento das doenças crônicas e outras comorbidades surge a demanda por um atendimento odontológico diferenciado e especializado voltado para esses grupos de pacientes com comprometimento sistêmico, em virtude de poderem desenvolver eventos de emergência durante o atendimento odontológico.

Os Cirurgiões-Dentistas (CD), devem buscar capacitação em suporte básico de vida (SBV) e manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), bem como promover a capacitação da sua equipe para que o auxiliem nessas circunstâncias, é de suma importância manter no consultório insumos e equipamentos de suporte básico de vida.

Além da capacitação pessoal e da equipe, o profissional deve manter-se atualizado junto aos novos protocolos de atendimentos de urgência e emergência, também é necessário a instituição de medidas preventivas voltadas para o atendimento desse grupo de pacientes especiais.

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Referências

MALAMED, Stanley F. Emergências Médicas em Odontologia. Elsevier Brasil, 2018.

ANDRADE ED, Ranali J, Neisser MP. Emergências Médicas em Odontologia. 3. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2011.

QUEIROGA, Tadeu Barbosa et al. Situações de emergências médicas em consultório odontológico: Avaliação das tomadas de decisões. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial, v. 12, n. 1, p. 115-122, 2012.

HAESE, Rayane Del Puppo; CANÇADO, Martina Renata Pittella. Urgências e emergências médicas em odontologia: avaliação da capacitação e estrutura dos consultórios de cirurgiões- dentistas. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial, v. 16, n. 3, p. 31-39, 2016.

PINTO, Eduardo Carneiro et al. Urgências odontológicas em uma unidade de saúde vinculada à Estratégia Saúde da Família de Montes Claros, Minas Gerais. Arquivos em Odontologia, v. 48, n. 3, 2012.

PIMENTEL, Alessandra Chirstina de Souza Braga et al. Emergências em odontologia: revisão de literatura. Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, v. 4, n. 1, 2014.