Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, o diabetes mellitus (DM) é considerado um distúrbio metabólico que se caracteriza por uma hiperglicemia persistente, decorrente da deficiência na produção de insulina e/ou em sua ação, ocasionando complicações em longo prazo. De acordo com dados epidemiológicos, estima-se que aproximadamente 14 milhões de brasileiros possuem tal diagnóstico.
Entre as complicações do diabetes, tem-se: retinopatia, nefropatia, neuropatia, doença coronariana, doença cerebrovascular e doença arterial periférica. O diabetes é responsável por 14,5% da mortalidade mundial por todas as causas.
Classificação
O DM é classificada em dois tipos principais. O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, poligênica, decorrente de destruição das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina. O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genético e ambiental caracterizada pela resistência à insulina. Sendo este tipo o mais prevalente entre os indivíduos. Além desses, tem-se a diabetes gestacional e outras formas de DM menos comuns.
Critérios diagnósticos
Para um pessoa saudável, os valores de referência são <100mg/dL para uma glicemia em jejum e menor que 140 de glicemia pós-prandial (até 2 horas após a alimentação); Considera-se pré-diabetes, valores entre 100 e 126 de glicemia em jejum e entre 140 a 200 para glicemia pós-prandial. Tem-se diabetes estabelecido valores de glicemia superiores a 126mg/dL em jejum e maiores que 200 pós-prandial.
A confirmação do diagnóstico de DM requer repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado em segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas; ou glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL na presença de sintomas
Tratamento farmacológico
Para o tratamento da DM tipo 1 tem-se e a insulinoterapia. Enquanto que para DM tipo 2, os antidiabéticos orais, e em estágio mais avançados, associação com insulinas
1) Sulfoniluréias
- Representantes da classe: Glibenclamida, Gliclazida, Glimepirida, Clorpropamida e Glipizida
- Mecanismo de ação: promove o fechamento dos canais de K+ nas células β pancreáticas, aumentando a liberação de insulina
- Efeitos adversos principais: hipoglicemia
2) Glinidas
- Representantes da classe: Repaglinida e Nateglinida
- Mecanismo de ação: ligam-se a receptores específicos, estimulando a liberação de insulina
- Efeitos adversos principais: hipoglicemia
3) Tiazolidinedionas (glitazonas)
- Representantes da classe: Pioglitazona e Rosiglitazona
- Mecanismo de ação: regulam a expressão gênica ligando-se ao receptor PPARγ resultando na diminuição da resistência à insulina
- Efeitos adversos principais: edema e ganho de peso
4) Biguanidas
- Representante da classe: Metformina
- Mecanismo de ação: promovem a diminuição dos níveis de glicose e ocasiona aumento da sensibilização do receptor de insulina tecidual
- Efeitos adversos principais: distúrbios do trato gastrointestinal
5) Inibidores da α-glicosidase
- Representante da classe: Acarbose
- Mecanismo de ação: promovem o retardo da absorção de carboidratos, reduzindo o nível glicêmico pós-prandial
- Efeitos adversos principais: distúrbios do trato gastrointestinal
6) Análogos do GLP-1
- Representantes da classe: Exanitina, Liraglutida e Dulaglutida
- Mecanismo de ação: O GLP-1 é hormônio que promove a redução dos níveis de glicemia após as refeições estimulando a liberação de insulina, diminuindo o glucagon e retardando o esvaziamento gástrico. Tais fármacos são análogos a esse hormônio.
- Efeitos adversos principais: pancreatite, cefaleia e náuseas
7) Inibidores da DPP-4 (gliptinas)
- Representantes da classe: Sitagliptina, Sexapligtina e Linagliptina
- Mecanismo de ação: promovem a inibição da DPP-4, enzima responsável por degradar o GLP-1. Desse modo, ao impedir sua degradação, haverá maiores níveis de GLP-1.
- Efeitos adversos principais: aumento da taxa de infecções urinárias e reações de hipersensibilidade.
8) Insulinoterapia
- Ação rápida ou ultra-rápida: lispro, asparte e glulisina
- Ação curta: regular
- Ação intermediária: NPH
- Ação longa: detemir e glargina
- Efeitos adverso principal: hipoglicemia
Tratamento não-farmacológico
O tratamento não-farmacológico consiste em mudanças nos hábitos de vida dos pacientes diabéticos, com o estímulo a prática regular de exercícios e a mudança nos hábitos alimentares visando o estímulo a uma alimentação balanceada.
Cuidados farmacêuticos
É de suma importância o acompanhamento farmacoterapêutico do paciente diabético, por meio de medidas farmacológicas e não-farmacológicos. De modo a garantir a adesão ao tratamento e o controle dos níveis glicêmicos. Algumas medidas que podem ser realizadas para garantir a segurança e eficácia do tratamento são:
- O tratamento farmacoterapêutico do paciente disciplinar é multidisciplinar, sendo importante a integração do farmacêutico à equipe em todos os níveis de atenção
- Realização do serviço de rastreamento em saúde para detecção precoce de alterações glicêmicas e encaminhamento para o serviço médico.
- Acompanhamento farmacoterapêutico do tratamento, com a solicitação do diário glicêmico (medidas diárias do valores de glicemia especialmente em jejum e após a alimentação) ao paciente para avaliação da eficácia da terapia
- Solicitação de exames laboratoriais para verificar a eficácia do tratamento e evolução clínica do paciente (glicemia de jejum, hemoglobina, exame para avaliação da função renal)
- Para pacientes que fazem uso de insulinoterapia, orientar quanto à aplicação correta das insulinas e à importância do revezamento dos locais de administração para evitar lipodistrofias. Além disso, orientar quanto ao armazenamento correto das insulinas.
- Monitorizar efeitos adversos
- Realizar educação em saúde como ferramenta para prevenir o diabetes
Referências
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018 / Organização José Egídio Paulo de Oliveira, Renan Magalhães Montenegro Junior, Sérgio Vencio. — São Paulo : Editora Clannad, 2017.
STORPIRTIS, Sílvia. Farmácia clínica e atenção farmacêutica. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, c2008. ix, 489 p.
BRUNTON, Laurence L. ((org)). As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Rio de Janeiro, RJ: McGraw-Hill, 2012. xxi, 2079 p.
KATZUNG, Bertram G. Farmacologia: básica & clínica. 10.ed. Porto Alegre, RS: AMGH Editora, 2010. xiii, 1046 p.
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