Metodologias ativas na educação em saúde

Muito se discute acerca da educação do futuro profissional de saúde frente aos desafios atuais da sociedade contemporânea. Conhecidos por suas habilidades e uso frequente da tecnologia, os atuais alunos de cursos de graduação são “nativos digitais”. Tendo contato com a internet por volta dos 6 anos de idade, são usuários frequentes de redes sociais, adeptos a jogos digitais e acostumados a buscarem informações na Internet, como mostram as pesquisas feitas anualmente pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI).

No entanto, há muitas gerações o ensino universitário tem se concentrado na construção do conhecimento baseada em métodos de aprendizagem passiva cujo cerne são as aulas expositivas.

Por outro lado, na aprendizagem ativa, a metodologia de ensino-aprendizagem é a da problematização, fomentando o desenvolvimento do senso crítico, autonomia e protagonismo dos estudantes, características muito importantes para a formação profissional, principalmente nas áreas da saúde.

A aprendizagem baseada em problemas, o método científico e o uso de narrativas, simulações ou atuações em cenários reais de prática são os pilares deste modelo educacional. O uso de metodologias ativas vem sendo
comprovado como um modelo sustentável na melhoria da educação.

Já há alguns anos, instituições públicas e privadas de todo o país oferecem cursos de graduação e pós- graduação no modelo ABP (Aprendizagem Baseada em Problema). Da mesma forma, iniciativas educacionais de aperfeiçoamento e especialização, construídas para garantir a Educação Permanente em Saúde (EPS) de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), vêm sendo fundamentados neste mesmo modelo.

A partir da disseminação e avanço na utilização das tecnologias da informação e comunicação (TICs), qualquer tipo de tecnologia que trate informação e auxilie na comunicação, podendo ser na forma de hardware, software, rede ou telemóveis em geral, o uso de metodologias ativas foi facilitado, dando mais espaço à pedagogia construtivista, que considera que o conhecimento é construído por meio das interações entre sujeitos e o meio.

Os recursos tecnológicos disponíveis são inúmeros: dispositivos móveis, notebooks, óculos de realidade virtual e aumentada, inteligência artificial, além de softwares que utilizam o poder computacional e as vantagens da conectividade proporcionada pela Internet. Com isso, é possível otimizar os recursos educacionais disponíveis e produzir novo material didático informatizado de qualidade.

Alguns aplicativos para Smartphones se destacam na reimaginação da metodologia de ensino-aprendizagem em odontologia. O “BoneBox™ – Dental Lite”, disponível para Android e iOS, por exemplo, oferece modelos anatômicos incrivelmente detalhados da anatomia dental humana.

O “Dental Drugs & Anesthesia”, por sua vez, é uma referência rápida para a prescrição de medicamentos e ajuda no cálculo das doses máximas de anestésico. Outras iniciativas vêm sendo desenvolvidas por grupos de pesquisa, principalmente no âmbito da Realidade Virtual e Aumentada (VR, AR), importante aliada na elaboração de situações de simulação da prática odontológica. Nesse sentido, a oferta educacional se expande à medida que pode ser acessada de qualquer lugar e a qualquer momento.

Apesar de muito avanço ter sido feito na elaboração de ferramentas digitais, a oferta de recursos tecnológicos disponíveis para a educação odontológica ainda é deficiente. No entanto, repensar hábitos obsoletos é sempre uma possibilidade, principalmente no que tange à formação de profissionais da saúde das gerações futuras. Afinal, Piaget, um dos mais importantes pensadores do século XX, afirma: “o ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender; é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola.”
 

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Referências

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