Cavidade Oral: a caixa preta do corpo – Rugoscopia Palatina

O QUE É RUGOSCOPIA PALATINA?
A rugoscopia palatina, também conhecida como palatoscopia, consiste em um processo de identificação humana através do estudo das pregas palatinas quanto à forma, tamanho, quantidade e posição, sendo possível sua aplicação tanto no cadáver recente, como no indivíduo vivo. 

As rugas palatinas são estruturas anatômicas em relevo na mucosa, localizadas no terço médio anterior do palato duro, que se apresenta corrugado por um sistema de pregas, aderidas fortemente ao plano ósseo subjacente. Vale lembrar que, na espécie humana o conjunto de rugosidades palatinas é assimétrico.

Imagens adaptadas cedidas pelo Laboratório de Odontologia Forense da Universidade de São Paulo.

FUNÇÕES
As rugosidades palatinas cumprem as seguintes funções na cavidade oral:

  1. Facilitam o transporte dos alimentos
  2. Evitam a perda de alimento da boca
  3. Participam na mastigação, percepção gustativa e tátil devido à presença de receptores
  4. Retêm a saliva, que é um componente importante para a digestão inicial dos alimentos devido à presença de enzimas responsáveis pela hidrólise
  5. Auxiliam na trituração dos alimentos
  6. Protegem a mucosa do palato de traumas provocados por alimentos duros ou fibrosos
  7. Desempenham papel na fonação, visto que dispersam as ondas sonoras em diferentes direções, o que confere timbre e sonoridade peculiares à voz
  8. Apresentam aspectos únicos, o que proporcionam que sejam utilizadas para a identificação humana

QUAL A SUA IMPORT NCIA NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA?
A formação das rugosidades palatinas tem início por volta do terceiro mês de vida intrauterina, e permanecem imutáveis até certo período após a morte. Não sofrem significativas alterações morfológicas mesmo após tratamento cirúrgico e/ou ortodôntico, frente a doenças, agressão química ou trauma.

A configuração, o comprimento, a largura, o número e a orientação das rugosidades variam consideravelmente entre as pessoas, até mesmo entre gêmeos monozigóticos.

Devido ao preenchimento dos princípios de identificação, que são unicidade, imutabilidade, perenidade, classificabilidade e praticabilidade, a análise das rugosidades palatinas é um método eficiente de identificação.

Todavia, a rugoscopia é o método mais indicado para identificação quando a vítima é desdentada e não é possível a obtenção de impressão digital devido ao estágio avançado de decomposição. E é um método de estudo mais fácil, rápido e barato do que o DNA. Certamente, o potencial para a identificação da cavidade oral é tão grande que alguns consideram a boca como sendo a “caixa preta do corpo”.

REGISTRO E ANÁLISE DAS RUGAS PALATINAS
Existem várias formas de registrar as rugosidades palatinas, como inspeção intra-oral e registro em ficha, fotografias do palato, modelos em gesso e até tomografia computadorizada.

Para uma melhor análise, as rugas são contornadas no material de escolha de forma a serem evidenciadas. Em seguida, é realizada a classificação e a comparação do padrão das rugas do modelo “problema” (indivíduo a ser identificado) com o padrão de outros suspeitos (presentes nos registros odontológicos). Esta etapa do processo pode ser realizada através da superposição de imagens.

LIMITAÇÕES

Por fim, embora a rugoscopia palatina seja um método eficiente de identificação humana, precisamos lembrar que a técnica apresenta algumas limitações: 

  • A análise comparativa somente é possível se houver registros antemortem 
  • Esta técnica, em regra, não é útil na investigação de suspeitos na cena de um crime, visto que neste contexto não se espera encontrar este tipo de prova
  • Não é possível sua utilização quando há comprometimento das rugas da mucosa do palato
  • Não é possível sua aplicação em esqueletos
  • Não há uma padronização das classificações, o que dificulta o treinamento dos peritos.

REFERÊNCIAS
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