Como agir diante de uma emergência médica no consultório?

Já imaginou estar atendendo um paciente e, de repente, ele começar a convulsionar? Ou então, estar realizando um simples procedimento e o paciente começa a ter uma crise asmática? O que fazer nesses momentos? Entrar em desespero com certeza não é a melhor saída! Por isso, devemos estar sempre preparados para as mais variadas situações que podem ocorrer no nosso dia a dia de consultório! 

Emergência médica é toda situação ou condição onde há risco de morte para o paciente em questão, não podendo haver demora nos primeiros socorros. Mesmo sendo um evento imprevisível, as emergências médicas são muito comuns em consultórios odontológicos, pois é um ambiente fora da zona de conforto do paciente, gerando estresse e nervosismo.

Além disso, muitas substâncias utilizadas pelo cirurgião dentista podem desencadear reações alérgicas no paciente, o que requer socorro imediato para reverter a situação. Por lei, o profissional não pode omitir socorro durante uma emergência médica, pois ele responde legalmente pela vida do paciente, como descrito na Lei 5081/66: “Compete ao cirurgião-dentista prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente”. 

Antes de falarmos sobre como agir diante a uma emergência, é importante mencionar o que podemos fazer para evitar ao máximo essas situações. O primeiro passo é a anamnese, momento da consulta onde obtemos informações importantes sobre a história médica do paciente, se ele apresenta alguma doença ou outro problema de saúde, se faz uso de algum medicamento de uso contínuo, se está em tratamento médico no momento, histórico de saúde da família, queixa principal do momento, entre outros.

Todas as informações coletadas auxiliarão na montagem do plano de tratamento do paciente, outra ferramenta importante que nos ajudará a evitar situações indesejadas durante o atendimento. Mesmo realizando uma boa anamnese e um bom plano de tratamento, não podemos evitar totalmente que emergências médicas ocorram, sendo importante ter em mãos alguns medicamentos, substância e equipamentos que fazem parte do Suporte de Atendimento Básico de Emergência (falaremos sobre isso mais adiante). 

 

  1. Quais são as emergências médicas mais comuns e o que fazer diante delas?

As emergências médicas mais comuns em consultório odontológico são: 
Relacionadas ao Sistema Circulatório

  • SÍNCOPE 

Perda momentânea da consciência por falta de oxigenação cerebral. Geralmente, o paciente fica pálido, hipotenso, sonolento e com taquicardia. 

O cirurgião dentista deve avaliar o grau de consciência do paciente e colocá-lo deitado de barriga para cima (posição supina), com os membros inferiores mais elevados. Estende-se a cabeça do paciente para trás, propiciando a passagem de ar, e aguardamos de 2 a 3 minutos à recuperação do paciente, monitorando os sinais vitais até que retome a consciência. Caso necessário, administrar oxigênio (12/15 L/min) e ligar para o SAMU (192).

  • LIPOTIMIA

Desfalecimento sem perda de consciência. O paciente apresenta palidez, suores frios, vertigens, zumbidos e sensação de desmaio. Em caso de lipotimia posicionamos o paciente em posição supina, podendo também levar sua cabeça em direção às pernas com ele sentado, para tentar reestabelecer o fluxo sanguíneo ao cérebro e sua correta oxigenação. Se necessário, administrar oxigênio (12/15 L/min). 

  • CRISE HIPERTENSIVA

Elevação da pressão arterial. O paciente apresenta sinais como cefaleia, epistaxe (sangramento nasal), tontura, mal estar, confusão mental e distúrbios visuais. Interrompemos imediatamente o atendimento, colocamos o paciente em posição confortável e monitoramos seus sinais vitais, além de administrar captopril (25 a 50 mg). Ao término da crise, o paciente deve ser encaminhado o mais rápido possível para avaliação médica. 

  • ANGINA PECTORIS

Dor torácica retroesternal transitória, ocasionada pela diminuição do fluxo sanguíneo coronário. O paciente se queixa de dor ou desconforto no peito (sensação de “esmagamento ou queimadura”), além de sudorese aumentada, palidez e agitação. Diante de uma crise de angina, colocamos o paciente em posição confortável e administramos dinitrato de isossorbida via sublingual (5mg). Se possível, administrar oxigênio. Caso os sintomas não cedam, administrar mais 5 mg. Controlada a crise, o paciente deve ser encaminhado para avaliação médica de urgência. 

  • INFARTO DO MIOCÁRDIO

Infarto é a degeneração do músculo cardíaco devido a uma diminuição acentuada e repentina de fluxo sanguíneo. Clinicamente, o paciente apresenta uma dor severa semelhante à angina pectoris, mas de maior intensidade, podendo relatar que a dor atinge nuca, braço esquerdo e mandíbula, além de ter náuseas, palidez, sudorese e cianose das mucosas (devido à redução do fluxo sanguíneo).

Diante de uma situação de infarto, colocamos o paciente em posição confortável, afrouxamos suas roupas e comunicamos o serviço médico de urgência. Monitoramos os sinais vitais do paciente enquanto o socorro médico não chega e administramos 5mg de dinitrato de isossorbida sublingual, que irá promover vasodilatação. 

Relacionadas ao Sistemas Endócrino

  • HIPOGLICEMIA

Queda dos níveis plasmáticos de glicose no sangue (igual ou inferior a 40 mg). Pode ocorrer em indivíduos diabéticos ou não diabéticos. Nos casos de hipoglicemia, os sinais e sintomas se desenvolvem rápido, caracterizados por náuseas, sensação de fome e alteração no humor, seguidos por sudorese, taquicardia e aumento da ansiedade, podendo evoluir para convulsões e perda de consciência. Em casos de hipoglicemia, fornecemos ao paciente uma fonte de carboidratos simples de rápida absorção (doce, refrigerante, mel) caso o paciente esteja consciente. Caso o paciente esteja inconsciente, administramos 50 ml de solução aquosa de glicose a 50% por via endovenosa por 2 a 3 minutos.  

Relacionadas ao Sistema Nervoso

  • CONVULSÃO e EPILEPSIA. 

Convulsão é uma desordem da função cerebral normal causada por um desligamento momentâneo das sinapses. Já a epilepsia é uma síndrome médica na qual existem convulsões recorrentes e involuntárias. O paciente apresenta contrações musculares involuntárias, movimento desordenados, desvio dos olhos e tremores.

Em caso de convulsão, removemos objetos ou instrumentos da boca do paciente (para evitar deglutição acidental), deixando-o em posição supina. Afrouxamos roupas apertadas, protegemos sua cabeça com a mão, toalha ou travesseiro e lateralizamos a cabeça para que a saliva escorra e ele não se engasgue. Também reduzimos estimulação sensorial (como luz e barulho) e evitamos aglomeração de pessoas em torno do paciente.

Caso haja necessidade, alguns medicamentos podem ser administrados, como Midazolam e Diazepam (0,2 a 0,3 mg/kg via intramuscular). As crises duram, em média, 5 minutos. Ao término, permitimos que a pessoa descanse ou até mesmo durma, posicionando-a em decúbito lateral, com uma das pernas flexionadas e a outra estendida. O paciente deve ser encaminhado a um centro hospitalar, sendo recomendado ficar em observação, no mínimo, de 8 a 12 horas, pois novas crises podem ocorrer. 

  • ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) 

Desordem neurológica resultante de hemorragia intracerebral. Seus sinais e sintomas são bastante variados, no entanto a fraqueza é o sintoma mais comum, podendo estar associado também à dormência em um dos membros ou face, cefaleia, vômitos e diminuição/perda de consciência. A fala também pode se alterar. Em casos de sinais de AVC, interrompemos imediatamente o atendimento, solicitamos atendimento médico de urgência (SAMU – 192) e monitoramos seus sinais vitais até a chegada de atendimento. 
 

Relacionadas ao Sistema Respiratório e Imunológico

  • OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS POR CORPO ESTRANHO

Durante o tratamento odontológico, são grandes as chances de objetos caírem na parte posterior da cavidade oral e interromper a respiração do paciente. Os sinais mais comuns são tosse, incapacidade de falar e pânico, podendo evoluir para incapacidade de respirar e perda de consciência. Caso o paciente não consiga expelir o corpo estranho sozinho (neste caso, tossindo), a manobra de Heimlich é recomendada e deve ser corretamente realizada:

1. Posicione-se por trás do paciente, colocando seus braços ao redor da cintura e abaixo dos braços do paciente. 

2. Mantenha uma posição estável de modo que você não caia para trás ou para os lados durante o procedimento.

3. Feche uma das mãos. Posicione essa mão fechada na altura média do abdômen, um pouco acima do umbigo do paciente e bem abaixo do apêndice xifoide. Se a vítima for gestante ou obesa, as compressões torácicas devem ser administradas no lugar das compressões abdominais.

4. Junte a mão que está fechada com a outra mão, pressionando rápido e fortemente a mão fechada contra o abdômen do paciente, fazendo movimentos para dentro e para cima. Cada compressão deve ser forte o suficiente para deslocar o corpo estranho.

5. Caso o paciente seja tratado com sucesso, ele deve ser avaliado em relação à presença de possíveis complicações antes de ser liberada do consultório. 

  • REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE OU ALERGIA

São mediadas pelo sistema imunológico e associadas a anestésicos locais, medicamentos anti-inflamatórios e antimicrobianos. Em casos mais leves, prescrevemos ao paciente anti-histamínicos por via oral, como loratadina. Em casos mais graves, como de choques anafiláticos, medidas devem ser tomadas logo no consultório. Solicitamos auxílio médico emergencial (SAMU – 192) e monitoramos os sinais vitais do paciente. Também é recomendada ventilação do paciente (oxigênio 6L/min). Administramos adrenalina (0,3 ml) subcutâneo ou intramuscular e cloridrato de prometazina (anti-histamínico, 50 mg via intramuscular). 
 

2. Quais os equipamentos e medicamentos que devo ter em meu consultório para casos de emergências médicas?

É recomendado que todo consultório odontológico tenha um Suporte de Atendimento Básico de Emergência. Entre os equipamentos que compõem esse suporte estão: ambu (respirador manual), estetoscópio e esfigmomanômetro, cilindro de oxigênio, insulina, oxímetro, adrenalina, anti-histamínicos, captopril 12,5mg, hidroclorotiazida 25mg, Dramin B6, soro fisiológico, AAS infantil, isordil e fontes de açúcar (mel, refrigerante, chocolate ou glicose 50%). É importante prestar atenção na data de validade dos materiais e medicamentos, para que não sejam administrados fora do prazo de validade. 

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