Assistência Odontológica à pessoa com Transtorno do Espectro Autista

 

Apresentado por Kanner em 1943, o termo “autismo” é originado do grego “autos” = comportamento de voltar-se a si mesmo e “ismo” = sufixo para a condição em que se define a característica principal do paciente de viver voltado ao seu próprio mundo. O transtorno de espectro autista (TEA), é, cientificamente, um distúrbio no neurodesenvolvimento que atinge seu pico em até 30 meses de vida, sendo, portanto, difícil o diagnóstico tendo em vista a fase de crescimento da criança. Possui predileção pelo gênero masculino em proporção média de 1:5, todavia, o sexo feminino pode ser mais seriamente afetado e independe de etnia ou classe social.

TEA é uma desordem incapacitante do desenvolvimento mental e emocional que afeta três âmbitos principais: comunicação, aprendizagem e relacionamentos. Alterações comportamentais, de linguagem e motoras são fatores que tornam perceptíveis o comprometimento do desenvolvimento a partir de sinais claros do transtorno, como:

 

  • Aversão a contato físico ou visual.
  • Falta de afeto por qualquer pessoa (inclusive os próprios pais).
  • Movimentos repetitivos e estereotipados.
  • Aprendizado mecânico de palavras e frases – Repetem aquilo que lhes é dito.
  • Ausência ou dificuldade de comunicação oral e de desenvolvimento de relações sociais.
  • Pânico diante qualquer alteração mínima no ambiente.
  • Falta de capacidade imaginativa.
  • Sensibilidade extrema à estímulos visuais e auditivos – Levando por consequência a reações inesperadas independentemente do local.
  • Falta de capacidade imaginativa – Não conseguem, inclusive, brincar.
  • Referem-se a si mesmos na terceira pessoa.
  • “TOC”
  • Fixação por objetos.

 

Sendo assim, considera-se necessário por parte dos profissionais de saúde o conhecimento do transtorno para a identificação (quando não diagnosticado) e melhor condução de atendimento e tratamento partindo de critérios baseados na condição oral destes pacientes e o meio que estão inseridos. Sabe-se que ocorre um desalinhamento no cuidado bucal como reflexo da maior preocupação da família com o transtorno propriamente dito, somado também às próprias dificuldades apresentadas pelo portador, que impedem o devido cuidado.

Desta forma, a iniciativa deste artigo é orientar o profissional de saúde quanto ao atendimento, condicionamento e manejo dessa classe de pacientes especiais. Sendo assim:

  • Deve-se realizar uma anamnese minuciosa, com a presença de um responsável – Relatando, inclusive, possíveis acontecimentos anteriores quando em consulta com um profissional de saúde.
     
  • Criar e planejar uma rotina de atendimento para o paciente, realizando várias visitas ao consultório antes de iniciar o tratamento – É importantíssimo manter sempre o mesmo dia, horário e equipe profissional, pois o paciente necessita de uma continuidade.
     
  • Realizar consultas curtas, bem estruturadas e evitar espera na recepção.
     
  • Utilizar comandos claros, curtos e simples. Sempre evitando palavras que provoquem medo.
     
  • Reduzir a estimulação sensorial, como luz forte, sons e odores.
     
  • Sempre utilizar a técnica do “Dizer, Mostrar e Fazer” para que o paciente se familiarize, não esquecendo do reforço positivo ao final – É interessante esquematizar as consultas com figuras e explicar cada etapa do tratamento, bem como instruir aos pais que esta prática seja feita em casa também.
     
  • Individualizar a abordagem ao atendimento usando como critério a responsividade do paciente.
     
  • Priorizar a prevenção de patologias orais, realizando a orientação de higiene bucal.
     
  • Ignorar comportamentos inadequados do paciente, como a automutilação – No entanto, se o comportamento automutilador persistir e se tornar realmente agressivo, a ajuda médica se faz necessária.
     
  • Realizar contenção física apenas em casos visivelmente necessários – Em situações que o condicionamento é impossível, opta-se pelo tratamento sob anestesia geral em ambiente hospitalar.
     
  • Ter cautelas ao prescrever medicamentos devido a possíveis interações com fármacos já utilizados pelo paciente.
     
  • Nunca realizar o atendimento sem a presença dos pais ou responsáveis dentro do consultório.
     

Tais orientações, somadas ao estudo prévio da condição serão facilitadores do sucesso deste tipo de atendimento de características tão únicas. É válido salientar por fim que, condições especiais não devem ser consideradas como “tabu”, é extremamente necessária a abertura de diálogos e discussões acerca do assunto para que ocorra a distribuição de informações e assim, esses pacientes e suas famílias possam ser incluídos de uma forma mais orgânica, genuína e adequada na sociedade.

 

Artigo escrito por: 

Isabela Miquilini (Estudante do 9º semestre de Odontologia na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública em Salvador/BA)

 

Referências:

 

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