Saiba tudo sobre vacinação em animais de companhia

A vacinação é um procedimento super recorrente no dia a dia da clínica médica. Você gostaria de aprofundar mais seus conhecimentos acerca deste procedimento de imunização? Trouxemos este material abordando os seguintes pontos:

Grupo de vacinas conforme a indicação

  • Vacinas essenciais:  as doenças envolvidas possuem significativa morbidade e mortalidade, são distribuídas amplamente nos territórios ou são exigidas por lei.

  • Vacinas não essenciais (opcionais): devem ser consideradas de acordo com o risco de exposição, conforme distribuição geográfica da doença e no estilo de vida do animal.

  • Vacinas não recomendadas: são aquelas contra doenças que respondem prontamente a tratamento, os riscos de efeitos colaterais são maiores que os benefícios ou não há evidências quanto à eficácia da vacina.

Imunidade passiva natural

Logo nas primeiras horas após o nascimento, os filhotes devem se alimentar do colostro materno, pois é por meio deste que ele receberá os anticorpos (imunoglobulinas) que o protegerão em suas primeiras semanas de vida contra as principais doenças infecciosas. A eficiência e a duração da proteção conferida pelo colostro dependerão de alguns fatores, tais como:

  1. Qualidade do colostro: diretamente relacionado a imunidade da própria mãe;

  2. Quantidade de colostro ingerido: dependerá do tipo do parto (se natural ou cesáreo), da habilidade materna, do vigor dos filhotes, do tamanho da ninhada, dos cuidados com a ninhada durante e logo no pós-parto, etc;

  3. Momento em que o colostro foi ingerido: os anticorpos do colostro só transpassam a barreira intestinal do filhote nas suas primeiras horas de vida, após esse período a barreira intestinal se fecha impedindo qualquer absorção de anticorpos, por tanto quanto mais cedo o filhote receber o colostro mais eficiente será sua absorção.

Janela de Suscetibilidade

Com o passar das semanas o título (quantidade) de anticorpos recebidos pelo filhote através do colostro vai naturalmente reduzindo.

O que chamamos de Janela de Suscetibilidade é a fase em que o filhote já não tem mais os títulos de anticorpos maternos em níveis suficientes para impedir uma infecção ambiental, porém esses anticorpos ainda estão altos a ponto de bloquear a indução da imunidade por meio das vacinas comerciais, ou seja, é uma fase crítica para o filhote do ponto de vista sanitário.

Estudos demonstram que para a maior parte dos filhotes essa janela está entre 6 até 12 semanas de vida, sendo que para 10% dos animais ela pode estender-se até as 16 semanas.

As idades consideradas dentro da janela de suscetibilidade possuem fundamento científico e são utilizadas de forma geral para toda a população, pois o uso de testes sorológicos individuais para determinar a queda da imunidade passiva e momento exato para a aplicação da vacina para cada animal ainda não fazem parte do uso comum na rotina clínica veterinária, até mesmo por questão de custo, logística, entre outros.

Esquema vacinal em filhotes de cães

Considerando a variabilidade que pode ocorrer na Janela de Suscetibilidade para cada indivíduo e os riscos que as principais doenças podem representar para uma ninhada ou até mesmo para um plantel, o grupo de especialistas do WSAVA recomenda o início da vacinação com vacina polivalente (múltipla) por volta de 6 a 8 semanas de idade, repetindo com intervalos de 2 a 4 semanas entre as doses até que a última dose seja realizada por volta das 16 semanas, dessa forma, conforme a idade de início da vacinação e o intervalo entre as doses, é possível que cada filhote receba de 3 a 5 doses desta vacina.

Essas múltiplas doses são nada mais do que uma tentativa de acertar o momento em que os níveis de anticorpos maternos já não tenham mais o efeito de “bloqueio” contra o vírus vacinal e assim proteger o filhote antes que esse tenha contato com o vírus vivo no ambiente.

Depois de concluído o esquema de vacinação por volta de 16 semanas, as diretrizes ainda recomendam que uma dose de “reforço” seja aplicada entre os 6 a 12 meses de idade garantindo a proteção dos cães que por ventura ainda estavam com títulos de anticorpos maternos acima do limite no momento da última dose do programa inicial. Anteriormente essa dose de “reforço” era indicada somente aos 12 meses de idade ou 12 meses após a última dose da vacina polivalente.

Em casos de regiões ou criações com elevado desafio sanitário se indica ainda uma vacinação precoce exclusiva contra Cinomose + Parvovirose com 4 semanas de idade, conforme indicação do laboratório, utilizando-se uma vacina altamente imunogênica capaz de ultrapassar a barreira de anticorpos maternos e iniciar a formação de anticorpos de forma ativa.

 

Esquema vacinal em cães adultos

Conforme as diretrizes do WSAVA, a partir da realização do “reforço” da vacinação entre os 6 a 12 meses de idade, só seria necessário nova dose das vacinas essenciais a cada 03 anos devido a longa duração da imunidade vacinal para cinomose e parvovirose. Já para alguns antígenos vacinais a duração da imunidade é menor e a revacinação indicada é anual como, por exemplo, para Leptospirose, Parainfluenza e Raiva.

Considerando que as vacinas comerciais polivalentes apresentam vários antígenos e que cada antígeno vacinal confere uma imunidade por diferentes períodos no organismo, esse se torna um aspecto a ser avaliado pelo Médico Veterinário quanto ao protocolo a ser seguido em cães adultos.

Em resumo, as orientações das Diretrizes do WSAVA é que se amplie o número de doses vacinais ou distribuição delas durante a janela de suscetibilidade dos filhotes, porém para a vida adulta do animal as diretrizes apontam que se faça uma redução na frequência do uso de vacinas essenciais (de anual para trienal/caso possua a vacina reduzida ou separada das não essenciais), que se faça o uso quando realmente necessário das vacinas não essenciais e que não se utilize as vacinas não recomendadas.

Ainda assim, a eleição das vacinas a serem utilizadas e suas frequências devem seguir os critérios veterinários que o justifiquem conforme cada caso.

Vacinação em gatos

As vacinas para gatos são algo de extrema necessidade para que a saúde e o bem-estar dos bichanos possam ser constantes, e quem deseja ter um felino como parte da família deve estar ciente da importância que essa imunização tem na vida dos animais. Levando em conta que o sistema imunológico dos gatos filhotes ainda não é completamente desenvolvido, esse cuidado se torna ainda mais preciso na primeira fase da vida dos bichanos, que podem garantir sua proteção contra problemas graves na saúde dos felinos.

Imunizando os gatos de doenças como Panleucopenia, Rinotraqueíte, Calicivirose, e Clamidiose, a vacina quádrupla – conhecida como V4 – é, na maioria das vezes, a escolha de quem busca a proteção de seus novos gatinhos. Entretanto, o mercado conta, ainda, com a versão V3 e V5 de vacinas para gatos, sendo que a diferença entre elas está na quantidade de antígenos presentes na sua formulação (conforme explicaremos ao longo do artigo). 

Calendário de vacinas para gatos

As vacinas mais importantes para manter seu bichano longe dos principais perigos felinos são a vacina polivalente e a vacina antirrábica; sendo que a polivalente pode ser encontrada em três versões diferentes: tríplice, quádrupla e quíntupla – respectivamente chamadas de V3, V4 e V5. Conforme citado anteriormente, a diferença entre elas se dá em função da quantidade de antígenos contida em cada uma.

A V3 (Vacina Tríplice) previne os gatos contra Panleucopenia, Rinotraqueíte e Calicivirose; enquanto a V4 (Vacina Quádrupla), além de todos os antígenos contidos na V3, inclui a proteção contra a Clamidiose; A V5 inclui todas mais o vírus da leucemia felina (FELV).

Confira, abaixo, como seguir os intervalos corretos entre as doses para proteger o seu gatinho:

  • Aos 60 dias de vida: 1ª dose da polivalente V3, V4 ou V5

  • Aos 90 dias de vida: 2ª dose da polivalente V3, V4 ou V5

  • Aos 120 dias de vida: 3ª dose da polivalente V3, V4 ou V5 e a vacina antirrábica

Conforme detalhado acima, cada uma das doses destas principais vacinas para gatos devem ser administradas com um intervalo de 30 dias, sendo que a primeira dose só pode ser dada ao bichano a partir de seus 60 dias de vida.

Principais doenças que serão imunizadas

Panleucopenia -> Febre, vômitos, inapetência, prostração e diarreia são alguns dos sintomas em animais infectados. Pode prejudicar a coordenação motora de filhotes. É transmitida por meio do contato com animais doentes ou objetos contaminados.

Rinotraqueíte -> Altamente contagiosa, tem como sinais espirros, secreções nasais, rinite, salivação, conjuntivite, febre, falta de apetite. É causada pelo herpesvírus e pode levar filhotes a óbito.

Calicivirose -> Tem sintomas semelhantes à rinotraqueíte viral, mas causa úlceras na cavidade oral do animal.

Clamidiose -> Afeta a conjuntiva dos animais, que é a membrana que recobre a parte frontal do globo ocular, posteriormente atingindo o sistema respiratório. Entre os sintomas estão a conjuntivite, corrimento nasal e ocular persistente, espirros, dificuldade respiratória, febre, falta de apetite, pneumonia e prostração.

Leucemia Felina (FeLV) -> Causada pelo vírus FeLV (Feline leukemia virus), compromete as defesas imunológicas, tornando os bichanos vulneráveis a doenças infecciosas, lesões na pele, desnutrição, cicatrização mais lenta de feridas e problemas reprodutivos. A infecção se dá pelo contato com saliva, urina e fezes de animais infectados, portanto, o simples fato de dividir a mesma tigela de água com um gato doente é suficiente para contaminar o sadio. Gatas prenhas podem transmitir o vírus pelo parto ou pelo leite a seus filhotes. Entre os sintomas estão perda de peso, secreção nasal e ocular excessiva, diarreia persistente, imunodeficiência e tumores em células linfáticas.

Raiva -> Responsável por alterações no sistema neurológico, a raiva não tem cura, e a única forma de prevenção é a vacina. Alterações de comportamento, fotofobia (medo de luz), agressividade, hidrofobia (medo de água) e falta de apetite são alguns dos sintomas mais comuns da doença.

 

Vacinação de gatos filhotes

Embora a necessidade das vacinas para gatos seja ainda maior quando filhotes, é preciso lembrar que os felinos não devem ser vacinados antes dos 60 dias de vida, já que os anticorpos passados de mãe para cria podem interferir na eficácia das vacinas, fazendo com que a imunização do gatinho não seja completa.

Outro cuidado que deve ser tomado antes de vacinar o felino – em qualquer idade – é o de certificar-se de que ele está saudável e sem sintomas como febre ou diarreia, por exemplo.

Vale a pena lembrar que, por seus sistemas imunológicos ainda não estarem completamente desenvolvidos, gatos filhotes não devem ser expostos às ruas ou a outros animais enquanto não tiverem tomado todas as vacinas necessárias aos felinos; já que, nesta fase, o risco de contaminação por qualquer tipo de doença é muito maior. 

 

Vacinação de gatos adultos

Independentemente da idade do gato, a vacinação segue como item imprescindível. Como estes já apresentam o sistema imune formado, basta uma dose da polivalente e uma dose da antirrábica. Feito isso, basta reforçar a dose todos os anos para mantê-lo longe de problemas.

Gatos adultos também devem estar saudáveis e vermifugados para que possam receber toda a proteção oferecida pelas vacinas, e a consulta com um médico veterinário é imprescindível – principalmente, se o felino tiver sido adotado das ruas, pois tem mais chances de ter sido exposto a diferentes doenças e zoonoses.

 

Reações das vacinas para gatos

Há uma série de reações que podem ser desencadeadas nos gatos que recebem vacinas e, embora não sejam tão frequentes, é importante a atenção aos sinais.

Durante a primeira imunização dos felinos, infelizmente, não é possível prever complicações; no entanto, há medidas que podem ser tomadas pelos veterinários para diminuir reações em gatos que já demonstraram uma tendência para problemas desse tipo. Estas precauções serão tomadas de acordo com os motivos da reação do animal e, em alguns casos, a administração de antialérgicos ou anti-histamínicos pode ser recomendada antes da vacinação.

Coceiras na cabeça e no rosto, dificuldades respiratórias, vômitos e falta de coordenação são alguns dos sintomas mais frequentes em bichanos com reações às vacinas. Reações que incluem paralisias localizadas e um andar manco do bichano podem ser causadas em função da maneira com que a vacina felina foi aplicada, e não pelo seu conteúdo.

Sarcoma de aplicação

Sarcoma é um tipo de tumor maligno, ou seja, um câncer. Infelizmente os gatos apresentam certa predisposição em desenvolver sarcomas de pele no local de injeções e, por isso, essa neoplasia é chamada de sarcoma de aplicação. O termo sarcoma vacinal vem sendo cada vez menos utilizado, isso porque qualquer injeção que provoque um processo inflamatório local pode causar sarcoma.

Qualquer tipo de injeção que provoque inflamação local pode causar sarcoma, mas existem alguns tipos de injeção que estão mais relacionados com esse tumor.

Já foram relatados em aplicações de vacinas contra raiva, leucemia, calicivirose, panleucopenia e rinotraqueíte, ou seja, todas as que temos disponíveis no Brasil. Além dessas, alguns tipos de antibióticos e cortisonas também já foram relacionadas com o sarcoma.

A incidência do sarcoma varia entre 1 a 10 casos a cada 10 mil vacinas aplicadas.

Curiosamente não existe relação entre sarcomas de pele e aplicações de insulina, mesmo nos animais que recebem duas doses diárias.

É importante salientar que o desenvolvimento do tumor está mais relacionado com o animal do que com a injeção propriamente dita. O que significa que nem todo animal que receber essas injeções desenvolverá o tumor.

 

Esperamos ter ajudado com este conteúdo. Um forte abraço e rumo à aprovação!