A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterapêutica desenvolvida pelo psiquiatra norte-americano Aaron Beck e colaboradores,junto com o movimento denominado Revolução Cognitiva (período no qual vários estudos estavam sendo realizados sobre as cognições humanas). Nesse artigo, trataremos dessa abordagem e falaremos sobre os seguintes tópicos:
- Breve Histórico
- Níveis de processamento cognitivo
- Princípios da TCC
- Distorções Cognitivas
- Técnicas Cognitivas
Breve Histórico
Apoiado em sua orientação psicodinâmica, Beck observou e verificou o conteúdo de pacientes deprimidos percebendo e descrevendo em uma série de trabalhos publicados uma conceitualização cognitiva da depressão, na qual, estes apresentam atrelados aos sintomas um estilo negativo de pensamento sobre si mesmo, sobre o mundo e o futuro (Tríade cognitiva negativa).
Propôs então uma terapia cognitivamente orientada a reversão das cognições disfuncionais e comportamentos, a qual foi testada e depois estendida aos mais variados quadros clínicos.
Com contribuições do Behaviorismo Radical métodos comportamentais foram incluídos, visto que, para Beck, eles eram ferramentas eficazes na redução de sintomas e relacionavam-se com a cognição, ocorrendo então nesse período uma unificação das formulações cognitivas e comportamentais.
Por conseguinte, a TCC tornou-se uma das formas mais amplamente praticadas de psicoterapia, tendo como fundamentos básicos a ideia de que as cognições gerenciam as emoções e comportamentos, assim como o modo o qual nos comportamos pode afetar nossos padrões de pensamentos e emoções (enfatiza o papel das cognições na gênese e desenvolvimento dos transtornos mentais).
Ademais, baseia-se também no preceito de que as cognições podem ser monitoradas e alteradas e que as mudanças comportamentais desejadas são obtidas a partir de alterações cognitivas subjacentes.
Níveis de processamento cognitivo
Na Terapia Cognitivo Comportamental é postulado a existência de 3 níveis básicos de processamento cognitivo:
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Pensamentos automáticos: são privados e ocorrem de maneira breve e fugaz. Podem ocorrer na forma verbal, de imagens, pequenos filmes ou flashs. Fazem parte de um padrão habitual de pensamentos, por isso temos dificuldade de percebê-los.
- Crenças Intermediárias: refletem ideias ou uma percepção mais profunda que os pensamentos automáticos. Ocorrem sob a forma de suposições, regras ou pressupostos, atuando como suporte para as crenças nucleares. São afirmações do tipo “se… então” ou “deveria” que se apresentam de modo inflexível e imperativo.
- Crenças nucleares: são o nível mais profundo da estrutura cognitiva e se compõe de ideias inflexíveis, absolutistas, globais e generalizadas. Representam os mecanismos desenvolvidos pelos indivíduos para lidar com as situações cotidianas, como percebem a si mesmos, aos outros e ao mundo e ao futuro (tríade cognitiva).
Princípios da Terapia Cognitivo Comportamental
Com base nos 3 níveis de cognição os psicoterapeutas da terapia cognitivo-comportamental vão atuar de diferentes formas, mas, existe um formato de funcionamento esperado que envolve 10 princípios:
- Conceituação cognitiva do caso: a formulação cognitiva do caso e da compreensão dos problemas e das queixas que o paciente apresenta é contínua e está em constante desenvolvimento.
- Aliança terapêutica: a relação terapêutica deve se estabelecer em uma conduta de empatia, respeito e confiança.
- Colaboração e participação ativa: o profissional e o cliente trabalham em colaboração, buscando sempre o engajamento do cliente no seu próprio processo (empirismo colaborativo).
- Orientada a metas e focada no problema: há um foco nos problemas atuais e metas que são estabelecidas mutuamente para o tratamento como um todo.
- Ênfase no presente: tem foco no aqui-agora, mas considera também uma perspectiva longitudinal, pois, os problemas do presente podem se relacionar com questões do passado e futuro.
- Psicoeducação e prevenção de recaídas = é educativa, visa ensinar o cliente a ser seu próprio terapeuta enfatizando a prevenção da recaída na etapa final do processo.
- Processo de curta duração: é uma terapia voltada para o problema e ocorre em um tempo limitado.
- Sessões estruturadas: em geral há uma estrutura a seguir que envolve a avaliação de humor, estabelecimento da agenda, a revisão do que aconteceu ao longo da semana e o feedback no final da sessão.
- Ensinar a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais: como dito no princípio 6, a TCC busca ser educativa auxiliando seus clientes a observarem seus sentimentos e avaliarem e responderem às suas crenças para desenvolverem autonomia e autoavaliação.
- Uso de técnicas para mudar o pensamento e comportamento : a TCC se vale de uma variedade de técnicas.
Distorções Cognitivas
O primeiro passo para a reestruturação cognitiva consiste na identificação das distorções cognitivas, que consistem em equívocos característicos na lógica dos pensamentos automáticos e outras cognições. Algumas dessas distorções estão ditas abaixo:
- Catastrofização: quando o indivíduo prevê o futuro negativamente, sem considerar outros resultados.
- Abstração seletiva/Filtro mental: o indivíduo chega a uma conclusão depois de examinar apenas uma porção das informações disponíveis. Os dados importantes são descartados ou ignorados, a fim de confirmar a visão tendenciosa que a pessoa tem da situação.
- Inferência Arbitrária: o indivíduo chega a uma conclusão a partir de evidências contraditórias ou sem a presença de evidências.
- Supergeneralização = o indivíduo chega a uma conclusão sobre um acontecimento isolado e estende esta a amplas áreas do funcionamento.
- Personificação = quando o indivíduo relaciona eventos externos a si próprio com pouco ou nenhum fundamento para isso. Assume-se responsabilidade excessiva ou culpa por eventos negativos.
- Maximização e minimização : quando o indivíduo maximiza seus próprios erros e os acertos dos outros e, minimiza os próprios acertos e os erros dos outros.
Técnicas Cognitivo-comportamentais
- Questionamento socrático: é um dos procedimentos mais utilizados para auxiliar o paciente a realizar descobertas sobre a estrutura do seu pensamento, para flexibilizá-los e mudar crenças rígidas sobre si mesmo, os outros e o ambiente. O terapeuta, através de questionamentos, conduz o paciente para que ele mesmo faça esta descoberta (Descoberta Guiada),
- Registro dos pensamentos disfuncionais: o terapeuta solicita ao cliente que registre a situação, sua interpretação desta (pensamento automático), as emoções e os comportamentos decorrentes dessa situação e interpretação.
- Técnicas de relaxamento: o terapeuta faz e ensina o cliente técnicas de respiração e relaxamento muscular, para que este consiga regularizar suas sensações, se perceber e conquistar o autocontrole em momentos de crise, por exemplo.
- Treino de habilidades sociais: consiste na simulação de cenas e cenários, junto ao cliente, para que este consiga desenvolver e expressar competências sociais com o objetivo de estendê-las a sua rotina.
- Dessensibilização sistemática: consiste em uma técnica muito utilizada no tratamento de fobias e síndrome do pânico, na qual há exposição gradual, segura e guiada da pessoa aos elementos que lhe causam medo.
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Referências
WRIGHT, Jesse H.; BASCO, Monica R.; THASE, Michael E.. Aprendendo a Terapia Cognitivo-comportamental: Um guia ilustrado. São Paulo: Artemed, 2008.