Saiba quais foram os principais acontecimentos dos últimos meses a respeito da Saúde do Homem e do Câncer de Próstata.
O Novembro Azul está de mãos dadas com o Outubro Rosa. As duas campanhas se complementam, pois consistem em momentos-chave de discussões e ações voltadas à prevenção de dois tipos de câncer extremamente comuns e perigosos.
No caso da campanha desse mês de Novembro, a luta é pela conscientização dos homens a respeito do Câncer de Próstata, o segundo mais comum nesse sexo, ficando atrás apenas do câncer de pele.
Para evidenciar a importância dessas ações, nós reunimos as 4 principais notícias sobre a saúde do homem e o novembro azul. Confira abaixo!
1) O remédio que entra na primeira linha de tratamento contra o câncer de próstata avançado
No congresso de 2019 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, a Asco, houve um tópico abordando especificamente avanços no tratamento do câncer de próstata, que faz 68 mil novos casos por ano no Brasil.
O sucesso na luta contra os tumores que atingem a glândula masculina não se relaciona apenas com a escolha do melhor remédio, mas também com a hora certa de utilizá-lo.
Em estudo apresentado por cientistas australianos e neozelandeses, ficou evidente que a ordem e o momento da medicação eram de extrema relevância. Eles descobriram que a enzalutamida (Astellas Farma) deve ser a primeira linha de tratamento aos homens com câncer de próstata metastático — até então, essa droga só era aplicada mais pra frente, se a hormonioterapia não trouxesse resultado.
O trabalho feito na Oceania indica que 80% dos voluntários que tomaram uma combinação de remédios (enzalutamida mais antiandrogênicos) continuavam vivos após três anos. Na turma que só tomou a segunda classe, a taxa foi de 72%. Em outro teste, uma segunda medicação dessa mesma categoria, a apalutamida (Janssen) também estendeu o tempo de vida.
Além disso, mais novidades foram apresentadas: “O olaparibe suscitou uma resposta em 45% dos pacientes já tratados com outras substâncias”, conta o oncologista Fernando Maluf, da BP — A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
2) Nova cirurgia devolve a ereção de homens que retiraram a próstata
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista de Botucatu anunciaram os resultados da reinervação peniana, nova cirurgia para corrigir a disfunção erétil em homens que retiraram a próstata. A remoção dessa glândula masculina, procedimento comum em pacientes com câncer na região, pode causar impotência.
A equipe brasileira já operou 62 homens, com uma taxa de sucesso de 60%. Isso significa que seis em cada dez voltaram a ter “capacidade de penetração” durante o sexo.
“E os outros 40% demonstram vários graus de melhora na ereção, o que já muda a vida deles”, comenta o cirurgião plástico Fausto Viterbo, desenvolvedor da técnica cirúrgica, junto com um time multidisciplinar no interior paulista.
O procedimento consiste na retirada de um nervo da perna – o sural – e cria com ele uma ligação entre o nervo femoral e o pênis. “O nervo femoral passa pela região da bacia e dá sensibilidade e força para a coxa e os músculos envolvidos na caminhada”, explica o médico.
Normalmente, ele não está envolvido na ereção. Mas, como ativa movimentos corporais, veio a ideia de utilizá-lo como substituto do nervo cavernoso, que comanda a ereção do pênis.
Pois bem: depois que o atalho é criado, o cérebro começa a enviar estímulos ao órgão sexual por esse novo caminho. “Resumindo, o nervo utilizado para andar passa a responder também pela ereção”, conta Viterbo.
Ele e sua equipe publicaram um artigo com os resultados no British Journal of Urology International.
3) A pesquisa que revelou onde os brasileiros pisam na bola com a saúde
No Brasil, quase 40% dos homens de até 39 anos e 20% daqueles com mais de 40 só vão ao médico quando se sentem mal. Boa parte deles não tem ideia de como anda o coração nem faz exames cardiológicos. E pelo menos um terço enxerga no bem-estar mental o principal desafio para ter mais saúde hoje.
Esse é o panorama da pesquisa Um Novo Olhar para a Saúde do Homem, feita pela revista SAÚDE, a área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril e o Instituto Lado a Lado pela Vida, com o apoio da farmacêutica Astellas.
Realizado via internet com 2 405 brasileiros de todas as regiões do país, o levantamento foi discutido no Fórum SAÚDE, em São Paulo.
A dificuldade de aderir a um estilo de vida equilibrado e a falta da devida atenção em relação à prevenção cardiovascular são alguns dos achados preocupantes. Sobretudo porque quase metade dos homens do estudo está acima do peso e parcela considerável declara ter hipertensão (39%) e colesterol alto (43%).
Embora eles estejam cientes dos principais fatores de risco e sintomas de problemas cardíacos, só 39% expressam que procurariam imediatamente o médico diante de sinais como dor no peito.
O preço da consulta e a falta de disponibilidade nos postos de saúde são os principais obstáculos apontados nesse sentido. O drama é que praticamente um quarto da amostra assume substituir com certa frequência uma consulta médica por buscas na internet.
No dia a dia, alguns hábitos realmente deixam a desejar. Quase 80% do público relata exceder-se regularmente em açúcar, sal ou gordura. E só 35% se exercita pelo menos três vezes por semana, como recomenda a Organização Mundial da Saúde.
Se não quebrarmos essa visão, alerta Costa, tudo conspira para o aumento estimado de 250% no número de mortes por doença cardiovascular nos próximos 20 anos.
Segundo Haydée Padilla, médica representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e também debatedora no evento, para mudar esse cenário é preciso que as estratégias de prevenção sejam dirigidas a conscientizar melhor a população masculina desde a adolescência. “Só assim teremos idosos funcionais e ativos”, afirmou.
4) Zika inibe multiplicação de células do câncer de próstata
Um grupo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), liderado pelo professor Rodrigo Ramos Catharino, após revelar pioneiramente o potencial do zika de combater tumores no cérebro, mostrou que o vírus também pode ser uma arma contra o câncer de próstata.
Por meio de experimentos em laboratório, os cientistas observaram que esse patógeno é capaz de inibir a proliferação das células tumorais na próstata. Os resultados da pesquisa, apoiada pela Fapesp, foram divulgados na revista Scientific Reports.
“O próximo passo da investigação envolve testes em animais. Caso os resultados sejam positivos, pretendemos buscar parcerias com empresas para viabilizar os ensaios clínicos, em seres humanos”, disse Catharino, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp e coordenador do Laboratório Innovare de Biomarcadores.
A linha de pesquisa coordenada por Catharino teve início em 2015, quando foi descoberta a relação entre a epidemia de zika e o aumento nos casos de microcefalia nos estados do Nordeste.
Depois que estudos confirmaram a capacidade do patógeno de infectar e destruir as células progenitoras neurais – que, nos fetos em desenvolvimento, dão origem aos diversos tipos de células cerebrais – o cientistas idealizou testar o vírus em linhagens de glioblastoma, o tipo mais comum e agressivo de câncer do sistema nervoso central em adultos.
“Como também já foi confirmada a transmissão sexual do zika e a preferência do vírus por infectar células reprodutivas, decidimos agora testar seu efeito contra o câncer de próstata”, contou à Agência Fapesp Jeany Delafiori, estudante de doutorado sob a orientação de Catharino.
O trabalho vem sendo conduzido com o apoio do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), um CEPID da FAPESP na Unicamp.
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