Antiparasitários
Fármacos muito usados na rotina do clinico de pequenos animais são os antiparasitários. São importantes para garantir a saúde do animal e de seu dono, pois alguns parasitas são transmitidos aos seres humanos. A escolha do antiparasitário deve ser de acordo com seu amplo espectro de ação com a destruição do maior numero e diferentes fases do desenvolvimento dos parasitas. Deve-se optar também por um fármaco que tenha menos efeitos colaterais.
Outro ponto importante é que algumas raças não podem ser tratadas com determinado tipo de medicamento. Por exemplo, o Collie não pode tomar ivermectina.
Organofosforados
Organofosforados são agentes anticolinesterásicos muito utilizados no meio agropecuário, como antiparasitário ou inseticida. São substâncias lipossolúveis de fácil absorção por toda superfície corporal e, principalmente, pelo trato gastrointestinal, pele, pulmão e olhos.
Sua ação dá-se através da inibição irreversível da acetilcolinesterase, enzima que inativa a acetilcolina. Consequentemente, seu acúmulo na fenda sináptica determina aumento no número de despolarizações, o que ocasiona paralisia espástica.
De acordo com a dose, pode haver ação ectoparasiticida ou tóxica. Quadros de intoxicações podem ocorrer em qualquer espécie animal e já foram descritos em bovinos, bubalinos, ovinos e humanos. Uma superdosagem provoca aumento da acetilcolina nos tecidos e na atividade do sistema nervoso parassimpático, bem como dos nervos colinérgicos pós–ganglionares do sistema nervoso simpático dos mamíferos.
Os efeitos tóxicos são evidenciados pelos efeitos muscarínicos e nicotínicos. Os efeitos muscarínicos provocam aumento no peristaltismo, salivação, constrição brônquica, aumento da secreção de muco, miose e sudorese. Os efeitos nicotínicos ocasionam tremores, fraqueza e paralisia flácida. Podem ocorrer, também, alterações no sistema nervoso central através de convulsões, depressão e coma.
Mecanismo de ação: se ligam irreversivelmente à enzima colinesterase, que resulta no acúmulo de acetilcolina nos terminais nervosos, promovendo hiperexcitabilidade e hiperatividade, incoordenação muscular e morte do parasita.
?Utilização: os organofosforados são utilizados como inseticidas, no controle de pulgas, piolhos e carrapatos em cães e gatos, ou como anti-helmínticos de largo espectro e comumente são associados a piretróides e carbamatos.
Os princípios ativos, suas formulações e associações podem ser observados abaixo:
Coumafóis: em formulação isolada são indicados para combater artrópodes em cães.
Figura 1: Exemplos de Coumafóis
Diazinam: usado sob a forma de coleira, xampu ou talco contra pulgas para cães.
Figura 2: Exemplos de Diazinam
Fentiom: Indicado no tratamento das orelhas dos cães, principalmente no verão, quando o ataque das moscas é mais intenso. Preferencialmente não aplicar em mais de 25% da superfície corpórea do animal.
Carbamatos
Mecanismo de ação: são inibidores reversíveis das colinesterases, prolongando o tempo de permanência da acetilcolina nos terminais nervosos e levando a hiperatividade, ataxia, convulsões e paralisia seguida de morte dos artrópodes expostos.
Os princípios ativos, suas formulações e associações podem ser observados abaixo:
– Carbarila
– Propoxur
Figura 3: Exemplos de Carbamato
Figura 4: Exemplos de Carbamato
PIRETRÓIDES
Mecanismo de ação: os piretróides penetram na cutícula dos artrópodes e ao serem absorvidos aumentam a condutância do sódio das células nervosas provocando hiperatividade, incoordenação e dificuldade de movimentos associados a hipersecreção, tremores e convulsão nos parasitos. O efeito de knock-dwon (‘queda”) também é observado nos parasitos, que podem ou não morrer.
Os princípios ativos, suas formulações e associações podem ser observados abaixo:
Piretrina
Cipermetrina
Deltametrina
Flumetrina
Permetrina
Figura 5 – Exemplos de alguns piretróides
Observações: a eficácia dos produtos é variada devido à resistência paralela e cruzada que os parasitos vêm desenvolvendo no Brasil e no mundo.
FORMAMIDINAS
Mecanismo de ação: Ainda não foi totalmente elucidado, porém estudos mostram que o composto penetra em larvas de carrapato inibindo a MAO, enzima responsável por metabolizar monoaminas como a noradrenalina, dopamina e serotonina, aumentando assim a concentração sináptica desta e condicionando maior excitação dos neurônios que possuem receptores para esses mediadores. Nas teleóginas, as formamidinas inibem o processo de liberação de ovos, por impedir a contração da musculatura genital.
Princípio ativo: amitraz.
O amitraz é rapidamente hidrolizado no estômago por ser uma base fraca; sua biotransformação é hepática com eliminação renal e biliar. A absorção pela pele é maior quanto maior for a lesão e grau de inflamação.
O amitraz é considerado pouco tóxico, porém os subprodutos de sua hidrólise são bem mais tóxicos e por isso a aplicação do fármaco deve ser breve após sua preparação. Torna-se muito tóxico quando misturado a óleos vegetais, para aplicação pour on, por exemplo, motivo pelo qual esta formulação tem uso proibido em bovinos. Encontramos diversas opções desse princípio ativo no mercado, a aplicação envolve pulverização do animal ou banheiro de imersão após diluição do produto.
Indicações: possui excelente ação sobre artrópodes em geral. É utilizado contra carrapatos, pulgas, piolhos e sarnas em cães e gatos. Demonstra pouca atividade contra mosca Haematobia irritans.
Figura 6 – Exemplo de Formamidinas
LACTONAS MACROCÍCLICAS
Acredita-se que as lactonas macrocíclicas potencializem a ação inibidora neuronal mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA), promovendo hiperpolarização do neurônio e, portanto, inibindo a transmissão nervosa. Embora os mamíferos utilizem o GABA como neurotransmissor, as avermectinas e as milbemicinas geralmente não causam efeitos tóxicos neles, pois, por apresentarem alto peso molecular, não atravessam a barreira hematoencefálica e, portanto, não atuam no sistema nervoso central. No entanto, cães das raças Collie, Old English Sheepdog, Pastor de Shetland e Pastor Australiano, quando submetidos à terapia com ivermectina e milbemicina, podem manifestar sintomas de intoxicação, como convulsão, depressão, tremores, ataxia, letargia, emese, sialorréia e midríase, ou mesmo evoluir a óbito
Mecanismo de ação: estes medicamentos são considerados endectocidas, isto é, atuam contra ectoparasitas e endoparasitas. Seu mecanismo de ação se dá pela hiperpolarização e inibição da transmissão nervosa, por meio da potencialização da ação do GABA e do aumento da permeabilidade da membrana ao cloro. Desta forma, provocam ataxia e morte do parasita.
Princípio ativos descritos:
Avermectinas: ivermectina, abamectina e doramectina.
Milbemicinas: milbemicina, moxidectina e selamectina.
Particularidades: alguns cães apresentam uma mutação no gene MDR1, que os torna sensíveis a vários fármacos que são substratos da glicoproteína-P. Este gene está localizado, em Canis familiaris, no cromossomo 14 e é composto por 28 éxons. A mutação consiste na deleção de quatro pares de bases no quarto éxon. O resultado desta deleção é o deslocamento da sequência de nucleotídeos, que resulta na síntese de glicoproteínas-P defeituosas e afuncionais, tornando o animal portador da mutação suscetível a intoxicações. A mutação já foi identificada em raas como Collie, American Collie, Longhaired/Rough Collie, Smooth Collie, Longhaired Whippet, Shetland Sheepdog, Miniature Australian Shepherd, Australian Shepherd, Wäller, White Swiss Shepherd, Old English Sheepdog, Border Collie, Herding Breed mix (cães com pai ou mãe de raça de pastoreio), cães sem raça definida, English Shepherd, German Shepherd, McNab e Silken Windhound.
Figura 7 – Algumas raças que podem apresentar mutação MDR1
As avermectinas e as milbemicinas são lactonas macrocíclicas, classificadas como endectocidas. As primeiras incluem ivermectina, abamectina, doramectina e selamectina, sendo a própria milbemicina e a moxidectina duas milbemicinas. São produtos derivados da fermentação de actinomicetos do gênero Streptomyces, de ação anti-helmíntica e ectoparasiticida. Como ectoparasiticidas, essas substâncias são aprovadas no Brasil somente para uso em suínos, eqüinos e ruminantes.
A ivermectina possui atividade contra o desenvolvimento de microfilárias de Dirofilaria immitis, sendo aprovada para a prevenção da dirofilariose canina, na dose de 6 µg/kg/mês por via oral. No Brasil, está disponível comercialmente para a prevenção de dirofilariose, em especialidade farmacêutica de uso veterinário. A moxidectina encontra-se disponível, em alguns países, como medicação preventiva de dirofilariose canina, na dose de 3µg/kg. Como indicação extrabula da moxidectina, encontram-se dispostos na bibliografia médico-veterinária especializada citações de seu emprego, pelas vias oral ou subcutânea, de solução injetável a 1% para a terapia da DC generalizada.
Figura 8 – Exemplo de Lactonas Macrocíclicas
NEONICOTINÓIDES
Os neonicotinóides são uma classe de inseticidas derivados da nicotina. Em 1990, foi introduzido na Europa e no Japão o primeiro composto desta classe, o imidacloprido.
No Brasil os neonicotinóides registrados para uso agrícola são o imidacloprido, o acetamiprido, o thiametoxan, a clotianidina e o tiacloprido.
Os neonicotinóides, pelo seu mecanismo de ação (mimetizadores da acetilcolina) são
importantes para a implantação de programas de manejo da resistência de insetos aos
inseticidas.
Figura 9 – Exemplo de NEONICOTINÓIDES
FENILPIRAZÓIS
Tem por mecanismo de ação o bloqueio da passagem de íons cloro pelos receptores GABA e dos canais de glutamato-cloro, danificando o sistema nervoso central do inseto.
Os fenilpirazois foram desenvolvidos na década de 1980 e introduzidos no mercado por volta dos anos 90, com indicação para uso na agricultura e na medicina veterinária. O mecanismo de ação do fipronil ocorre pelo antagonismo do receptor GABA (ácido γ-aminobutírico), bloqueando os canais de cloro, interferindo na neuromodulação, levando à morte por hiperexcitação.
FIPRONIL
Esse praguicida possui amplo espectro de ação e foi desenvolvido para inibir seletivamente receptores do ácido gama amino butírico (GABA) associado a canais de cloreto de insetos. A alta afinidade para os insetos quando comparado aos receptores GABA de mamíferos resulta em uma menor toxicidade para estes, em vista de outros inseticidas que bloqueiam este mesmo canal. Em insetos, o fipronil leva a morte por hiperexcitação e paralisia.
Em medicina veterinária, o fipronil tem sido amplamente utilizado para o controle de pulgas, carrapatos e piolhos mastigadores de bovinos, cães e gatos. No Brasil, o fipronil pode ser encontrado comercialmente como Frontline, fiprolex, TopLine de uso veterinário e também pode estar associado a outras moléculas como metoprene.
Utilizado em spray ou em pour on, tem ação na prevenção e tratamento de miíases causadas por Cochliomyia hominivorax e de larvas da mosca Dermatobia hominis. Também age contra carrapatos e mosca Stomoxys calcitrans, em cepas resistentes a outros ectoparasiticidas.
Figura 8 – Exemplo de Fenilpirazóis