A Vacinação é considerada um procedimento médico e por tanto deve ser realizada por Médicos Veterinários. Os objetivos de um programa de vacinação é o de se vacinar o maior número possível de animais na população de risco (Imunidade de Rebanho), não realizar vacinas a mais do que o necessário e vaciná-los apenas contra os agentes infecciosos em que realmente há risco de exposição e de doença.
Figura 1: Cão sendo vacinado
Grupo de vacinas conforme a indicação (Tabela 1):
- Vacinas essenciais: as doenças envolvidas possuem significativa morbidade e mortalidade, são distribuídas amplamente nos territórios ou são exigidas por lei.
- Vacinas não essenciais (opcionais): devem ser consideradas de acordo com o risco de exposição, conforme distribuição geográfica da doença e no estilo de vida do animal.
- Vacinas não recomendadas: são aquelas contra doenças que respondem prontamente a tratamento, os riscos de efeitos colaterais são maiores que os benefícios ou não há evidencias quanto a eficácia da vacina.
Imunidade Passiva Natural
Logo nas primeiras horas após o nascimento os filhotes devem se alimentar do colostro materno, pois é por meio do colostro que ele receberá os anticorpos (imunoglobulinas) que o protegerão em suas primeiras semanas de vida contra as principais doenças infecciosas. A eficiência e a duração da proteção conferida pelo colostro dependerão de alguns fatores, tais como:
- Qualidade do colostro: diretamente relacionado a imunidade da própria mãe;
- Quantidade de colostro ingerido: dependerá do tipo do parto (se natural ou cesáreo), da habilidade materna, do vigor dos filhotes, do tamanho da ninhada, dos cuidados com a ninhada durante e logo no pós-parto, etc;
- Momento em que o colostro foi ingerido: os anticorpos do colostro só transpassam a barreira intestinal do filhote nas suas primeiras horas de vida, após esse período a barreira intestinal se fecha impedindo qualquer absorção de anticorpos, por tanto quanto mais cedo o filhote receber o colostro mais eficiente será sua absorção.
Figura 2 – Imunidade passiva: amamentação canina
Janela de Suscetibilidade
Com o passar das semanas o título (quantidade) de anticorpos recebidos pelo filhote através do colostro vai naturalmente reduzindo.
O que chamamos de Janela de Suscetibilidade é a fase em que o filhote já não tem mais os títulos de anticorpos maternos em níveis suficientes para impedir uma infecção ambiental, porém esses anticorpos ainda estão altos a ponto de bloquear a indução da imunidade por meio das vacinas comerciais, ou seja, é uma fase crítica para o filhote do ponto de vista sanitário.
Estudos demonstram que para a maior parte dos filhotes essa Janela está entre 6 até 12 semanas de vida, sendo que para 10% dos animais ela pode estender-se até as 16 semanas (Gráfico 1).
As idades consideradas dentro da Janela de Suscetibilidade tem fundamento científico e são utilizadas de forma geral para toda a população, pois o uso de testes sorológicos individuais para determinar a queda da imunidade passiva e momento exato para a aplicação da vacina para cada cão ainda não fazem parte do uso comum na rotina clínica Veterinária, até mesmo por questão de custo, logística, entre outros.
Gráfico 1 – Representação de 02 grupos de cães (A e B) com diferentes títulos de anticorpos recebidos via colostro e seu declínio gradativo no decorrer das semanas. As setas horizontais representam os títulos necessários para proteção contra os vírus de campo e títulos que ainda bloqueiam a ação dos vírus vacinais.
Esquema Vacinal em Filhotes de Cães
Considerando variabilidade que pode ocorrer na Janela de Suscetibilidade para cada indivíduo e os riscos que as principais doenças podem representar para uma ninhada ou até mesmo para um plantel, o grupo de especialistas do WSAVA recomenda o início da vacinação com vacina polivalente (múltipla) por volta de 6 a 8 semanas de idade, repetindo com intervalos de 2 a 4 semanas entre as doses até que a última dose seja realizada por volta das 16 semanas, dessa forma, conforme a idade de início da vacinação e o intervalo entre as doses, é possível que cada filhote receba de 3 a 5 doses desta vacina.
Figura 3 – Representação de filhote
Essas múltiplas doses são nada mais do que uma tentativa de acertar o momento em que os níveis de anticorpos maternos já não tenham mais o efeito de “bloqueio” contra o vírus vacinal e assim proteger o filhote antes que esse tenha contato com o vírus vivo no ambiente.
Depois de concluído o esquema de vacinação por volta de 16 semanas, as Diretrizes ainda recomendam que uma dose de “reforço” seja aplicada entre os 6 a 12 meses de idade garantindo a proteção dos cães que por ventura ainda estavam com títulos de anticorpos maternos acima do limite no momento da última dose do programa inicial.
Anteriormente essa dose de “reforço” era indicada somente aos 12 meses de idade ou 12 meses após a última dose da vacina polivalente.
Em casos de regiões ou criações com elevado desafio sanitário se indica ainda uma vacinação precoce exclusiva contra Cinomose + Parvovirose com 4 semanas de idade, conforme indicação do laboratório, utilizando-se uma vacina altamente imunogênica capaz de ultrapassar a barreira de anticorpos maternos e iniciar a formação de anticorpos de forma ativa.
Tabela 2 – Esquema de vacinação essencial para cães entre 6-8 semanas de idade e revacinados a cada 3 semanas
Esquema Vacinal em cães adultos
Conforme as diretrizes do WSAVA, a partir da realização do “reforço” da vacinação entre os 6 a 12 meses de idade, só seria necessário nova dose das vacinas essenciais a cada 03 anos devido a longa duração da imunidade vacinal para cinomose e parvovirose. Já para alguns antígenos vacinais a duração da imunidade é menor e a revacinação indicada é anual como, por exemplo, para Leptospirose, Parainfluenza e Raiva.
Considerando que as vacinas comerciais polivalentes apresentam vários antígenos e que cada antígeno vacinal confere uma imunidade por diferentes períodos no organismo, esse se torna um aspecto a ser avaliado pelo Médico Veterinário quanto ao protocolo a ser seguido em cães adultos.
Em resumo, as orientações das Diretrizes do WSAVA é que se amplie o número de doses vacinais ou distribuição delas durante a Janela de Suscetibilidade dos filhotes, porém para a vida adulta do animal as Diretrizes apontam que se faça uma redução na frequência do uso de vacinas essenciais (de anual para trienal), que se faça o uso quando realmente necessário das vacinas não essenciais e que não se utilize as vacinas não recomendadas.
Ainda assim, a eleição das vacinas a serem utilizadas e suas frequências devem seguir os critérios Veterinários que o justifiquem conforme cada caso.
Vacinação em Gatos
As vacinas para gatos são algo de extrema necessidade para que a saúde e o bem-estar dos bichanos possam ser constantes, e quem deseja ter um felino como parte da família, deve estar ciente da importância que essa imunização tem na vida dos animais. Levando em conta que o sistema imunológico dos gatos filhotes ainda não é completamente desenvolvido, esse cuidado se torna ainda mais preciso na primeira fase da vida dos bichanos, que podem garantir sua proteção contra problemas graves na saúde dos felinos.
Imunizando os gatos de doenças como Panleucopenia, Rinotraqueíte, Calicivirose, e Clamidiose, a vacina quádrupla – conhecida como V4 – é, na maioria das vezes, a escolha de quem busca a proteção de seus novos gatinhos. Entretanto, o mercado conta, ainda, com a versão V3 para as vacinas para gatos, sendo que a diferença entre elas está na quantidade de antígenos presentes na sua formulação (conforme explicaremos ao longo do artigo).
Seja qual for a sua escolha, ela deve ser aprovada e aplicada por um profissional veterinário de confiança, pois somente ele terá condições de definir quais são as prioridades de imunização para seu pet, além de poder indicar vacinas adicionais para protegê-lo de outras doenças comuns que não fazem parte dos pacotes polivalentes, como Raiva, Leucemia Felina e Dermafitose.
Calendário de vacinas para gatos
As vacinas mais importantes para manter seu bichano longe dos principais perigos felinos são a vacina polivalente e a vacina antirrábica; sendo que a polivalente pode ser encontrada em duas versões diferentes: tríplice e quádrupla – respectivamente chamadas de V3 e V4. Conforme citado anteriormente, a diferença entre elas se dá em função da quantidade de antígenos contida em cada uma.
A V3 (Vacina Tríplice) previne os gatos contra Panleucopenia, Rinotraqueíte e Calicivirose; enquanto a V4 (Vacina Quádrupla), além de todos os antígenos contidos na V3, inclui, ainda, a proteção contra a Clamidiose. Confira, abaixo, como seguir os intervalos corretos entre as doses para proteger o seu gatinho:
- Aos 60 dias de vida: 1ª dose da polivalente V3 ou V4
- Aos 90 dias de vida: 2ª dose da polivalente V3 ou V4
- Aos 120 dias de vida: 3ª dose da polivalente V3 ou V4 e a vacina antirrábica
Conforme detalhado acima, cada uma das doses destas principais vacinas para gatos devem ser administradas com um intervalo de 30 dias, sendo que a primeira dose só pode ser dada ao bichano a partir de seus 60 dias de vida.
Panleucopenia
Febre, vômitos, inapetência, prostração e diarreia são alguns dos sintomas em animais infectados. Pode prejudicar a coordenação motora de filhotes. É transmitida por meio do contato com animais doentes ou objetos contaminados.
Rinotraqueíte
Altamente contagiosa, tem como sinais espirros, secreções nasais, rinite, salivação, conjuntivite, febre, falta de apetite. É causada pelo herpesvírus e pode levar filhotes a óbito.
Calicivirose
Tem sintomas semelhantes à rinotraqueíte viral, mas causa úlceras na cavidade oral do animal.
Clamidiose
Afeta a conjuntiva dos animais, que é a membrana que recobre a parte frontal do globo ocular, posteriormente atingindo o sistema respiratório. Entre os sintomas estão a conjuntivite, corrimento nasal e ocular persistente, espirros, dificuldade respiratória, febre, falta de apetite, pneumonia e prostração.
Raiva
Responsável por alterações no sistema neurológico, a Raiva não tem cura, e a única forma de prevenção é a vacina. Alterações de comportamento, fotofobia (medo de luz), agressividade, hidrofobia (medo de água) e falta de apetite são alguns dos sintomas mais comuns da doença.
Leucemia Felina (FeLV)
Causada pelo vírus FeLV (Feline leukemia virus), compromete as defesas imunológicas, tornando os bichanos vulneráveis a doenças infecciosas, lesões na pele, desnutrição, cicatrização mais lenta de feridas e problemas reprodutivos. A infecção se dá pelo contato com saliva, urina e fezes de animais infectados, portanto, o simples fato de dividir a mesma tigela de água com um gato doente é suficiente para contaminar o sadio. Gatas prenhas podem transmitir o vírus pelo parto ou pelo leite a seus filhotes. Entre os sintomas estão perda de peso, secreção nasal e ocular excessiva, diarreia persistente, imunodeficiência e tumores em células linfáticas.
Vacinação de filhotes felinos
Embora a necessidade das vacinas para gatos seja ainda maior quando filhotes, é preciso lembrar que os felinos não devem ser vacinados antes dos 60 dias de vida, já que os anticorpos passados de mãe para cria podem interferir na eficácia das vacinas, fazendo com que a imunização do gatinho não seja completa.
Outro cuidado que deve ser tomado antes de vacinar o seu felino – em qualquer idade – é o de certificar-se de que ele está saudável e sem sintomas como febre ou diarreia, por exemplo.
Vale a pena lembrar que, por seus sistemas imunológicos ainda não estarem completamente desenvolvidos, gatos filhotes não devem ser expostos às ruas ou a outros animais enquanto não tiverem tomado todas as vacinas necessárias aos felinos; já que, nesta fase, o risco de contaminação por qualquer tipo de doença é muito maior. Tendo isso em mente, basta levar seu bichano para a vacinação, e reforçar as doses anualmente para que ele continue protegido.
Vacinação de gatos adultos
Independentemente da idade do gato, a vacinação segue como item imprescindível. Como estes já apresentam o sistema imune formado, basta uma dose da polivalente e uma dose da antirrábica. Feito isso, basta reforçar a dose todos os anos para mantê-lo longe de problemas.
Gatos adultos também devem estar saudáveis e vermifugados para que possam receber toda a proteção oferecida pelas vacinas, e passar por uma consulta com um veterinário pode ser uma boa pedida – principalmente, se o felino tiver sido adotado das ruas, pois tem mais chances de ter sido exposto a diferentes doenças e zoonoses.
Reações das vacinas para gatos
Há uma série de reações que podem ser desencadeadas nos gatos que recebem vacinas e, embora não sejam tão frequentes, é importante que os donos de pets fiquem atentos aos sinais.
Durante a primeira imunização dos felinos, infelizmente, não é possível prever complicações; no entanto, há medidas que podem ser tomadas por profissionais veterinários para diminuir reações em gatos que já demonstraram uma tendência para problemas desse tipo. Estas precauções serão tomadas de acordo com os motivos da reação do animal e, em alguns casos, a administração de antialérgicos ou anti-histamínicos pode ser recomendada antes da vacinação.
Coceiras na cabeça e no rosto, dificuldades respiratórias, vômitos e falta de coordenação são alguns dos sintomas mais frequentes em bichanos com reações às vacinas e, ao notar qualquer um destes sinais no seu pet, não hesite em levá-lo para uma clínica veterinária. Sem o pronto-atendimento o gato pode desenvolver ainda mais complicações, que podem ser fatais.
Reações que incluem paralisias localizadas e um andar manco do bichano podem ser causadas em função da maneira com que a vacina felina foi aplicada, e não pelo seu conteúdo. Entretanto, a melhor pedida ao perceber qualquer tipo de comportamento incomum no seu pet após a vacinação é recorrer a um profissional da saúde animal.