Mormo em Equinos: o que é, etiologia, transmissão, diagnóstico e mais!

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Recentemente, nove jumentos no estado da Bahia tiveram a confirmação da doença de mormo. Esses animais seriam abatidos para a exportação de carne e couro para a China.

A zoonose Mormo não tem cura e atinge também equídeos, sendo altamente contagiosa e fatal.

Esse assunto cai nas provas de Residência em Medicina Veterinária de Clínica Médica em Grandes Animais. 

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Qual a importância de se estudar a doença de Mormo?
 
O Brasil possui o terceiro rebanho mundial de eqüinos, estimado em cerca de 5,8 milhões de animais.

A eqüinocultura brasileira representa grande contribuição para economia do país, gerando uma movimentação econômica superior a R$16,5 bilhões no ano de 2017, e criando aproximadamente 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos.

Devido ao aumento da demanda e à intensificação da produção de eqüinos no país, algumas complicações em relação à proliferação de doenças contagiosas são observadas, tendo em vista que os animais são retirados de seu habitat natural, e passam a viver confinados.

Dentre as enfermidades que afetam os eqüinos, o segundo grupo com maior prevalência são as associadas ao trato respiratório, ficando atrás somente dos distúrbios músculo – esquelético. 

Etiologia do Mormo

O mormo é uma enfermidade infecto-contagiosa, aguda ou crônica, de caráter zoonótico, causada pela bactéria Burkholderia mallei, que acomete principalmente os equídeos, podendo também acometer o homem, os carnívoros e eventualmente os pequenos ruminantes.

É uma das doenças mais antigas dos equídeos, descrita por volta do século III e IV a.C. A Burkholderia mallei é um bastonete gram-negativo, não esporulado, imóvel e com 2-5µm de comprimento e 0,5 µm de espessura e podem ser pleomórficas em determinadas condições de meio de cultura.

Cresce bem em meios que contenham glicerol ou sangue, não produz hemólise no ágar sangue e as colônias apresentam aspecto mucoide e brilhante. O bacilo do mormo é aeróbio e anaeróbio facultativo, oxidase e catalase positiva e redutor de nitrato.

A B. mallei é um patógeno intracelular obrigatório bem adaptado ao seu hospedeiro, porém apresenta baixa resistência ambiental. São sensíveis à ação da luz solar, calor e desinfetantes comuns e podem sobreviver em ambientes úmidos por 3 a 5 semanas.
 
Transmissão

O mormo é transmitido diretamente pela invasão bacteriana da via nasal, oral e membranas mucosas das conjuntivas e pela invasão de soluções de continuidade do tecido cutâneo.

A B. mallei é carreada por meio das secreções contaminadas, a partir das lesões pulmonares, constituindo-se deste modo, as vias aéreas a principal via de eliminação da B. mallei. As secreções nasais e exsudatos de pele de animais com mormo contêm um número considerável de bactérias ativas que podem facilmente contaminar ferramentas utilizadas no manejo dos animais.

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O envolvimento dos pulmões e do trato respiratório superior é comum, sendo manifestada por uma pneumonia ou pleurite regional ou difusa e um exsudato nasal, onde é carreada a bactéria.

Animais cronicamente infectados e portadores assintomáticos são a principal fonte de transmissão, sendo a porta de entrada do agente a via digestiva, podendo ocorrer pela via respiratória, genital e cutânea.

Utensílios, alimentos e água contaminados são de grande importância na cadeia de transmissão do mormo por veicular o agente. A capacidade de sobrevivência do bacilo do mormo indicou que as fontes de água podem permanecer contaminadas por longo período, tornando-se um dos principais veículos de contaminação.

A infecção cutânea ocorre através do uso de fômites e arreios utilizados durante a montaria e manejo em contato com as soluções de continuidade da pele dos animais. A infecção por inalação é rara.

O risco de transmissão é maior enquanto permanecer as condições de insalubridade e aglomeração dos eqüídeos nas áreas onde ocorra a doença, onde as secreções são transmitidas diretamente através do contato com animais sadios ou indiretamente através de utensílios usados no manejo.

O mormo é transmitido aos humanos através de contato com material contaminado e animais doentes por secreções oriundas do trato respiratório e infecções cutâneas, ocorrendo mortalidade dentro de três semanas se não iniciado tratamento, sendo este efetuado com múltiplas terapias com antibióticos de ação sistêmica.

As manifestações clínicas da doença incluem febre, pneumonia associada com necrose da árvore brônquica e aparecimento de lesões pustulosas e o desenvolvimento de abscessos.

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Sintomas

O Mormo se desenvolve com dois cursos clínicos: um agudo, que acomete os asininos e muares, causando morte dentro de um prazo de quatro a sete dias, e outro, crônico, acometendo, sobretudo, os equinos.

Na forma aguda, a infecção resulta em febre alta com emagrecimento (Figura A) e ulceração do septo nasal acompanhando a descarga muco-purulenta (Figura B) que pode evoluir para descarga hemorrágica.

Os sinais clínicos mais comumente observados são o corrimento nasal, febre, aparecimento de lesões cutâneas que posteriormente evoluem para úlceras que se disseminam pela mucosa nasal e nódulos na pele e nas extremidades dos membros e abdômen. 

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Alterações patológicas limitadas ao intestino podem estar associadas à via linfática, devido à infecção pulmonar e das vias respiratórias (SCHLATER, 1992). Tosse e febre alta refletem a broncopneumonia que caracteriza a forma aguda, onde as lesões pulmonares são mais discretas com presença de nódulos granulomatosos com centro caseoso e neutrófilos degenerados.

Na forma crônica, observa-se pneumonia com tosse, epistaxe e dispnéia. As lesões no septo nasal, que se iniciam com nódulos e evoluem para úlceras, que após a cicatrização iniciarão cicatrizes em forma de estrelas (MOTA et al., 1999) (Figura C).

Os animais apresentam descarga nasal purulenta, podendo conter estrias de sangue, congestão, erosões e úlceras no septo nasal (MOTA et al., 2000) (Figura D). Animais cronicamente infectados apresentam uma grande variedade de sinais clínicos que dependem da via de infecção, incluindo secreção nasal que evolui de mucosa a purulenta, lesões pulmonares e nódulos envolvendo o fígado e baço. Nódulos de consistência firme a flácida na pele que drenam uma secreção purulenta amarelada são encontrados com frequência nos doentes.

Clinicamente o mormo afeta o sistema respiratório e linfático, causando mortalidade e morbidade elevadas podendo assumir três formas distintas: nasal, pulmonar e cutânea, a depender da localização da lesão primária. Os animais podem apresentar uma ou as três formas da doença simultaneamente.

Pode-se resumir que é primariamente uma doença da pele, vasos linfáticos e trato respiratório dos eqüídeos. O aspecto mais comum da infecção em animais é o aparecimento e descarga nasal de cor amarelada, nódulos nasais e cutâneos e aumento dos gânglios linfáticos.

A bactéria geralmente penetra no organismo através de feridas cutâneas, olhos, boca e nariz, ocasionando o aparecimento inicial de febre, mal estar, indícios de sinais de pneumonia, pústulas e abcessos.

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Diagnóstico do Mormo 

O teste ouro para a detecção do mormo é o isolamento e identificação da B. mallei em amostras clínicas. O diagnóstico do mormo ainda depende de provas sorológicas, que consiste no teste da fixação do complemento (FC) e aglutinação ou para identificação de uma reação de hipersensibilidade tardia baseada na aplicação da Maleína.

A OIE, 2013 também prescreve métodos alternativos de ensaios, porém a sensibilidade, especificidade e precisão do teste ainda não foram validados, como Reação em Cadeia de Polimerase em tempo real (qPCR), PCR-RFLP, ELISA, Immunoblotting e teste Rosa Bengala. Um ensaio imunoblotting foi desenvolvido para o diagnóstico do mormo, mas uma validação foi dificultada devido à falta de um painel de controle de soros positivos. Recentemente, o desenvolvimento de uma imuno transferência utilizando antígeno da membrana de lipopolissacarídeo de B. mallei foi reiniciado com o objetivo de obter um teste mais sensível que a FC a fim de testar soros falsos positivos pela técnica em áreas endêmicas.

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Fixação do Complemento

Os métodos para identificação rápida e específica da Burkholderia spp. são importantes para o reconhecimento antecipado do Mormo, em pacientes com sintomas clínicos sugestivos de diferentes enfermidades
O diagnóstico bacteriológico e clinico do mormo em equinos é dificultado devido ao estágio recente ou inaparente da doença. Em 90% dos casos é existente uma infecção subclínica ou em forma latente. O gênero Burkholderia contém mais de 20 espécies válidas doas quais 3 são patógenos significativos. Os métodos para isolar e identifica-las podem incluir culturas de base, complexo antígeno-anticorpo e técnicas moleculares, sendo para o isolamento a B. mallei exigindo crescimento em meios especializados.

Devido ao baixo número de bactérias no tecido infectado, nos abscessos e em pus excretado, o cultivo em meios líquidos ou sólidos é frequentemente negativo, além de demandar tempo para um resultado conclusivo Se o material é originário de animais com doença sem sinais clínicos ou em casos crônicos o isolamento bacteriológico fica ainda mais difícil.
Dentro dos programas de erradicação do Mormo (PNSE), a FC foi o método de diagnóstico eleito.

A FC é o único teste sorológico oficialmente reconhecido para trânsito internacional de eqüídeos, com uma sensibilidade de 97% comparado ao isolamento bacteriano, mas com uma possibilidade de ocorrerem resultados inespecíficos, como falso-negativos e falso-positivos. A reação cruzada com B. pseudomallei, agente causador da melioidose, também pode ser observada, devido à semelhança dos microrganismos.

No Brasil, o teste da fixação do complemento, deve ser realizado em laboratório oficial ou credenciado pelo MAPA. O diagnóstico pela fixação do complemento baseia-se na detecção de anticorpos específicos contra a B. mallei que são detectados já com uma semana após a infecção, situando-se o intervalo temporal de 4 a 12 semanas, após a infecção, o melhor período para a realização do exame, sendo relatada em 90 a 95% de precisão na identificação de soros positivos e permanecendo assim na exacerbação do processo crônico.
 
Tratamento, Prevenção e Controle do Mormo 

O Ministério da Agricultura preconiza através da Instrução Normativa Nº 24, de 05 de abril de 2004, critérios para Controle e Erradicação do Mormo. Para efeitos de diagnóstico é utilizado teste da fixação do complemento realizado em laboratório oficial ou credenciado, tendo seu resultado negativo válido por 180 dias para propriedades monitoradas. Os animais poderão ser submetidos ao teste da maleína quando for reagente a fixação do complemento e não apresentarem sintomatologia do mormo e quando não reagentes à fixação do complemento e apresentarem sinais clínicos, ficando a critério da Secretária de Defesa Animal.

Animais que forem reagentes ao teste oficial e apresentarem sinais clínicos da doença ou procedentes de áreas reincidentes, serão imediatamente sacrificados e a propriedade submetida a regime de saneamento, sendo liberada após a realização de dois testes consecutivos de todo o plantel, com intervalos de 45 a 90 dias, com resultado negativos na FC.

Estudos recentes demonstram a susceptibilidade da B. mallei a antibióticos testados “in vitro”, porém não havendo sucesso na erradicação do agente do organismo dos animais quando desafiado em laboratório. Saquib et al.,, demostrou que o tratamento a longo prazo com combinações de diversos antibióticos, parece confirmar o desaparecimento do agente do organismo. Porém, mais pesquisas são necessárias para verificar a efetividade do tratamento frente a diferentes cepas de B. mallei de regiões endêmicas.

Para determinar o sucesso do tratamento é necessário avaliar todas as técnicas para determinar a presença do agente como a patologia clínica, resultados de necropsia, microbiologia e estado de animais sentinelas, além da investigação dos animais em testes preconizados para trânsito animal.

O uso da doxiciclina também demonstrou boa atividade in vitro conta a B. mallei, além da ceftazidima, ciprofloxacina e piperciclina. Não havendo nenhuma vacina eficaz contra a infecção pela B. mallei, a prevenção do Mormo consiste no teste de todos os equídeos do plantel e a eliminação dos animais reagentes a fixação do complemento. Deve ser procedida a incineração ou enterro dos cadáveres no próprio local, à desinfecção das instalações e fômites, sob supervisão do serviço veterinário oficial, interdição e sorologia da propriedade com foco comprovado 

Imagens/Referências: 

https://www.sciencesource.com/Doc/TR1_WATERMARKED/6/3/9/d/SS2157071.jpg?d63641385384
https://alchetron.com/cdn/burkholderia-mallei-864516da-8df8-4e47-b187-e3d3030c530-resize-750.jpg
http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/nx84WKidH1wD4Os_2013-6-21-11-56-24.pdf
http://www.pubvet.com.br/uploads/2330d0ed392557889636c7d69eb6ce3f.pdf
http://www.fio.edu.br/revistamv/arquivos/v1/ASPECTOS%20CL%C3%8DNICO-PATOL%C3%93GICOS%20DO%20MORMO%20EM%20EQUINOS%20-%20REVIS%C3%83O%20DE%20LITERATURA.pdf
http://www.pgcat.ufrpe.br/sites/pgcat.ufrpe.br/files/documentos/revisao_de_literatura_e_artigos.pdf
https://blogs.canalrural.uol.com.br/mariobittencourt/2019/06/01/bahia-confirma-doenca-de-mormo-em-jumentos-que-iam-para-o-abate/
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27288893
https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2019/03/22/internas_economia,1040030/equinocultura-movimentou-r-16-5-bi-em-2018.shtml