Atenção Farmacêutica | Conceitos e métodos de acompanhamento

A Atenção Farmacêutica compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando resultados definidos, uma farmacoterapia racional e mensurável, voltada para obtenção de melhoria da qualidade de vida.

A atenção farmacêutica é definida como uma prática profissional e não como mais uma atividade do farmacêutico, porque ela é capaz de atender uma demanda social que nenhum outro profissional, atualmente, assume como sua responsabilidade, isto é, a de atender a todas as necessidades do usuário, relacionadas à sua farmacoterapia. 

A atenção farmacêutica compreende desde uma filosofia de prática até um sistema de gerenciamento da prática. Segundo CIPOLLE, STRAND e MORLEY, 2004,  são características importantes dessa prática:

– Propõe uma filosofa profissional que pode ser incorporada por todos os profissionais, independente do espaço físico onde atuam.
      
– Apresenta um método sistemático e racional de tomada de decisão sobre os medicamentos e um processo de cuidado do usuário, que pode ser utilizado com todo e qualquer usuário, em qualquer problema de saúde e utilizando qualquer medicamento.

– Determina que todas as decisões e intervenções do profissional devem ser documentadas, a fim de facilitar o controle de qualidade do exercício profissional e garantir o processo de cuidado, uma vez que outros profissionais podem ter acesso a decisões tomadas.

– Indica um sistema de gerenciamento da prática, já que o oferecimento de um serviço para o usuário requer a implementação de aspectos logísticos e gerenciais muito diferentes daqueles, usualmente, utilizados na atividade de dispensação farmacêutica 

Aqui, vamos discutir os métodos de acompanhamento farmacoterapêutico, olhando primeiro para o papel do farmacêutico nessa prática.

ACOMPANHAMENTO FARMACÊUTICO

Mas antes para entender melhor os métodos de acompanhamento farmacoterapêutico, será interessante fazer uma breve introdução do conceito de acompanhamento farmacêutico.

Acompanhamento Farmacêutico é o Serviço pelo qual o farmacêutico analisa as condições de saúde e tratamento do paciente, com o objetivo de prevenir e resolver problemas da farmacoterapia e garantir que os resultados terapêuticos sejam alcançados, por meio da elaboração de um plano de cuidado e acompanhamento do paciente.

Este acompanhamento é composto de três fases principais:

1) Anamnese farmacêutica
2) Interpretação de dados
3) Processo de orientação

A anamnese farmacêutica é o procedimento de coleta de dados sobre o paciente, realizado pelo farmacêutico por meio de entrevista, com a finalidade de conhecer sua história de saúde, elaborar o perfil farmacoterapêutico e identificar suas necessidades relacionadas à saúde (Resolução/CFF nº 585).

MÉTODOS DE ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO

Existem quarto principais métodos de seguimento ou acompanhamento farmacoterapêutico, vamos falar um pouco sobre eles.

Os métodos de Seguimento Farmacoterapêutico (SFT) mais citados e conhecidos na literatura internacional e no Brasil são o SOAP, o PWDT, o TOM e o Dáder. Na sequência, será apresentada a descrição desses métodos para, em seguida, serem elencadas as principais vantagens e desvantagens entre eles.

MÉTODO SOAP (Subjetivo, Objetivo, Avaliação e Plano)

Este método é amplamente empregado por profissionais da saúde, tendo como ponto positivo seu fácil entendimento por qualquer desses profissionais (HURLEY, 2004; ROVERS et al., 2003). Cada termo refere-se a uma parte do processo de atendimento do usuário, com atividades específicas a serem realizadas.

– Dados subjetivos: Nesta etapa do procedimento, devem ser registradas as informações obtidas do usuário ou cuidador ou, se for o caso, de históricos de prontuário, as quais não se constituem conhecimento objetivo. No caso da abordagem farmacêutica, deve-se buscar informações pertinentes a problemas com o uso de medicamentos e à relação destes com a enfermidade.

– Dados objetivos: Referem-se à obtenção de dados objetivos, como sinais vitais, resultados de exames de patologia clínica, achados de testes laboratoriais e de exame físico realizado pelo profissional habilitado para tal.

– Avaliação dos dados: Com base nos dados subjetivos e objetivos, o farmacêutico deve identificar as suspeitas de problemas relacionados com medicamentos. Após, deve verificar o que pode ser realizado para a resolução desses problemas e quais intervenções farmacêuticas podem ser adotadas.

– Plano: De posse da análise das informações e do planejamento das condutas a serem realizadas, em conformidade com o perfil do usuário, o farmacêutico deve apresentá-las a este último, buscando o estabelecimento de um acordo para a implementação do plano. Caso os problemas relacionados com medicamentos necessitem da avaliação do prescritor, o usuário deverá ser informado dessa necessidade. Também deve-se estabelecer, em conjunto, a forma de realizar a monitorização dos resultados do plano a ser implementado, principalmente se houver novas modificações em prescrição de medicamento ou no quadro do usuário, instaurando-se, desta forma, o ciclo de atendimento.

MÉTODO PWDT (Pharmacist’s Workup of Drug Therapy) ou Estudo Farmacêutico da Terapia Farmacológica: Avaliação Sistemática da Farmacoterapia:

Foi desenvolvido por Strand e colaboradores, da Universidade de Minnesota (EUA), para utilização em farmácias comunitárias, sendo aplicável a qualquer usuário (CIPOLLE; STRAND; MORLEY, 1998; HURLEY, 2004).

Possui como objetivos:

a) avaliação das necessidades do usuário referentes a medicamentos e à implementação de ações, segundo os recursos disponíveis, para suprir aquelas necessidades; 

b) realização de seguimento para determinar os resultados terapêuticos obtidos. Para que essas atividades sejam realizadas, é necessário manter uma relação terapêutica otimizada entre farmacêutico e usuário, bem como considerar o caráter interativo do processo de cuidado do usuário. Seus principais componentes são:

– Análise de dados: É constituída por coleta de dados e caracterização de adequação, efetividade e segurança da farmacoterapia em uso. Procura caracterizar se esta é conveniente para as necessidades do usuário, com relação a fármacos, e identificar problemas relacionados com medicamentos que interfiram ou possam interferir nos objetivos terapêuticos.

– Plano de atenção: Levando em consideração os dados obtidos na análise, o farmacêutico deve resolver os problemas relacionados com medicamentos, estabelecendo objetivos terapêuticos e prevenindo outros possíveis problemas. Os objetivos terapêuticos devem ser claros, passíveis de aferição e atingíveis pelo usuário. Quando apropriado, o plano pode conter também informações sobre terapêutica não farmacológica.

– Monitorização e avaliação: Quando da monitorização do plano de atenção, o farmacêutico deve verificar em que nível estão os resultados farmacoterapêuticos obtidos, reavaliando as necessidades do usuário frente a estes e se novas situações não estão em voga, como novos PRM ou novos problemas de saúde, tratados ou não.

MÉTODO TOM (Therapeutic Outcomes Monitoring) ou Monitorização de Resultados Terapêuticos:

Este método foi desenvolvido por Charles Hepler, na Universidade da Florida (EUA), para dar apoio às atividades do farmacêutico na prática, em nível comunitário (WHO, 1998). Deriva-se do PWDT, levando em consideração os achados de Lawrence Weed (GRAINGER-ROUSSEAU et al.,1997). Compreende os passos a seguir:

– Coleta, interpretação e registro das informações relevantes sobre o usuário, identificando os problemas farmacêuticos potenciais. As informações dizem respeito ao uso de medicamentos, problemas de saúde, dados socioeconômicos e aspectos subjetivos e objetivos da expectativa do usuário frente sua própria doença.

– Identificação dos objetivos explícitos de cada prescrição, visando avaliar a evolução dos resultados terapêuticos frente ao uso dos medicamentos, como também orientar o usuário. Caso seja necessário, deve-se contatar o prescritor para esclarecer os objetivos.

– Avaliação da plausibilidade do plano terapêutico em relação aos objetivos da terapia, considerando as características do usuário, suas expectativas e seu poder aquisitivo. Ao se identificarem desvios importantes, estes devem ser levados ao conhecimento do prescritor.

– Desenvolvimento do plano de monitorização para o usuário, adaptado a protocolos padrões de tratamento, se possível para a doença específica e para o(s) medicamento(s) utilizado(s).

– Dispensação do medicamento, verificando o entendimento do usuário sobre a forma correta de utilização e instruindo-o para seu uso racional. Implantação de plano de monitorização, com agendamento de novo encontro.

– Avaliação da evolução do uso do medicamento em relação aos objetivos terapêuticos propostos, considerando, principalmente, a possibilidade de efeitos adversos e falha de tratamento.

– Resolução de problemas identificados ou, se for o caso, encaminhamento ou notificação destes para o prescritor.

– Revisão ou atualização do plano de monitorização feita quando necessário.

Dáder: Método Dáder de Seguimento Farmacoterapêutico

Foi desenvolvido pelo Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica da Universidad de Granada (Espanha), para ser utilizado em farmácias comunitárias, sendo aplicável a qualquer usuário.

– Oferta do serviço: Oferta do serviço ao usuário, agendando encontro e esclarecendo quais atividades o farmacêutico realiza. Caso seja de interesse do usuário, solicita-se que, no dia aprazado, ele traga todos os medicamentos que possui em casa e documentos referentes à sua saúde, tais como resultados de exames laboratoriais, diagnósticos médicos e outras informações.

– Primeira entrevista: Realiza-se coleta de informações sobre a história farmacoterapêutica do usuário, incluindo dados sobre preocupações e problemas de saúde, perguntas específicas sobre a utilização de cada medicamento e revisão de sistemas. Finaliza-se o encontro orientando o usuário quanto ao uso correto de alguns medicamentos, identificando aqueles que estão mal conservados ou que somente devem ser utilizados mediante prescrição médica, como, por exemplo, os antimicrobianos.

– Análise situacional: Busca-se identificar a relação entre problemas de saúde e uso de medicamentos citados pelo usuário. Pode ser dividida em fase de estudo e fase de avaliação. Na fase de estudo, o farmacêutico deve obter todas as informações necessárias para avaliação posterior da utilização de medicamentos e a relação destes com os problemas de saúde, além das características do usuário. Requer habilidades de busca e análise de informações técnicas. A fase de avaliação visa a identificação das suspeitas de problemas relacionados com medicamentos que o usuário pode estar experimentando. Essa identificação fundamenta-se nos achados da fase de estudo.

– Fase de intervenção: Tem por objetivos elaborar plano de atuação em acordo com o usuário e implantar as intervenções necessárias para resolver ou prevenir problemas relacionados com medicamentos. Esse plano é apresentado ao usuário em um segundo encontro.

– Resultado da intervenção: Objetiva determinar se o resultado desejado foi atingido. Funciona como a monitorização da intervenção proposta.

– Nova análise situacional: É realizada quando se verificam mudanças de estado de saúde do usuário e utilização de medicamentos, após a intervenção.