Findada a faculdade de Medicina, é chegada a hora de escolher a especialidade que você pretende seguir. Alguns jovens médicos escolhem se dedicar à prática generalista, mas também precisarão refinar seus conhecimentos em algum momento… A figura do médico se afasta cada vez mais daquele profissional polivalente tão comum no passado – e em algumas regiões mais isoladas. Cada vez mais, urge a necessidade de se especializar para poder competir em um mercado acirrado e atender os seus pacientes com o máximo de preparo.
Mas, antes, é preciso escolher a especialidade, o programa, a instituição… São tantas as opções e os pontos a ponderar.
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Pensando em ajudar você nesse momento, talvez um dos momentos mais delicados da vida de um médico, traremos uma série de artigos sobre as principais especialidades médicas. Os textos foram retirados do nosso livro Como Escolher Sua Residência Médica. Na obra, você encontra um um guia completo que contém importantes informações sobre a carreira médica e sobre 50 especialidades. A obra foi escrita por mais de 50 especialistas provenientes das mais conceituadas residências do país, para que você possa tirar as suas dúvidas e melhor fundamentar a principal escolha na carreira do médico.
Por hora, vamos falar sobre: RESIDÊNCIA MÉDICA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
Ginecologia, literalmente significa “a ciência da mulher”. É a especialidade da medicina dedicada ao estudo do aparelho genital feminino.
Obstetrícia é a ciência que estuda a reprodução humana, ocupando-se da gestação, do parto e do puerpério, contemplando os seus aspetos fisiológicos e patológicos. O termo “obstetrícia” é derivado do verbo em latim “obstare”, que significa “estar ao lado”.
A ginecologia-obstetrícia (GO) tem a característica ímpar de lidar com duas especialidades ao mesmo tempo. Estas se aproximam na medida em que lidam com a saúde da mulher, porém, ao mesmo tempo, são bastante diferenciadas em termos de patologias, acompanhamento e dia a dia.
Há quem afirme que a GO é uma das especialidades mais completas da Medicina, por atuar em todos os níveis de atendimento – ambulatorial, hospitalar, clínico, cirúrgico, laboratorial. E também por estrar presente em todas as fases da vida da mulher.
Independentemente de haver patologia ou não, a clientela do Ginecologista consiste de um pouco mais da metade da população, e um mercado em constante crescimento.
HISTÓRIA DA RESIDÊNCIA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
Desde tempos imemoriais, as mulheres foram atendidas no parto por outras mulheres. Para o atendimento ao parto, havia várias mulheres e uma parteira, sendo que a prática desta baseava-se na concepção do nascimento como um processo normal e natural. O nascimento fazia parte da ordem moral do universo e o parto era para ser assistido sem grandes interferências.
No século XVI, na França, inaugura-se uma cooperação entre médicos e parteiras. Dentro da conceituação do corpo como máquina, a tarefa do médico no parto seria “manter a máquina funcionando bem” e o parto é compreendido como um processo mecânico contínuo sobre o qual pode-se interferir, “melhorando” seu funcionamento.
O medo alimentado sobre a gestação e o parte podem ter servido como base para a construção da noção de gravidez e parto como patologias, um conceito que foi fundamental para que os homens obtivessem o controle sobre o parto nos séculos seguintes.
Nos Estados Unidos, em fins do século XIX, as camadas pobres da população eram atendidas por parteiras. Alguns dados de pesquisas mostram que estes partos eram mais seguros do que os ocorridos nas camadas da população que tinham acesso às intervenções médicas. A saída retórica para este problema passou por admitir que o parto era um evento “essencialmente normal e natural”, mas que havia sempre a possibilidade de algo sair errado.
No Brasil, a atuação de médicos na obstetrícia ocorreu somente após a fundação da primeira escola médica, na Bahia, em 1808. Em 1930, a profissão deixou de ser um ramo da cirurgia e adquiriu status de especialidade.
A história da ginecologia remota ao século XIX. Até então, confundia-se com a obstetrícia. Ao longo desse século, esses dois ramos da medicina vieram a constituir disciplinas separadas.
Um dos principais motivos que levaram a evolução da ginecologia como especialidade da medicina foi o crescimento das cidades após a Revolução Industrial. A ginecologia originou-se como especialidade graças às pesquisas e descobertas científicas – como a assepsia, a antissepsia e a anestesia.
Em 1959, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) foi fundada em Belo Horizonte. A instituição tinha como finalidade, entre outras coisas, promover o aperfeiçoamento técnico-cientifico e outorgar o Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (Tego).
ROTINA DE TRABALHO
Um bom GO deve ter como algumas de suas características:
- gostar de contato humano;
- gostar de conversar;
- gostar de se envolver com as histórias de seu paciente.
É importante também saber se relacionar bem com os profissionais de outras áreas. O GO depende diretamente do trabalho do anestesista, do ultrassonografista e da enfermagem. Não se pode ser GO sem saber trabalhar em equipe. Conquanto o cirurgião costuma ser o líder da equipe, é inviável realizar um bom trabalho sem a cooperação e a coordenação entre todos.
CONHECIMENTO NECESSÁRIO
Por tratar-se de uma especialidade com atividades clínicas e cirúrgicas, basicamente, tudo o que foi visto na faculdade terá aplicação nesta área. É necessário desde o conhecimento de anatomia; embriologia; cito-histologia; técnica cirúrgica; radiologia; psicologia; ética; farmacologia, além de muito conhecimento relacionado à experiência, que não se encontra em livro nenhum.
Percebemos no dia a dia que muitos dos nossos colegas não GOs têm medo de lidar com gestantes, por insegurança ou desconhecimento sobre o que pode ou não prejudicar o feto, e com frequência cabe ao GO tratar doenças que não fazem parte de sua especialidade, devido a paciente estar gestante.
MERCADO DE TRABALHO E QUALIDADE DE VIDA
A obstetrícia e a ginecologia são especialidades clinico-cirúrgicas que, em conjunto, constituem uma das quatro grandes áreas da medicina. São cerca de quatro mil médicos registrados na especialidade no estado de São Paulo. Este número dobra quando incluímos outros profissionais, como os cirurgiões gerais, que também podem exercer algumas técnicas da área em seu trabalho.
Em levantamento realizado em 2011, havia mais de 22.000 GOs no Brasil, representando cerca de 11% de todos os especialistas médicos do pais. Pouco mais da metade (51,5%) destes profissionais eram mulheres, e a maioria concentrava-se na região Sul. Juntas, a GO e a pediatria representavam, segundo a pesquisa, quase um quarto de todos os médicos titulados no Brasil.
Trata-se de uma especialidade que, classicamente, tem uma reputação de péssima qualidade de vida. No entanto, são tantas as opções de trabalho para o GO que é possível, sim, ter uma rotina organizada e que ofereça condições adequadas para quem busca boas condições de trabalho. Obviamente, quem opta por fazer atendimento pré-natal e disponibiliza-se a realizar os partos das pacientes terá horários de trabalho mais imprevisíveis e surpresas nas madrugadas, feriados e finais de semana.
Quem realiza atendimento ambulatorial ginecológico raramente sairá de sua rotina pré-estabelecida, trabalhando em horários definidos. Aqueles que optarem por exercer a profissão nos laboratórios, realizando exames complementares, também trabalham em horário comercial.
Muito se fala de forma pejorativa a respeito dos plantões. Estes, apesar de cansativos, tem a vantagem de permitir ao médico organizar-se e limitar suas atividades ao período de seu plantão. Acabado o horário do plantão, quem assume os cuidados das pacientes é o colega que chega para render. É comum, no início da carreira, o GO atender em clínicas de outros colegas, pagando aluguel pela sala ou repassando o valor da consulta. Ter o próprio consultório significa um investimento alto e com expectativa de retorno financeiro a longo prazo,.
A RESIDÊNCIA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
O residente que vai ingressar no serviço deve ter em mente que, a princípio, irá realizar trabalho braçal e repetitivo e não terá quase nenhuma autonomia para tomar decisões sozinho. Em geral, o R1 de GO cuida do pré-parto (acompanhando as parturientes e realizando os partos normais), atende no pronto-socorro e passa visita na enfermaria da maternidade.
A partir do segundo ano de residência, aumenta a responsabilidade! O R2 tem que ensinar e supervisionar o R1, e também começam os estágios nas subespecialidades, como mastologia.
No terceiro ano, na maioria dos serviços há uma redução da carga horária de plantões. Em contrapartida, ocorre uma cobrança ainda maior por parte da preceptoria, pois do R3 espera-se que saiba tomar conduta mesmo na indisponibilidade de um superior, que domine a técnica cirúrgica de procedimentos rotineiros (ex: cesárea e histerectomia) e que, ao mesmo tempo, esteja se preparando para uma subespecialização ou nova residência.
A escolha do serviço onde você irá realizar a residência é tão importante quanto a especialidade em si. No Brasil, temos os hospitais e maternidades que pertencem ou são conveniados ao SUS; os hospitais das grandes universidades (como os Hospitais das Clínicas e as Santas Casas); e outras instituições, como a rede privada, instituições de atendimento aos funcionários públicos etc. Cada tipo de serviço tem suas características, seu público, seu perfi l de profissional e de atividades exercidas pelos residentes. É importante atentar-se a essas peculiaridades, pois há diversos casos de desistência de residentes que não se adaptam ao ambiente de trabalho.
ÁREAS DE ATUAÇÃO
A grande vantagem da GO é a vasta gama de opções de atuação após a formação na residência médica, além das atividades já citadas anteriormente. Atualmente, estas são as áreas de atuação da GO reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM):
- Endoscopia ginecológica;
- Densitometria óssea;
- Medicina Fetal;
- Sexologia;
- Ultrassonografia em ginecologia e obstetrícia;
- Mastologia;
- Reprodução Humana.
Existem ainda outras subespecialidades que, apesar de não reconhecidas oficialmente, têm bastante espaço no mercado
- patologia do trato genital inferior,
- uroginecologia,
- oncologinecologia,
- endocrinologia ginecológica.
SEJA UM RESIDENTE EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
Você já escolheu a sua especialidade? Se encantou com GO? Pronto, agora é hora de começar a se preparar.
Os processos seletivos para Residência Médica estão cada vez mais concorridos. E você não pode esperar que a instituição dos sonhos lance o edital: se antecipe! Comece a estudar com a Sanar e seja aprovado ainda esse ano no programa dos seus sonhos.