Você conhece a Psicologia na Atenção Terciária, como dentro de hospitais? Confira um trecho do capítulo 06 nosso livro preparatório para Residências!
Psicologia na Atenção Terciária: Hospitais
A Psicologia Hospitalar foi reconhecida enquanto especialidade no ano 2000, através da resolução do CFP nº 14/00, e suas atribuições foram estipuladas pela resolução 03/2007, tendo o psicólogo hospitalar sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria (CASTRO e BORNHOLD, 2004).
Importante salientar a peculiaridade brasileira do termo Psicologia Hospitalar, que designa o trabalho do psicólogo no contexto hospitalar, não possuindo precedentes em outros países (TONETTO e GOMES, 2005). Segundo Castro e Bornhold (2004), essa nomenclatura é proveniente do foco, desde a década de 40, das políticas de saúde brasileiras no hospital, que priorizam as ações de saúde a partir da atenção secundária (modelo clínico assistencial) em detrimento das ações ligadas à saúde coletiva (modelo sanitarista). Atribuiu-se, assim, ao hospital o status de símbolo máximo do atendimento em saúde e, portanto, justificou-se o enquadramento das atividades realizadas por psicólogos na área da saúde sob esse rótulo.
Críticos a esse termo – psicologia hospitalar − o definem como inadequado porque consideram o local de prática para determinar as áreas de atuação, e não prioritariamente as atividades desenvolvidas, que seriam, a saber, psicólogo da saúde em contexto hospitalar. Em alguns outros países, a identidade do psicólogo especialista está associada à sua prática, e não ao local em que atua (CASTRO e BORNHOLD, 2004).
(…)
- Conceito
A Psicologia Hospitalar é o conjunto de contribuições científicas, educativas e profissionais que as diferentes disciplinas psicológicas fornecem para dar melhor assistência aos pacientes hospitalizados. Portanto, o psicólogo hospitalar é o profissional que reúne esses conhecimentos e técnicas e deve ofertá-las para a melhor assistência integral ao paciente, sem se limitar ao tempo específico da hospitalização, mas também o considerando. Seu trabalho se refere, fundamentalmente, ao reestabelecimento do estado de saúde do doente ou, ao menos, ao controle dos sintomas que prejudicam seu bem-estar (CASTRO E BORNHOLD, 2004).
(…)
Nas descrições supracitadas pode-se visualizar algumas das características das atribuições do psicólogo hospitalar, que estão detalhadas na resolução do CFP 03/2007, sendo as principais expostas a seguir:
- Atender a pacientes, familiares e/ou responsáveis pelo paciente, assim como a comunidade e equipe multiprofissional com foco no bem-estar físico e emocional do paciente;
- Oferecer e desenvolver atividades em diferentes níveis de tratamento, tendo como sua principal tarefa a avaliação e acompanhamento de intercorrências psíquicas dos pacientes;
- Promover intervenções direcionadas à relação da tríade médico-paciente-família;
- Promover intervenções ao paciente em relação ao processo do adoecer, hospitalização e repercussões emocionais que emergem neste processo;
- Ofertar atendimento a pacientes clínicos ou cirúrgicos, nas diferentes especialidades médicas;
- Desenvolver diferentes modalidades de intervenção, dependendo da demanda e da formação do profissional específico;
- Atuar em equipe multidisciplinar e participar de decisões em relação à conduta a ser adotada pela equipe, objetivando promover apoio e segurança ao paciente e família.
Descrito acima estão os aspectos essenciais da prática da psicologia hospitalar, alguns comuns a outras áreas da psicologia, como a assistência ao sofrimento psíquico do indivíduo na sua integralidade e outros específicos associados ao contexto da instituição hospitalar. As variáveis inerentes desse ambiente, como o tempo, o quantitativo de pessoas, o foco no adoecimento, os locais de atendimento, os meios diagnósticos etc., interferem decisivamente na atuação do psicólogo hospitalar.
1. A atuação do Psicólogo Hospitalar
Segundo Simonetti (2013), para identificar a situação-alvo de atuação no contexto hospitalar, o psicólogo deve realizar a investigação diagnóstica. O autor separa o processo em quatro eixos que permitem conhecer como o paciente reage frente à doença, sua condição clínica, seus aspectos psicológicos, sociais e culturais, e as relações estabelecidas a partir do lugar de adoecimento. Esses eixos foram nomeados respectivamente como diagnóstico relacional (eixo I), médico (eixo II), situacional (eixo III) e transferencial (eixo IV), estando suas características expostas no quadro 1 – Quadro de Investigação diagnóstica no contexto hospitalar.
Quadro 1 – Quadro de Investigação diagnóstica no contexto hospitalar
Eixos | Características |
I – Diagnóstico Relacional | Focaliza na posição que a pessoa assume em relação à doença: negação, revolta, depressão e enfrentamento. |
II – Diagnóstico Médico | Ação médica. Cabe ao psicólogo apropriar-se da doença do ponto de vista orgânico: tipo, condição aguda ou crônica, principais sintomas, tratamento proposto, medicação em uso, aderência ao tratamento, prognóstico, comorbidades etc. |
III – Diagnóstico Situacional | Mapeia os pontos que dificultam ou favorecem o enfrentamento da doença, propiciando uma visão panorâmica da vida do paciente. |
IV – Diagnóstico Transferencial | Avalia as relações em meio ao adoecimento com família, médico, equipe de enfermagem, instituição e psicólogo. |
*baseado em Alfredo Simonetti
Após a realização desse diagnóstico, o psicólogo hospitalar possuirá o mapa da doença do paciente, e poderá realizar uma intervenção mais eficaz e integrada, além de que o processo em si já possui efeitos terapêuticos (SIMONETTI, 2013). Sobre a atuação em si, Romano (1999) a separa didaticamente em três níveis: psicopedagógico, psicoprofilático e psicoterapêutico, sendo que estes se mesclam durante as ações.
2. Equipe multiprofissional A transição do modelo biomédico para o modelo biopsicossocial permitiu a inserção de profissionais das diferentes categorias de saúde no âmbito hospitalar, cada um portador de conhecimentos, habilidades técnicas e perspectivas distintas, mas com objetivo único da promoção da saúde. Para atingir a proposta de abarcar a integralidade do sujeito, evitando a fragmentação do modelo anterior, deve haver a articulação de ações, mas preservando as especificidades das categorias (ROMANO, 1999; BRUSCATO, BENEDETTI e LOPES, 2010). (…)
3. Locais de Atendimento O setting hospitalar é adverso à atividade psicoterapêutica tradicional, exigindo do profissional uma postura flexível com o objetivo de contornar as dificuldades desse ambiente, como as interrupções, adiamentos e cancelamentos. Há, ainda, nesse contexto, os diferentes locais de internação que têm o potencial para desencadear reações psíquicas. Portanto, para ajustamento de métodos e técnicas a cada local, mostra-se necessário o conhecimento de suas características físicas e administrativas (ROMANO, 1999; ALMEIDA e MALAGRIS, 2011).
3.1 Ambulatório
3.2 Emergência ou Pronto-Socorro
3.3 Unidade de Internação ou Enfermaria
3.4 Unidade de Terapia Intensiva – UTI
4. Modalidades de atendimento As modalidades de atendimento realizadas pelo psicólogo hospitalar são: individual, familiar e grupal. O atendimento individual se relaciona intimamente à prática tradicional do consultório, sendo o atendimento direto ao paciente, tendo o objetivo de propiciar a elaboração simbólica do adoecimento (SIMONETTI, 2004 apud ALMEIDA e MALAGRIS, 2011). (…)
Diante da realidade exposta, a postura do psicólogo hospitalar é imprescindível para uma inserção eficaz, pois necessitará ser flexível e criativo na sua prática. O profissional deve manter-se atento ao objetivo do atendimento, que é o acompanhamento e suporte aos aspectos psicológicos do adoecimento e hospitalização, e não às causas psicológicas (ALMEIDA e MALAGRIS, 2011), já que os aspectos emocionais podem alterar as reações e habilidades, modificando a aderência ao tratamento e possibilitando a tomada de decisões que influenciarão suas chances de sobreviver (ROMANO, 1999).
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