Todo Médico é rico. Será? [PARTE 1]
Analisando as receitas e despesas
Ainda nos dias de hoje grande parte da população visualiza a classe médica com distinção. E isso ocorre não apenas devido ao seu intelecto diferenciado ou porque salva vidas. Historicamente, médicos receberam, de maneira muito merecida, remuneração substancialmente maior a de outras profissões de nível superior. Mas como você bem sabe, a realidade financeira dos médicos tem mudado muito nos últimos anos. Existe uma clara percepção entre os profissionais da medicina que os ganhos elevados de outrora estão cada vez mais difíceis de conseguir, sendo que as despesas têm aumentado substancialmente, levando muitos colegas a se defrontarem com dificuldades financeiras, que décadas atrás eram nada comuns.
Ainda existe uma visão bastante disseminada de que médico é rico e muitos deles buscam manter esse status frente a seus pares e sociedade, elevando demasiadamente suas despesas, num momento em que as receitas estão depreciadas. Essa armadilha tem levado muitos profissionais a conviverem com perigosos níveis de endividamento ou até mesmo não conseguindo investir parte do que ganham para o futuro.
Nesse contexto, surgem algumas perguntas relevantes:
• O que fazer para se adaptar a essa nova realidade?
• É possível aumentar as receitas sem precisar trabalhar mais?
• Como diminuir o padrão de consumo sem alterar o bem estar pessoal e familiar?
• De que forma adquirir bons hábitos financeiros e decidir melhor, quando o assunto é dinheiro?
O Médico e suas finanças: Uma nova realidade
Fatores que afetam as receitas dos médicos
• Uma primeira característica, comum a todos os profissionais da medicina, é o grande hiato existente entre o ingresso na faculdade e início do recebimento de remuneração pelo trabalho. São seis anos de faculdade, mais outros tantos para cursos preparatórios objetivando a residência, até que a primeira receita seja percebida. Isso significa que
a vida financeira para quem ingressa em uma faculdade de medicina
será de muitas despesas e nenhuma receita, durante aproximadamente
uma década;
• Existe uma percepção bastante generalizada de que tem havido, nos
últimos anos, um “achatamento” da remuneração média dos profissionais de medicina – em muitos casos o crescimento das receitas
tem perdido até mesmo da inflação. Para tentar explicar tal cenário,
sugerimos algumas possibilidades:
- perda do poder de barganha da classe médica frente aos planos de saúde;
b) maior concorrência com outros médicos dada a grande proliferação de faculdades de medicina no Brasil;
c) remunerações relativamente baixas para aqueles que escolhem trabalhar no serviço público;
d) necessidade de pagamento de uma carga crescente de impostos;
e) para médicos recém-formados, por não ainda ter construído uma reputação, muitas vezes é preciso aceitar remunerações menores até que consiga subir de patamar;
• Uma fonte possível de receita é aquela advinda dos investimentos realizados. E, nesse ponto, verificamos que diversos médicos não conseguem guardar dinheiro e, mesmo aqueles que separam parte de suas receitas para investimentos, ainda se limitam a produtos tradicionais como Caderneta de Poupança, CDBs e Imóveis. Não existe uma cultura de construção de carteira de investimento, que permita uma adequada administração de riscos, aumento da rentabilidade e conciliação de cada investimento com os objetivos de curto, médio e longo prazos.
Fatores que afetam as despesas dos médicos
Além das receitas, buscamos também identificar os principais elementos que influenciam as despesas de um médico. O objetivo é que você possa perceber a influência de cada um deles em suas finanças e ir se preparando para mudanças importantes em seus hábitos e decisões, a serem sugeridas ao longo desse livro. Vamos a eles:
• Para quem inicia a carreira médica, ainda na faculdade, uma questão é evidente: todo o processo de formação acadêmica não é nada barato. Ou seja, aliada à característica anteriormente discutida, de passar muitos anos sem obter receitas, as despesas são vultosas;
• Atualmente, grande parte dos médicos recém-formados vem de instituições de ensino privadas, sendo que as mensalidades desses cursos estão entre as mais altas, quando comparadas às de outros cursos de nível superior. Tal realidade pressiona as despesas para cima e pode ser vista como uma das razões que levam muitos médicos a iniciarem suas carreiras, já endividados;
• Quando o médico trabalha como pessoa jurídica, é interessante que, periodicamente, faça provisões para o equivalente ao seu décimo-terceiro e previdência. Ou seja, que separe um dinheiro para as festas e viagens de fim de ano, além de investir certa quantia para a aposentadoria. Visto como pessoa física, isso seria receita/investimento para o médico, mas para sua pessoa jurídica esta deve ser encarada como uma importante fonte de despesa;
• Apesar de um cenário financeiro cada vez mais complicado, muitos profissionais insistem em manter um padrão de vida acima do razoável. Para esses, não basta ser competente. É preciso demonstrar o sucesso alcançado para seus pacientes, seus pares, amigos, familiares, e até para si. E tal demonstração geralmente é realizada através da aquisição de bens de consumo e serviços como: moradia e consultório em regiões luxuosas, carros de primeira linha, aparelhos eletrônicos de última geração, jantares em restaurantes caríssimos, viagens a passeio constantes, roupas de grife e por aí vai. Em resumo, para sustentar o “status” de ser médico, aceita um nível de despesa altíssimo;
• Devido à excessiva carga de trabalho, muitos médicos possuem o seguinte pensamento: “trabalho tanto, logo, mereço tudo do bom e do melhor”. Em outras palavras, para recompensar as intermináveis horas de trabalho, acaba gastando muito além do razoável;
• Para aqueles que decidem montar um consultório, existem gastos com compra/locação do imóvel, mobília, equipamentos, funcionários, dentre outros;
• A educação continuada, através de cursos, aquisição de livros, pós-graduação e congressos, além das anuidades do CRM e associações de especialidades, são outras fontes relevantes de despesas;
• Por fim, existem aqueles desembolsos que são comuns a todas as pessoas, como, por exemplo, educação dos filhos, alimentação etc. Expostos cada um desses fatores, podemos concluir que existem aqueles que podem ser classificados como “não controláveis”, sendo um exemplo a característica de apresentar elevados gastos durante o processo de formação acadêmica. Mas ainda há aquelas despesas que dependem exclusivamente da maneira de pensar e agir do médico, como a “necessidade” de manter elevado nível de despesas para compensar longas horas trabalhadas. Nesse contexto, o tópico a seguir terá como finalidade aprofundarmos em alguns aspectos paradigmáticos e comportamentais que podem atrapalhar sobremaneira a adequada administração das finanças pessoais.
RESUMINDO
• É preciso que você adeque seus paradigmas e comportamentos financeiros a uma nova realidade da profissão médica, em que as receitas estão cada vez mais “achatadas” e as despesas se elevando;
• Não deixe com que o “status” de ser médico prejudique suas finanças;
• Aprenda a administrar seu dinheiro para que não seja necessário trabalhar em demasia, de forma que isso atrapalhe outras dimensões de sua vida;
• Ter controle em relação às fi nanças também trás consequências positivas no campo profi ssional, uma vez que a mente fi ca livre para apenas focar no relacionamento com os pacientes;
• O desenvolvimento de competência fi nanceira significa não só ter conhecimento sobre como gerenciar o próprio dinheiro, mas também desenvolver habilidades e atitudes para colocar em prática bons hábitos e tomar boas decisões;
• Uma mudança de paradigma financeiro, encarando riqueza como “liberdade de escolhas”, resultará em uma nova maneira de encarar sua relação com o dinheiro, racionalizando as decisões diárias com o objetivo de focar as energias no que é realmente importante, tratar dos seus pacientes.
Trecho adaptado do Livro Investimentos para Médicos: Deixe o dinheiro dar plantão por você.