Alexandre da Silva Martins, 44, tem longa experiência em concursos. Hoje ele ocupa um cargo de técnico do Ministério Público em Barra Mansa (RJ), mas diz que já perdeu a conta de quantas provas fez desde 1994, quando prestou seu primeiro. “Foram mais de 20. Fui convocado para uns dez, e tomei posse em sete ou oito”, afirma.
Ele diz que, desde 2004, utiliza uma prática diferente para ajudar em seus estudos: a hipnose.
“A hipnose é uma técnica de atenção concentrada”, afirma Miriam Farias, psicóloga especialista em hipnose clínica. Entre os benefícios, ela diz, pode combater o estresse, a ansiedade e ajudar na confiança.
Alexandre Martins foi um de seus pacientes. Ele conta que a hipnose o ajudou a gastar menos tempo nos estudos. “Antes, não tinha técnica para manter a atenção. Vinham outros pensamentos, perdia a concentração”, afirma.
Guilherme Raggi, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose e Estados Alterados da Consciência do Instituto de Psicologia da USP, concorda que a hipnose pode ajudar quem está prestrando concursos. Ele afirma que ela é uma técnica auxiliar, como ioga e meditação, e não tem contraindicação.
Perda de consciência é um mito
Diferentemente do que é retratado em filmes e programas de TV, a hipnose não faz com que uma pessoa se comporte como uma galinha ao comando do hipnotizador. A prática clínica não tem ligação com a hipnose de palco. A ideia de que a pessoa hipnotizada não tem mais controle sobre seu corpo e suas decisões é um mito, diz Miriam Farias.
“A hipnose é um estado intermediário entre o sono e a vigília”, afirma a psicóloga. Assim, o hipnotizado ainda sabe o que está acontecendo e depois consegue lembrar o que se passou durante a sessão.
“Geralmente é simples. A pessoa fica deitada e tem de desviar sua atenção para algo específico, como a respiração. Também pode mentalizar algo que quer, como ir bem em um concurso ou se livrar de um hábito ruim, como fumar”, afirma Guilherme Raggi, que faz mestrado sobre o tema. “Ninguém é hipnotizado sem querer”.
Segundo ele, a hipnose depende muito mais do paciente. O que a pessoa pensa sobre a hipnose também influencia o tratamento. “Se ela não acredita na prática, acha que vai ser ruim ou que é ridículo, é mais difícil de funcionar”.
Hipnose não ajuda na memória
Raggi também diz que a hipnose não traz benefícios para a memória. “Décadas de pesquisas mostram que ela não ajuda a lembrar, seja fatos que aconteceram no passado, seja no estudo para concursos”, afirma. “Mesmo que isso aconteça, é muito pouco e de maneira passageira”.
Ele afirma que a confiança gerada pela hipnose pode até dar a impressão ao paciente de que sua memória melhorou, mas o benefício direto na lembrança não tem suporte na literatura especializada.
Prática foi reconhecida por diversos campos da saúde
O Conselho Federal de Psicologia aprovou e regulamentou o uso da hipnose em 2000. Um ano antes, o Conselho Federal de Medicina tinha reconhecido a prática.
Na odontologia, ela é aceita como ferramenta clínica desde 1993 e foi aprovada pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional em 2010.
Por outro lado, encontrar profissionais capacitados na área pode não ser tão simples. “Isso é uma questão delicada. Não tem uma regulamentação forte sobre quem pratica hipnose. Infelizmente, muitos cursos são oferecidos sem a necessidade de um diploma universitário”, afirma Guilherme Raggi.
Segundo ele, a dica fundamental é sempre procurar alguém da área de saúde, além, claro, de conhecer bem o profissional.
Fonte: UOL