Texto publicado originalmente a 18 de outubro de 2013
Como médico e professor universitário, que também trabalha no SUS, tenho tido a oportunidade de observar uma mudança radical na forma como a sociedade vê os médicos brasileiros.
Estamos presenciando um fenômeno social muito preocupante, que tem afetado de forma devastadora o ânimo e a autoestima dos estudantes de medicina e até mesmo de alguns colegas mais maduros e experientes.
Muitos alunos estão descrentes com a carreira e preocupados com o seu futuro profissional, alguns pensando até em desistir da profissão, antes mesmo de iniciar a sua prática profissional.
Esse sentimento é justificado pelas constantes campanhas publicitárias, veiculadas por alguns meios de comunicação de massa, que vêm investindo pesado contra a classe médica, jogando toda a culpa pela péssima qualidade dos serviços públicos nacionais de saúde em nossas costas.
O objetivo deste tipo de política difamatória foge do objetivo dessa análise. Para os mais esclarecidos, já está mais do que claro que é uma estratégia utilizada para o atual governo tentar vencer as próximas eleições .
Gostaria também de relembrar aos estudantes de medicina e aos jovens médicos de nosso imenso país que nossa luta não é e nem nunca será fácil, e que todo médico já deveria estar acostumado com os sacrifícios que acompanham a escolha de nossa profissão.
Desde o momento em que optamos por fazer o curso de medicina trazemos para a nossa vida uma série de obstáculos a serem transpostos.
O vestibular é muito concorrido, o nível dos candidatos é elevado, nossa profissão nos obriga a tratar os mais variados tipos de mazelas e doenças , que muitas vezes acabam por também machucar as almas de quem as trata.
Além disso, em alguns momentos de nossas vidas profissional, ainda seremos obrigados a levar a triste notícia do falecimento para alguns pais, mães, irmãos, filhos e amigos desesperados.
Isso dói muito.
Em um passado não muito distante, éramos respeitados pela comunidade brasileira , que de uma certa forma, sentia-se agradecida pelo nossos serviços e além disso, ainda não nos responsabilizava pelo total abandono da saúde pública brasileira.
Não vou negar que esse respeito e gratidão acabaram me fazendo escolher esta bonita e importante profissão.
Toda família sentia um enorme orgulho ao ver o seu filho vestido de branco preparando-se para ir para a faculdade de medicina.
Porém, os tempos são outros, enfrentamos atualmente um novo cenário, mais desfavorável e injusto.
Quando algum pai de estudante de cursinho ou mesmo um aluno me perguntam o que penso sobre o futuro de nossa classe, sou obrigado a confessar que, apesar de todas as dificuldades, não escolheria outra profissão.
Ser médico realmente não é fácil, é uma grande responsabilidade. Principalmente agora, com toda a campanha difamatória do atual governo.
Porém, não devemos nos acomodar e aceitar passivamente tal situação, devemos lutar com força, fé e determinação para mudar o mais rápido possível essa triste realidade .
Acredito que somos uma categoria especial de profissionais, não porque somos SUPER-HERÓIS, mas porque, apesar de feitos de carne e ossos, de termos sentimentos, sentirmos dores, ficarmos doentes, termos medo, tristeza, cansaço, problemas financeiros e familiares, somos obrigados a esquecer de tudo quando vamos à luta, entregando-nos de “corpo e alma” para podermos tratar de nossos pacientes.
Por fim, concluiria dizendo a todos os jovens que desejam cursar medicina, aos próprios estudantes de medicina e aos jovens médicos em geral que, apesar de tentarem nos humilhar, nos desvalorizar, nos desonrar perante a nossa população, ninguém tirará de nós aquele sentimento nobre, único e gratificante de termos salvo uma vida, de termos amenizado a dor de uma enfermidade, de termos visto a alegria de um pai e de uma mãe no momento do nascimento de seu tão esperado filho.
ISSO NOS FAZ REALMENTE ESPECIAIS.
Por isso, continuo afirmando, que apesar de tudo o que acabei de relatar e de todas as dificuldades que estamos enfrentando, vale sim, muito a pena ser médico.
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